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segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Carta-patente do Sargento-mor Francisco Ferreira Pedrosa


Projeto Dezessete e Setecentos: Documentos Raros sobre os Sertões do Ceará – Século XVIII
             
                                                                              Heitor Feitosa Macêdo
        
         No mês de outubro de 2019, fui contatado por um pesquisador chamado Michel (Mibson Michel Santiago Ramos) o qual procurava informações sobre a família Garro(s) da Câmara. Na verdade, andava ele no encalço de indivíduos que viveram no início do século XVIII no interior do Nordeste e que tiveram passagem pela capitania do Ceará.
         Michel, apesar de engenheiro, nutre grande entusiasmo pela pesquisa histórica, em especial, pela genealógica. Por certo, ele não é o único profissional liberal que sofre deste mal irremediável! Tendo eu a mesma paixão pela pesquisa, apesar de ser um advogado com banca mui modesta, resolvi tentar ajuda-lo nesta “empreitada”.
         Logo nos primeiros contatos, o dito engenheiro-genealogista me apresentou ao pesquisador Jorge Augusto Nascimento Nogueira de Sousa, carioca com sangue nordestino. Daí em diante, resolvemos abrir dos peito e escarafunchar nossos arquivos na tentativa comum de encontrar os benditos Garro(s). Frei de Jaboatão, Borges da Fonseca, Pedro Calmon, Barão de Studart e tantos outros clássicos da genealogia e da pesquisa histórica passaram pelo nosso crivo.
         Vagando pelos séculos transatos, nos deslocamos para os 1500, 1600 até esbarrar nos setecentos, sempre com muita sofreguidão de ter debaixo dos nossos olhos o tão desejado objeto de estudo. Impacientes, buscamos ajuda de algumas pessoas, contudo, as portas nos bateram nas ventas. Apesar dos percalços, procuramos as alternativas possíveis, seguindo pistas tênues, quase apagadas nas sombras do tempo.       
         Há quem não acredite na força que possui a união humana para fazer o bem! Também há céticos que duvidam da paixão pela pesquisa, e a todo esforço ou boa ideia costumam atribuir valores pecuniários, sempre receosos de possíveis prejuízos financeiros ou com pavor da possibilidade de não poderem mais ser os arautos do ineditismo documental.
         Diante da desconfiança e do individualismo, de moto próprio e as nossas próprias expensas, resolvemos disponibilizar, gratuitamente, nossos achados, verdadeiros tesouros que repousavam em arquivos distantes dos sertões onde foram produzidos.
         Assim, apresentaremos ao público parte da primeira etapa deste esforço de digitalização e transcrição paleográfica de documentos referentes aos sertões cearenses dos idos de 1700, posto que a ciência histórica, antropológica, geográfica, arqueológica e outras pouco avançaram sobre os mistérios deste período.  
         Por último, cabe explicar que o nome que batiza este projeto “Dezessete e Setecentos” é inspirado no título e letra de uma das músicas cantadas por Luiz Gonzaga, tendo sido o termo mais apropriado para resumir o contexto de tudo que foi dito acima.            

Carta-patente do Sargento-mor Francisco Ferreira Pedrosa

            Francisco Ferreira Pedrosa pertencia à família dos Albuquerque Cavalcanti, com raízes na Paraíba, tendo migrado para o Ceará durante a Guerra dos Bárbaros. Neste último lugar, alcançou muitas concessões de terras (sesmarias), que ele mesmo havia ajudado a tomar aos índios, a exemplo de boa parte dos territórios de Santana do Cariri e Nova Olinda.
         Contraiu casamento com Josefa Alves Feitosa, filha do coronel Francisco Alves Feitosa, deixando larga descendência.

Dados do Documento

• carta-patente de oficial da Ordenança
• posto de sargento-mor da Cavalaria da Ribeira do Quixelou e Inhamuns
• posto ocupado anteriormente: capitão de cavalos
• regimento do coronel Francisco Alves Feitosa (sogro)
• anterior ocupante: não
• obrigação de confirmação pelo governador de PE: prazo de 6 meses
• lugar onde foi concedida: Icó (Arraial de Nossa Senhora do Ó)
• data: 29 de junho de 1719
• autoridade concedente: Salvador Alves da Silva

Transcrição Paleográfica

          
Rezisto dapatente do Sarg.to Mor Fran.co Frr.a/ Pedroza
Salvador Alz´ daSylva Cavaleiro profeço daordem denosso Sr./ Jezus christo Cap.m Mayor daCapitania doCeará gr.de aCujo car/ go está ogoverno della por Sua Mag.de Deos g.de etta Faço saber/ aos q esta carta patente virem q por quanto seacha vago oposto/ de Sarg.to mor daCavalaria daRibr.a do Quixalô eInhamus do Regimento/ do Coronel Fran.co Alz´ Feitoza e convir provello empecoa de/ satisfaçaò e merecimentos tendo eu Respeito a que todos estes Requizi/ tos concoRem na peçoa de Fran.co Frr.a Pedroza pello bem que tem Ser/ vido a Sua Mag.e que Deus g.e nesta capitania nas oCazioiz que [fl 01]


que setem oferecido ao Serviço do d.o Snor da campanha/ de Tropas que tem sido afazer guerra ao gentio barbaro Levantado/ vindo muitas vezes por cabo dellas com grande Risco de vida, edespendio/ de Sua fazenda nas quais oCazioiz Seouve Sempre com muy grande/ vallor ezello do Rial Serv.o tendo ocupado oposto deCapitaó [de] ca/ vallos nesta Capitanya e por esperar delle que daqui emdiante Se/ ra damesma maneyra em.to como deve, eConfiança que faço seSua/ pessoa, epella nova ordem q tenho deSua Mag.de em carta de dezassete/ de Dezassete de Dezbr.o demil e Sete centos equinze emq medà/ faculdade para poder prover todos ospostos das ordenanças milita/ res desta Capitanya: Hey por bem deoeleger, enomear (como p.la/ prezente elejo, enomeyo) noposto de Sarg.to Mor daCapitania da Ribr.a/ do Quixalo, Inhamus do Regim.to deq heCoronel Fran.co Alz´ Feitoza/ com oq.l gozarà de todas as honras, graças, franquezas Liberdades/ previlegios inxençoiz´. q em Razaó do d.o posto lhe pertensserem do/ q´. podera dentro de seis meses Requerer aConfiraçaó p.lo Gv.or de/ Pern.co: pello que ordeno aod.o Coronel lhede a posse ejuramento na/ forma custumada eaos off.s eSoldados Seus Subordinados conhe/ çam aod.o Fran.co Frr.a Pedroza pello tal Sarg.to Mor elheobe/ deSam cumpraó egoardem sua ordenz´, tanto depalavra como/ por escripto, tam pontual e inteiramente como devem e sam o/ brigados q por firmeza daq.l lhemandey passar a prezente por/ mim aSignada eCellada com o Signete deminhas armas aq.l/ Rezistara nos Livros daSecretaria deste governo, enosmais aque tocar. Dada neste ARayal denossa Snr.a do Ò aos vinte e nove [borrado]/ do mês deJunho eeu Manoel de Miranda afis anno de mil/ eSetecentos edezanove. Salvador Alz´. da Sylva. estava o cello [fl. 02].    


(Imagens/Fonte: Biblioteca Nacional do Brasil).

Carta-patente do Coronel Lourenço Alves Penedo e Rocha


Projeto Dezessete e Setecentos: Documentos Raros sobre os Sertões do Ceará – Século XVIII
             
                                                                              Heitor Feitosa Macêdo
        
         No mês de outubro de 2019, fui contatado por um pesquisador chamado Michel (Mibson Michel Santiago Ramos) o qual procurava informações sobre a família Garro(s) da Câmara. Na verdade, andava ele no encalço de indivíduos que viveram no início do século XVIII no interior do Nordeste e que tiveram passagem pela capitania do Ceará.
         Michel, apesar de engenheiro, nutre grande entusiasmo pela pesquisa histórica, em especial, pela genealógica. Por certo, ele não é o único profissional liberal que sofre deste mal irremediável! Tendo eu a mesma paixão pela pesquisa, apesar de ser um advogado com banca mui modesta, resolvi tentar ajuda-lo nesta “empreitada”.
         Logo nos primeiros contatos, o dito engenheiro-genealogista me apresentou ao pesquisador Jorge Augusto Nascimento Nogueira de Sousa, carioca com sangue nordestino. Daí em diante, resolvemos abrir dos peito e escarafunchar nossos arquivos na tentativa comum de encontrar os benditos Garro(s). Frei de Jaboatão, Borges da Fonseca, Pedro Calmon, Barão de Studart e tantos outros clássicos da genealogia e da pesquisa histórica passaram pelo nosso crivo.
         Vagando pelos séculos transatos, nos deslocamos para os 1500, 1600 até esbarrar nos setecentos, sempre com muita sofreguidão de ter debaixo dos nossos olhos o tão desejado objeto de estudo. Impacientes, buscamos ajuda de algumas pessoas, contudo, as portas nos bateram nas ventas. Apesar dos percalços, procuramos as alternativas possíveis, seguindo pistas tênues, quase apagadas nas sombras do tempo.       
         Há quem não acredite na força que possui a união humana para fazer o bem! Também há céticos que duvidam da paixão pela pesquisa, e a todo esforço ou boa ideia costumam atribuir valores pecuniários, sempre receosos de possíveis prejuízos financeiros ou com pavor da possibilidade de não poderem mais ser os arautos do ineditismo documental.
         Diante da desconfiança e do individualismo, de moto próprio e as nossas próprias expensas, resolvemos disponibilizar, gratuitamente, nossos achados, verdadeiros tesouros que repousavam em arquivos distantes dos sertões onde foram produzidos.
         Assim, apresentaremos ao público parte da primeira etapa deste esforço de digitalização e transcrição paleográfica de documentos referentes aos sertões cearenses dos idos de 1700, posto que a ciência histórica, antropológica, geográfica, arqueológica e outras pouco avançaram sobre os mistérios deste período.  
         Por último, cabe explicar que o nome que batiza este projeto “Dezessete e Setecentos” é inspirado no título e letra de uma das músicas cantadas por Luiz Gonzaga, tendo sido o termo mais apropriado para resumir o contexto de tudo que foi dito acima.            

Carta-patente do Coronel Lourenço Alves Penedo e Rocha

            Lourenço Alves Penedo e Rocha era filho do comissário-geral Lourenço Alves Feitosa e da esposa deste, Antonia de Oliveira Leite.
         Seu pai era irmão do coronel Francisco Alves Feitosa e haviam eles migrado de Penedo (atualmente Alagoas, e, ao tempo, pertencente a Pernambuco) para a capitania do Ceará, no início do século XVIII. Inicialmente, alocaram-se no Arraial do Icó e, posteriormente, nos sertões dos Cariris Novos e Inhamuns. Como a maioria dos brancos da época que invadiam aqueles territórios, estavam em acirrada luta com os índios, comumente chamados de “tapuias bárbaros”.
         Em 1724, todos eles se envolveram numa guerra civil que tinha como uma de suas motivações a posse e propriedade da terra. Ressalte-se que seu pai havia cumulado o maior número de doações sesmariais em toda a capitania cearense, alcançando 23 sesmarias, isto é, fazendas imensas, origem dos latifúndios.
         Nesta guerra com os Montes, Mendes Lobato e outros, o grupo dos Feitosa sofreu algumas baixas, entre elas a do coronel Lourenço Alves Penedo e Rocha, que veio a ser morto durante um dos combates, conforme o documento inédito que publiquei na revista Itaytera nº 48 (2019, p. 63).

Dados do Documento

• carta-patente de oficial da Ordenança
• posto de coronel dos Pardos da Ribeira dos Icós e Inhamuns
• regimento do mesmo coronel
• anterior ocupante: Teodósio Nogueira
• obrigação de confirmação pelo Rei: prazo de 1 ano
• lugar onde foi concedida: Fortaleza
• data: 17 de agosto de 1721
• autoridade concedente: Salvador Alves da Silva

Transcrição Paleográfica

                         
Rezisto dapatente de Coronel dos Pardos da/ Ribeira dos Icos [duas palavras ilegíveis] de Lourenço/ ALz̓ Penedo e Rocha [fl. 01]


Salvador ALz̓. daSilva cavaleiro profeço da ordem de cris/ to cap.m Mor daCapitanya doSeara grande a cujo cargo/ esta ogoverno della per sua Mag.e q Ds g.e etc faco Saber aos q esta/ carta patente virem q por coanto esteja vago oposto de coro/ nel dos pardos da Ribeira dos icos Inhamus por ausencia/ de Theodozio Nogueira q oservia econvir [por ser dita]/ pessoa de satisfacam e meresim.to e tendo eu Respeito aq/ estes Requezitos com correm napesoa de Lourenso aLz̓. feitoza/ digo penedo eRocha pello bem q tem Servido asua mag.de/ nesta Cap.ta achandose em varias tropas q tem saido afazer/ guerra [ao gentio] barbaros com m.to Risco de vida e dyspendio/ deSua fazenda a vendo sempre com m.t vallor eobediencia/ aos Seus ofeseais em tudo oq lhe era em carregado doRial Servi/ so e por esperar delle q daqui em diante seavera damesma/ maneira e m.to como deve econfiança q faço de sua peso/ a Hey porbem de eLeger e nomear como pello prezente elejo/ e nomeio no posto de coronel dos pardos dos icos [duas palavras ilegíveis] pella/ ordem q tenho de sua mag.de com ocoal gozara detodas on/ as preminensias [zensoins] liberdades q em rezaò dodito posto lhe/ pertenserem eporesta lhe hei dado apose ejuram.to [palavra ilegível]/ confirmasaó por Sua Mag.de entermo de hum anno pello/ q ordeno atodos os ofeseais e Soldados Seus subordinados [lhe]/ [obedesam] cumpran egoardem suas ordens depalavras e/ por escrito tan pontual emteiram.te como devem e sao/ obrigados q pera firmeza da coal lhe mandei pasar apz.e/ por mim asenada e sellada com osenete de minhas Armas/ a coal se cumprira egoardara tam pontual e imteira/ m.te como nella se [constara?] e se Rezistrara nos Livros desta [palavra ilegível]/ mais a que tocar dada e passada neste Sitio da fortale/ za de nosasnhora da Sumpcaó. aos 17 de agosto deste [1721]/ Salvador Alz´ daSilva// tenha osello [fl. 02]  

(Imagens/Fonte: Biblioteca Nacional do Brasil).

Carta-patente do Capitão Domingos Duarte Passos


Projeto Dezessete e Setecentos: Documentos Raros sobre os Sertões do Ceará – Século XVIII
             
                                                                              Heitor Feitosa Macêdo
        
         No mês de outubro de 2019, fui contatado por um pesquisador chamado Michel (Mibson Michel Santiago Ramos) o qual procurava informações sobre a família Garro(s) da Câmara. Na verdade, andava ele no encalço de indivíduos que viveram no início do século XVIII no interior do Nordeste e que tiveram passagem pela capitania do Ceará.
         Michel, apesar de engenheiro, nutre grande entusiasmo pela pesquisa histórica, em especial, pela genealógica. Por certo, ele não é o único profissional liberal que sofre deste mal irremediável! Tendo eu a mesma paixão pela pesquisa, apesar de ser um advogado com banca mui modesta, resolvi tentar ajuda-lo nesta “empreitada”.
         Logo nos primeiros contatos, o dito engenheiro-genealogista me apresentou ao pesquisador Jorge Augusto Nascimento Nogueira de Sousa, carioca com sangue nordestino. Daí em diante, resolvemos abrir dos peito e escarafunchar nossos arquivos na tentativa comum de encontrar os benditos Garro(s). Frei de Jaboatão, Borges da Fonseca, Pedro Calmon, Barão de Studart e tantos outros clássicos da genealogia e da pesquisa histórica passaram pelo nosso crivo.
         Vagando pelos séculos transatos, nos deslocamos para os 1500, 1600 até esbarrar nos setecentos, sempre com muita sofreguidão de ter debaixo dos nossos olhos o tão desejado objeto de estudo. Impacientes, buscamos ajuda de algumas pessoas, contudo, as portas nos bateram nas ventas. Apesar dos percalços, procuramos as alternativas possíveis, seguindo pistas tênues, quase apagadas nas sombras do tempo.       
         Há quem não acredite na força que possui a união humana para fazer o bem! Também há céticos que duvidam da paixão pela pesquisa, e a todo esforço ou boa ideia costumam atribuir valores pecuniários, sempre receosos de possíveis prejuízos financeiros ou com pavor da possibilidade de não poderem mais ser os arautos do ineditismo documental.
         Diante da desconfiança e do individualismo, de moto próprio e as nossas próprias expensas, resolvemos disponibilizar, gratuitamente, nossos achados, verdadeiros tesouros que repousavam em arquivos distantes dos sertões onde foram produzidos.
         Assim, apresentaremos ao público parte da primeira etapa deste esforço de digitalização e transcrição paleográfica de documentos referentes aos sertões cearenses dos idos de 1700, posto que a ciência histórica, antropológica, geográfica, arqueológica e outras pouco avançaram sobre os mistérios deste período.  
         Por último, cabe explicar que o nome que batiza este projeto “Dezessete e Setecentos” é inspirado no título e letra de uma das músicas cantadas por Luiz Gonzaga, tendo sido o termo mais apropriado para resumir o contexto de tudo que foi dito acima.            

Carta-patente do Capitão Domingos Duarte Passos

            Pouco ou nada se conhece sobre o capitão Domingos Duarte Passos, pelo menos, até o presente, não encontramos nenhum outro registro além dessa carta-patente.
         De uma primeira conversa com o pesquisador George Ney, passamos a suspeitar que Domingos Duarte Passos seja irmão do tenente-coronel Bernardo Duarte Pinheiro, bem como dos capitães Manuel Duarte Passos e Agostinho Duarte Pinheiro.

Dados do Documento

• carta-patente de oficial da Ordenança
• posto de capitão do Distrito da Ribeira do Cariri
• regimento do coronel João da Fonseca Ferreira
• anterior ocupante: Antônio Martins
• obrigação de confirmação pelo governador de PE: prazo de 6 meses
• lugar onde foi concedida: Fortaleza
• data: 8 de maio de 1719
• autoridade concedente: capitão-mor do CE Salvador Alves da Silva

Transcrição Paleográfica


Rezisto da patente doCap.m Domingos/ Duarte PaSsos
Salvador Alz̓. daSylva cavaleiro profeço daordem de-/ nosso Snor̓ JEsus christo cap.m Mayor daCapitania doCeara/ grande aCujo cargo está ogoverno della por sua Mag.e q/ Deos g.e etta Fasso saber aosque esta carta patente vir/ quepor coanto seacha vago oposto deCapitam do destrito/ da Rebr.a do Caryry por auzencia deAnt.o Miz̓ q oexerssia/ eConvir provello empessoa de Satisfaçaò emiricimentos:/ tendo eu Respeito aq todos estes Requezitos concoRem nap[essoa]/ de Domingos Duartte PaSsos pello bem que tem Servido aSua/ Mag.de q Deos g.e em todas as ocaziois q selhetem offereçido o [Ser/viço] dod.o Snor´ epor esperar delle q daqui emdiante Seavera/ damesma maneyra em.to como deve aConfiança que faço/ da Sua pecoa: Hey por bem deoeleger, enomear (como [fl. 01]


Como pella prezente oelejo enomeyo) noposto de Cap.m/ do destrito doCaryrydeq hè Coronel Joaó da Fon.ca Ferr.a por auz.a/ deAntonio Miz´ emvirtude da faculdade que Sua Mag.de me-/ concede emcarta de dezassete de Dezbr.o demil setecentos equinze/ para poder prover todos ospostos das ordenanças militares desta/ Capitanya com o qual posto gozrà detodas asonras graças fran-/ quezas Liberdades previlegios eexençoes q em Razam do d.o posto/ lhepertensserem daqual podera haver aConfirmaçaò dentro deseis/ mezes pello governador de Pernambuco pello que ordeno aod.o Coro-/ nel lhedeposse eiuramento naforma custumada eaos off.s esol-/ dados Seus subordinados o conhessam por tal Cap.m elhe obede-/ ssam, cumpram egoardem suas ordens´ tanto depalavra como/ por escrito tam pontual eintr.a mente como devem esam o-/ brigados epara firmeza daqual lhe mandey passar aprezente/ por mim aSignada eCellada com oSignette de minhas armas/ aqual se Rezistarà nosLivros daSecret.a deste governo, enos-/ mais aquetocar. Dada neste Citio da Fortaleza de nosa/ Snr.a da ASumpçao̓ aos oito dias do mês deMayo eu M.el/ deMiranda afis anno demilesete centos edezanove./ Salvador Alz´da Sylva/ estava oCello [fl. 02].

(Imagens/Fonte: Biblioteca Nacional do Brasil).

Carta-patente do Tenente-coronel Bernardo Duarte Pinheiro


Projeto Dezessete e Setecentos: Documentos Raros sobre os Sertões do Ceará – Século XVIII
             
                                                                              Heitor Feitosa Macêdo
        
         No mês de outubro de 2019, fui contatado por um pesquisador chamado Michel (Mibson Michel Santiago Ramos) o qual procurava informações sobre a família Garro(s) da Câmara. Na verdade, andava ele no encalço de indivíduos que viveram no início do século XVIII no interior do Nordeste e que tiveram passagem pela capitania do Ceará.
         Michel, apesar de engenheiro, nutre grande entusiasmo pela pesquisa histórica, em especial, pela genealógica. Por certo, ele não é o único profissional liberal que sofre deste mal irremediável! Tendo eu a mesma paixão pela pesquisa, apesar de ser um advogado com banca mui modesta, resolvi tentar ajuda-lo nesta “empreitada”.
         Logo nos primeiros contatos, o dito engenheiro-genealogista me apresentou ao pesquisador Jorge Augusto Nascimento Nogueira de Sousa, carioca com sangue nordestino. Daí em diante, resolvemos abrir dos peito e escarafunchar nossos arquivos na tentativa comum de encontrar os benditos Garro(s). Frei de Jaboatão, Borges da Fonseca, Pedro Calmon, Barão de Studart e tantos outros clássicos da genealogia e da pesquisa histórica passaram pelo nosso crivo.
         Vagando pelos séculos transatos, nos deslocamos para os 1500, 1600 até esbarrar nos setecentos, sempre com muita sofreguidão de ter debaixo dos nossos olhos o tão desejado objeto de estudo. Impacientes, buscamos ajuda de algumas pessoas, contudo, as portas nos bateram nas ventas. Apesar dos percalços, procuramos as alternativas possíveis, seguindo pistas tênues, quase apagadas nas sombras do tempo.       
         Há quem não acredite na força que possui a união humana para fazer o bem! Também há céticos que duvidam da paixão pela pesquisa, e a todo esforço ou boa ideia costumam atribuir valores pecuniários, sempre receosos de possíveis prejuízos financeiros ou com pavor da possibilidade de não poderem mais ser os arautos do ineditismo documental.
         Diante da desconfiança e do individualismo, de moto próprio e as nossas próprias expensas, resolvemos disponibilizar, gratuitamente, nossos achados, verdadeiros tesouros que repousavam em arquivos distantes dos sertões onde foram produzidos.
         Assim, apresentaremos ao público parte da primeira etapa deste esforço de digitalização e transcrição paleográfica de documentos referentes aos sertões cearenses dos idos de 1700, posto que a ciência histórica, antropológica, geográfica, arqueológica e outras pouco avançaram sobre os mistérios deste período.  
         Por último, cabe explicar que o nome que batiza este projeto “Dezessete e Setecentos” é inspirado no título e letra de uma das músicas cantadas por Luiz Gonzaga, tendo sido o termo mais apropriado para resumir o contexto de tudo que foi dito acima.   

Carta-patente do Tenente-coronel Bernardo Duarte Pinheiro

            Bernardo Duarte Pinheiro era português, nascido na freguesia de Santa Eulália, Conselho de Passos de Ferreira, Distrito do Porto, tendo migrado para o Brasil para ir residir na capitania do Ceará, mais especificamente, na Ribeira do Machado (atual território de Várzea Alegre), onde adquiriu terras por doação sesmarial.
         Foi casado com Ana Maria Bezerra, pernambucana irmã do padre José Bezerra do Vale, fundador da Casa do Umbuzeiro, na Aiuaba/CE, no sertão dos Inhamuns.

Dados do Documento

• carta-patente de oficial das Ordenanças
• posto de tenente-coronel da Cavalaria da Ribeira do Icó
• regimento do coronel João da Fonseca Ferreira
• anterior ocupante: Antônio Gonçalves
• obrigação de confirmação pelo governador de PE: prazo de 6 meses
• lugar onde foi escrita: Icó (Arraial de Nossa Senhora do Ó)
• data: 17 de junho de 1719
• autoridade concedente: capitão-mor do CE Salvador Alves da Silva

Transcrição Paleográfica


Rezisto dapatente do ThenenteCoronel/ Bernardo Duartte Pinheiro
Passousse no mesmo posto p.a oz auxiliares
Salvador Alz´ daSylva Cavaleiro profeço daordem denosso Snor´/ JEzus chisto capitaó Mayor daCapitania doCearâ grande aCujo/ cargo está ogoverno della por Sua Mag.e q Deos g.de etta Faço Saber aos q/ esta Carta patente virem q por quanto està vago oposto deThenente/ Coronel da Cavalaria da Ribr.a do Icó doRegimento deq hé Coro-/ nel Joaó da Fon.ca por auz.ca de Ant.o Gonçalves q oexerçia/ eConvir provello empecoa de Satisfaçaò emericimentos: tendo eu/ Respeito aq todos estes Requezitos comcoRem napeçoa de Bernr.do Du-/ arte Pinhr.o pello bem q tem Servido a Sua Mag.e q Deos g.de nas o-/ caziois q Setem offerecido doServ.co dod.o Snor. aCompanhando astro-/ pas q tem Sahido afazer guerra ao Gentio Levantado destaCapitan/ ya ehindo m.tas vezes por Cabo dellas com Risco devida, edespen/ dio deSua fazenda estando exercendo oposto deThenente/ damesma Comapanhia com oqual Seouve Sempre com on-/ Rado prossedimento valor ezelo do Real Serv.co em.ta obediencia/ aos Seus off.s mayores emenores, dando intr.o Comprim.to as ordeniz que/ pellos d.os Seus off.s lhes foram emCaRegadas do Serv.co deS. Mag.de q/ Deos g.de epor esperar delle q daqui emdeante Seaverâ damesma/ maneira em.to como deve eConfiança q faço de Sua peçoa: Hey/ por bem deoeleger enomear (como pella prez.te elejo, enomeyo/ no posto de Thenente Coronel daCavalaria da Ribr.a do Icô do/ Regimento aq Sua Mag.de me conçede emCarta de dezassete de/ Dezbr.o de mil e SeteCentos equinze emq medà faculdade/ p.a poder prover todos ospostos das ordenanças militares des/ taCapitanya p.a q como tal oseja, uze, exerça, egoze de todas as/ onras graças franquezas, Liberdades privilegios eexençois/ q em Razaõ dod.o posto lhepertenSerem daqual haverá den/ tro de seis mezes aConfirmaçaò pello Governador de Pern.co/ pello que ordeno aoCoronel dod.o Regimento lhede aposse ejuramento/ na forma custumada, a aos off.s mayores emenores, e Soldades/ Seus Subordinados o conhessam por tal Then.te Coronel e o/ onrrem eestimem elheobedeçaò, cumpraó egoardem Suas/ ordens tanto depalavra como por escrito, tam pontual/ eintr.a m.te como devem eSam obrigados q por firmeza/ daqual lhe mandei passar aprezente [ilegível]/ neste posto dethen.te Coronel dos auxiliares [ilegível] [fl. 01]


aSignada eCellada com o Signete deminhas armas/ e [Resistara] nos Livros da Secret.a deste Governo enos/ mais aq tocar: dada neste ARayal denossa Snr do Ò/ aos dezassete dias do mes deJunho eeu Manoel de/ Miranda afis anno demil eSete Centos edezanove/ Estava oCello. Salvador Alz´ da Sylva [fl. 02].

(Imagens/Fonte: Biblioteca Nacional do Brasil).