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domingo, 3 de novembro de 2019

AS RUÍNAS DO SÍTIO PAU SECO NO JUAZEIRO DO NORTE/CE E A CASA DE BÁRBARA DE ALENCAR


AS RUÍNAS DO SÍTIO PAU SECO NO JUAZEIRO DO NORTE/CE E A CASA DE BÁRBARA DE ALENCAR
                                                                                             
                                                                                Heitor Feitosa Macêdo

         A casa de Bárbara Pereira de Alencar, no sítio Pau Seco, município de Juazeiro do Norte, sul do Estado do Ceará, foi a principal residência rural desta senhora, considerada por muitos como a primeira mulher republicana bem como primeira presa política do Brasil, tendo ela, juntamente com seus filhos, participado diretamente da chamada Revolução Pernambucana de 1817, da Guerra de Independência do Brasil (1822-1823), da Confederação do Equador (1824) e contra a Revolta de Joaquim Pinto Madeira. Além disso, o referido imóvel está inserido em outros contextos históricos de grande relevância para a memória e identidade do povo juazeirense e caririense. 
         Então, por que proteger legalmente este imóvel através de tombamento?
         Este será o nosso escopo nas linhas seguintes!

Ruínas do Engenho no Sítio Pau Seco


1- Origem da Casa do Sítio Pau Seco

            A casa do Sítio Pau Seco foi soerguida às margens do rio “Itaytêra” (do tupi, “ita” = pedra, “y” = água, “era” = velho), o qual, aos ouvidos do branco, passou e ser chamado de “Batatêra” e, no presente, de Salgadinho, tendo suas nascenças no Sítio Luanda (em Crato/CE).
         Este lugar, próximo aos pés da serra do Horto (ou Serra do Catolé, Serra do Cáras, Serra das Cobras e Serra do Salgadinho[1]) serviu de caminho aos invasores brancos no início do século XVIII, quando esta gente, ao cruzar a Cachoeira dos Cariris (em Missão Velha), subia os sertões acompanhando os córregos d’água, até alcançar as nascentes.
         Sabe-se que, em 1703, Manoel Rodrigues Ariosa montou uma fazenda de criar gado no espaço que compreende parte dos atuais territórios de Juazeiro do Norte e Crato, mais especificamente no Sítio São José, que, ao tempo, possuía outras denominações como Lagoa do Ariosa, Lagoa do Cariri e Lagoa do Carité.
         Porém, quando se fala nos mais remotos proprietários brancos do atual território que forma o município de Juazeiro do Norte, é inevitável fazer menção ao coronel, depois brigadeiro, Leandro Bezerra Monteiro, ancestral dos Bezerra de Menezes do Cariri, o qual nasceu no ano de 1740, no Sítio Moquém, município do Crato, tendo seus pais e avós se estabelecido nestas terras nas primeiras décadas do século XVIII[2].
         Por ocasião da morte do seu avô materno, residente em Sergipe, Leandro foi até esta capitania a fim de tratar do recebimento de sua herança, viagem que deu ensejo ao seu casamento com uma prima, no ano de 1764[3]. Ainda, em terras sergipanas, adquiriu o Engenho São José, às margens do Rio Vaza-barris, onde permaneceu até o ano de 1779, quando retornou aos Cariris Novos, sul da capitania do Ceará Grande[4].
         Com a subdivisão das imensas sesmarias, novas fazendas foram surgindo, e, entre os atuais municípios do Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, além do já mencionado Sítio Moquém, também existiu o Sítio Porteiras do Carité, pertencente ao alferes Manoel de Souza Pereira, paraibano, casado com uma irmã do coronel Leandro Bezerra, sendo que este último veio a adquirir o referido Porteiras do Carité através de compra feita aos seus sobrinhos, herdeiros desta sua irmã, no ano de 1780.
         Frise-se que o Sítio Porteiras do Carité também era chamado Porteira de Dentro[5], fazendo parte do desmembramento da primitiva sesmaria de Manoel Rodrigues Ariosa, cuja fazenda era chamada Lagoa do Ariosa, e, antes, repita-se, conhecida por Lagoa do Cariri ou Lagoa do Carité[6]. Cabe também destacar que uma porção desta primitiva sesmaria, englobando grande parte dos três municípios já citados, posteriormente, passou a ser propriedade do coronel Leandro Bezerra Monteiro.
         Leandro viveu por 53 anos neste Sítio Porteiras do Carité, de 1780 até a morte de seu neto, o padre Pedro Ribeiro da Silva (dono e fundador da povoação de Juazeiro do Norte), tendo herdado deste último todos os bens, em razão do que foi morar na casa-grande do Juazeiro, onde faleceu em provecta idade, aos 96 anos, entre os dias 4 e 5 de julho de 1837[7].
         Cabe ressaltar que, entre os séculos XVIII e XIX, além do coronel Leandro Bezerra Monteiro, outras pessoas de ascendência europeia também foram proprietárias de terras na atual área correspondente ao município juazeirense, a exemplo de Bárbara Pereira de Alencar e seus descendentes.

Imagem fictícia de Bárbara Pereira de Alencar

         Segundo um trineto de Bárbara de Alencar, nascido em 1873, na velha casa do Sítio Pau Seco, contava-se que o referido imóvel havia sido por ela comprado a uns frades: “Sempre ouvi dizer que D. Bárbara havia comprado o sitio a UNS FRADES[8].
         O mesmo autor, em publicação datada de 1937, revela detalhes sobre a casa do Pau Seco, a qual, segundo ele, foi reformada, porque, ao tempo de Bárbara, era feita de taipa, e, tempos depois, veio a ser reconstruída com tijolos, porém, conservando-se o quarto desta sua trisavó:

E nesse sitio e na mesma casa, e até no mesmo quarto ou dependencia, em que dormia a heroina, que nasci, em 11 de Fevereiro de 1873. A velha casa da fazenda que ainda conheci muito bem, tendo terreiro velhos pés de joaseiros, que desappareceram e, numa das frentes, uma especie de cêrca de catolezeiros (palmeira) alli plantados, foi reconstruida por um dos herdeiros do meu avô – Manoel da Cruz Rosa Carvalho – o meu tio Antonio Leonidas da Cruz, primo e esposo de minha tia Luisa – Bebé – irmã de meu pae, tambem Manoel da Cruz Rosa Carvalho, filho. A casa foi reconstruída de tijolos (a antiga era de “taipa”, enchimento de madeira) mas, como uma “relíquia”, foi conservado o “quarto de D. Barbara”, com as suas velhas e grossas parêdes, ennegrecidas pelo tempo e que ainda hoje deve existir, tal como era e tal como deixou a sua gloriosa possuidora.[9]     

            Como se pode perceber, a reforma feita na casa do Pau Seco preservou o quarto de Bárbara de Alencar, mantendo-o em taipa, o que, certamente, facilita uma futura prospecção arqueológica in loco, com grande possibilidade de se encontrar nas ruínas alguma estrutura (alicerce) cuja constituição seja de barro com esqueleto de madeira, isto é, de taipa.
Representação artística do Sítio Pau Seco de Oscar Araripe

         Outro fator importante também trazido por José Carvalho diz respeito à origem do nome Pau Seco. Isto porque uma antiga versão dita por seu tio-avô, Antonio da Cruz Neves, afirmava que a tradução da palavra “cariri” era, justamente, “pau seco”, pois, segundo o dito ancião, os índios do território que veio a ser chamado de Cariri habitavam um imenso tronco de árvore morta:

Os indios que João Brigido chama “Cariris” e que viviam em lucta com os “Carius”, chamavam-se, de facto, e segundo a tradição que ora revelo, os PAU SÊCO (...). “Pau-Sêco”, pois, é a “tradução”, em portuguez, do equivalente em “CARIRI” (...). “Minha” tradição, não é propriamente minha. E’ do meu tio-avô Antonio da Cruz Neves, que nasceu, viveu e morreu em Jardim – outro valle do Cariri – e contando mais de cem annos de idade (...). Dizia elle que ouvira dos antigos contar que, no logar, havia uma arvore tão grande, tão colossal, que tendo morrido ou secado, e estando no chão ou derrubada, servia o respectivo ôco ou cavidade do seu tronco de morada e trincheira ao chefe e a toda a tribu senhora da região. Que por isto os taes indios eram conhecidos pelo nome: dos PAU-SÊCO. E dahi vinha tambem o nome do sitio. E’ que tendo esses indios comsigo um escravo, raptado da casa da “Torre”, do São Francisco, (aqui a tradição combina perfeitamente com as outras já conhecidas) e vivendo elles em guerras com os da cachoeira (Missão Velha) esse escravo aconselhou-os a ir pedir o auxilio dos “brancos” da mesma casa da “Torre”.[10]   

            Assim, analisando tal afirmativa, é inevitável pensar que a origem da região do Cariri guarde relação direta com o batismo do referido Sítio Pau Seco, sendo expressões equivalentes nas suas respectivas línguas.
         Além disso, sabe-se que, no ano de 1817, as vilas do Crato e Jardim aderiram à chamada Revolução Pernambucana, a primeira no dia 3 de maio e, a segunda, no dia 5 do mesmo mês, declarando a independência do Cariri em relação a Portugal bem como proclamando a República como nova forma de governo, em substituição à monarquia. Mas o que isso tem a ver com o Juazeiro do Norte e com o Sítio Pau Seco?
         Juazeiro do Norte, até 1911, era território da vila do Crato e, antes da deflagração da dita revolta/revolução, o líder desse movimento no Cariri, José Martiniano de Alencar (futuro senador do Império), ao chegar do Seminário de Olinda/PE, foi direto para a principal residência rural de sua mãe, o Sítio Pau Seco, no dia 29 de abril de 1817.
Senador Alencar (José Martiniano de Alencar)

         Outro dado importante sobre o imóvel a ser tombado diz respeito à narrativa de um viajante inglês, o botânico George Gardner, o qual esteve na vila do Crato em 1838. Este, indo visitar João Gonçalves dos Santos (filho primogênito de Bárbara de Alencar) no Sítio Pau Seco, presenciou o funcionamento de um engenho todo feito de madeira:

Tive muitas ocasiões de ver nesse engenho, como se faz a rapadura. A moagem e o cozimento do suco da cana se processam ao mesmo tempo. O engenho é de construção muito tosca, compondo-se de uma armação com três moendas verticais de pau, entre as quais a cana passa para se expremer o suco que se recolhe num receptor embaixo, donde escorre para um cocho escavado no tronco de grande árvore. Passa-se a cana três vezes para que se extraia toda a garapa. Deste cocho, parte do líquido é levada de tempos em tempos, a pequenos tachos de metal, dos quais havia nove, enfileirados em pequenas aberturas sobre uma fornalha arqueada. Nas diferentes fases do processo, à medida que se faz a evaporação, o suco é despejado de um tacho em outro, até adquirir no último a desejada consistência. Transfere-se então para uma cuba escavada em sólida madeira e que se chama gamela. Aí fica algum tempo a esfriar, sendo então lançado em formas de madeira do formato e tamanho do tijolo comum, embora algumas se façam com a metade deste tamanho. Tiradas das formas, ficam a endurecer ainda por alguns dias e estão prontas para o mercado. As grandes vendem-se em Crato por dois vinténs, em Icó por cinco e em Aracati por quatro. As principais culturas de Crato são a cana-de-açúcar, a mandioca, o arroz e o fumo.[11]    

            Esse relato é um precioso testemunho sobre o funcionamento do engenho de Bárbara de Alencar no Sítio Pau Seco, que ainda possui as antigas ruínas, como os arcos da fornalha, feitos com enormes tijolos e, em alguns pontos, pedra e cal.

Imagem artística de Bárbara de Alencar. Autor: Oscar Araripe

          Outro visitante ilustre que esteve na casa do Pau Seco foi o menino José de Alencar, filho do Senador Alencar e, futuramente, o maior romancista do Brasil, que, enquanto seu pai conversava com o irmão (João Gonçalves de Alencar), ficou a “pastorar” o açúcar que secava ao sol no terreiro, isto para que os animais não metessem o bico na mercadoria:

José Martiniano e o filho, que seria, depois, tão celebre, estiveram, em visita ao irmão e tio, no referido sitio. João Gonçalves presenteou-os com uma porção de assucar – o fino, cristalino e delicioso assucar que dão certos trechos de terrenos d’aquelle brejo – e, precisando seccal-o ao sol, foi o mesmo estendido em um couro de gado no terreiro, como era de costume. Então para BOTAR SENTIDO mandaram o pequeno José, que ficou todo o dia, SENTADINHO em uma cadeira, a enxotar os porcos e demais criações. O regresso de ambos foi feito pelos sertões do Rio São Francisco. Não sei si todos os leitores leram e se recordam de que José de Alencar no seu livro – <<COMO E PORQUE SOU ROMANCISTA>> affirma que a idéia do Guarany lhe germinou no cérebro quando, bem criança, regressára de uma viagem ao Crato, pelo São Francisco. Com que saudades não teria escripto o nosso imortal patricio aquellas linhas, lembrando-se do dia em que no terreiro da casa do Pau-secco BOTÁRA SENTIDO ao couro de assucar, emquanto seu pae, sem duvida, com o resto da familia, falava das grandes cousas do glorioso passado?[12] 

            Ainda, sobre a identificação de pessoas que tenham passado pelo referido sítio, reza Ruth de Alencar que o pai de Dona Bárbara, Joaquim Pereira de Alencar, apesar de ter residido a vida inteira no lado pernambucano da Chapada do Araripe, em Exú, quando velho e doente, foi morar junto da filha, no Pau Seco, onde veio a falecer[13].

Boca da fornalha do engenho do Sítio Pau Seco



2- Da Localização do Sítio Pau Seco: fronteiras do tempo

            A pergunta que não quer calar é, onde fica o Sítio Pau Seco e, mais exatamente, onde se localizam as ruínas que pertenceram à Bárbara Pereira de Alencar?
         A oralidade até hoje encontrada no seio da população que reside no entorno das ruínas da casa e engenho de que tratamos é praticamente uníssona em apontar determinado local como sendo o que restou da casa de Dona Bárbara de Alencar. Impressiona ouvir isto de uma população, na maioria, sem estudo universitário e, alguns, analfabetos. Além do mais, esses mesmos moradores da vizinhança contam histórias sobre botijas, tesouros escondidos, talheres de latão que afloram no solo nas proximidades da ditas ruínas, etc.
         Contudo, alguns estudiosos duvidam que estas sejam, realmente, as ruínas do solar, outrora, habitado por Bárbara de Alencar. Para tanto, este(s) cético(s) se estriba(m) no argumento de que tais ruínas estão encravadas no Sítio Novo Horizonte ou Boca das Cobras, posto que os limites “imaginários” do Sítio Pau Seco estariam a algumas dezenas de metros afastados das referidas ruínas.
         O pesquisador que nos relata essa incongruência acerca da nomeação e localização dos sítios citados, o senhor Erasmo Guimarães (provocado pela senhora Cristina Holanda – historiadora e museóloga), baseia-se em relatos dos atuais moradores bem como em posicionamentos dos marcos das propriedades do padre Cícero Romão Batista:

Interessante pesquisa. Também fiz pesquisa por ali sobre os marcos do padre Cícero no Pau Seco, porém pra muitos moradores o sítio Pau Seco começa da escola de ensino Líder Comunitário e vai até a casa de um dos moradores em que diz ser a primeira do Crato e a última do Juazeiro pela questão divisória no limite imaginário dos moradores da localidade. Da casa para o suposto local de onde foi a residência de Bárbara de Alencar, já não é Pau Seco e sim, Novo Horizonte ou Boca das Cobras como ficou conhecido desde tempos do padre Cícero! Isso implica que o local ou sítio ainda tem muito pra ser explorado (Erasmo Guimarães, publicação na minha página do facebook).

            Levando isto em consideração, passaremos a analisar o problema!     
         O Sítio Pau Seco foi, por muito tempo, administrado pelo filho mais velho de Dona Bárbara, o capitão João Gonçalves de Alencar, o qual, depois da morte de sua mãe, em 1832, além de ter herdado uma pequena gleba neste sítio, também adquiriu outras cotas-partes dos demais herdeiros por meio de compra, conforme se pode ver numa declaração datada de 21 de junho de 1855, extraída dos registros de terras da freguesia do Crato (de 1855 a 1859):

280 Declaro eu João Gonsalves Pereira de Alencar, abaixo assignado; que possuo nesta Freguesia de Nossa Senhora da Penha da Cidade do Crato dusentas e nove braças de terras no Sitio denominado Páo Sêco na beira do rio Batateira; as extremas sao as seguintes; da parte do Nascente extrema com terras do major Semião no mesmo Sitio; da parte do Poente extrema com terras de Gonçallo Ribeiro, tão bem no mesmo Sitio; da parte do Sul extrema com terras do Sitio São Jose com huma legoa de fundos; para o Norte a extremar com fundos de terras do riacho dos Caraes. Declaro mais que no mesmo Sitio Páo Sêco existem dusentas e noventa e oito braças de terras da parte de baixo pertencentes a herdeiros do Sitio, entre as quaes eu possuo seis posses, humas compradas; e outras herdadas, de cujas posses não menciono o numero de braças, por não terem sido medidas; e nem demarcadas; as extremas das mencionadas dusentas  e noventa e oito braças são as seguintes: da parte do Nascente extrema com terras do Sitio Mangueira; da parte do Poente extrema com terras de dona Elena no mesmo Sitio Páo Sêco; da parte do Sul extrema com terras do Sitio Porteiras com huma legoa de fundo; para o Norte a extremar com fundos de terras do riacho dos Caraes. Crato vinte e hum de Junho de mil e oito centos e cincoenta e cinco João Gonsalves Pereira de Alencar [Fl. 60v].[14]

            Segundo o documento, o sítio Pau Seco, em sua totalidade, não pertencia apenas à família Alencar. No mais, este sítio fazia fronteira com o Sítio São José, Riacho dos Carás, Sítio Mangueira e Sítio Porteiras:  

112 Declaro eu, Joaquim José de Macedo abaixo assignado, que possuo nesta Freguesia de Nossa Senhora da Penha do Crato e cento e oitenta braças de terras no Sito denominado – Porteiras -; cujas terras extremão: da parte do Nascente com terras de Ignacio João da Silva no mesmo Sitio; da parte do Poente extrema com terras do Sitio Cabo verde; da parte do Sul extrema com terras do Sitio Salamanca; e da parte do Norte extrema com terras do Sitio Páo Sêco. Crato vinte hum de Agos- [Fl. 24v] Agosto de mil oito centos e cincoenta e cinco Joaquim José de Macedo.      

            Na declaração feita pelo senhor Joaquim José de Macedo, de 21 de agosto de 1855, o Sítio Pau Seco fazia divisa com o seu sítio chamado Porteiras. Segundo Joaryvar Macedo, Porteiras do Carité ou Porteiras de Dentro, em oposição às Porteiras de Fora, que forma o atual município cearense de Porteiras. Outro possuidor de glebas no Sítio Porteiras (o senhor Ignácio João da Silva), também afirma ser confinante com o Sítio Pau Seco:
117 Declaro eu, Ignacio João da Silva abaixo assignado, que possuo nesta Freguesia de Nossa Senhora da Penha do Crato cincoenta braças de terras no Sitio Porteiras, cuja terras extrema da parte do Nascente com terras de João Ignacio da Silva no mesmo Sitio; da parte do Poente extrema com terras de Joaquim José de Macedo tão bem no mesmo Sitio da parte do Sul com terras da Barbalha; e da parte do Norte extrema com terras do Sitio Páo Sêco. Por eu não saber ler, e nem escrever, pedi ao Senhor Benedito José de Oliveira para escrever, e assignar esta minha declaração. Crato tres de Setembro de mil oitocentos e cincoenta e cinco. A pedido do Senhor Ignacio João da Silva escrevi e assignei a presente declaração Benedito José de Oliveira.

            Já Dona Maria Tereza de Jesus, possuidora de terras no lugar denominado de Baixio, afirma que este seu sítio extremava com os sítios Pau Seco, Cobras e com o Riacho Carás:   
282 Declaro eu Theresa de Jesus Maria, abaixo assignada, que possuo nesta Freguesia de Nossa Senhora da Penha huma posse de terras no lugar denominado Bachio; cuja posse extrema: da parte do Nascente com terras do Sitio Páo Sêco; da parte do Poente com terras do Sitio Cobras; da parte do Sul com terras do mesmo Sitio Cobras, e do Estevão; e da parte do Norte com terras de fundos do Riacho dos Carás Crato desenove de Junho de mil e oito centos e cincoenta e seis. Theresa de Jesus Maria

            O bisneto de Dona Bárbara Pereira de Alencar, o senhor José Antão de Carvalho, neto de Dona Carrôla (Joaquina Maria de São José) declarou, no dia 5 de fevereiro de 1857, ser possuidor de terras no Sítio Pau Seco, provavelmente, oriundas do inventário desta sua bisavó:

360 Declaro eu José Antão de Carvalho por meo Procurador Vicente Amancio de Lima abaixo assignado, que possuo huma posse de terras no Sitio Páo Sêco nesta Freguesia de Nossa Senhora da Penha; cujas confrontações são as seguintes: pelo lado do Nascente com terras do Sitio Mangueira de Antonio Machado do Nascimento; pelo Norte com terras de Gonçalo Ribeiro de Aguiar; e pelo Sul com terrras do Sitio Porteiras com os fundos de huma legoa, de Sul a Norte. Cidade do Crato cinco de Fevereiro de mil e oito centos e cincoenta e sete. Vicente Amancio de Lima. [Fl. 80v]   

            Como se percebe, as fronteiras são as mesmas, nos sítios Mangueira e Porteiras. Isso também é repetido na declaração do senhor José Batista da Silveira, que era senhor de uma gleba de terra no Sítio Pau Seco:

440 Eu José Baptista da Silveira abaixo assignado declaro, que sou senhor, e possuidor de hum sitio de terra no lugar Páo Sêco desta Freguesia extremando: ao Nascente com terra de Francisco Leite: ao Poente com terra de João Gonsalves: da parte do Sul com terras das Porteiras: e do Norte huma legoa. Crato dois de Março de mil e oitocentos e cincoenta e sete José Baptista da Silveira [Fl. 99]

         Ao lado disso, o dono do Sítio Mangueira, em março de 1857, assegura que sua propriedade confinava com o Sítio Pau Seco:

493 Declaro eu Antonio Machado do Nascimento, que posso nesta Freguesia do Crato o Sitio Mangueira com tresentas braças de terras de plantações, que que extrema: ao Nascente com o Sitio Logradouro: ao Poente com o Sitio Páo-Sêco: ao Sul com o Sitio Porteiras: e ao Norte com huma legoa de fundos a extremar com terras do riacho Carás. Por não saber escrever, mandei escrever, e assignar esta por meo filho Pedro Machado do Nascimento. Crato de Março de mil e oito centos e cincoenta e sete. Assigno por meo pae Antonio Machado do Nascimento. Pedro Machado do Nascimento. [Fl. 110]

            No dia 22 de março de 1857, o senhor Gonçalo Ribeiro de Aguiar disse ser possuidor de 490 braças de terras no Sítio Pau Seco, sendo que este fazia fronteira com outras áreas do mesmo sítio bem como com o Sítio São José e com o Riacho Carás. É interessante notar que há menção a pedras servindo de marco divisório nas ditas propriedades:
573 Declaro eu Gonçalo Ribeiro de Aguiar abaicho, que possuo nesta Freguesia de Nossa Senhora da Penha do Crato quatro centas e noventa e nove braças de terras no Sitio denominado Páo- Sêco; cujo Sitio extrema: da parte do Nascente com o capitão João Gonsalves Pereira de Alencar em hum marco de pedra; da parte do Poente com o mesmo capitão João Gonsalves em hum marco de pedra; da parte do Norte com huma legoa de fundos a extremar com o riacho de [Fl. 126] Carás; da parte do Sul extrema com os com possuidores do Sitio São José Cidade do Crato em vinte e dois de Março de mil e oito centos e cincoenta e sete. A pedido de meo pai Gonçalo Ribeiro de Aguiar assignei a presente declaração João Ribeiro Reverdosa

            Pelo exposto, é perceptível que o Sítio Pau Seco, até o início da segunda metade do século XIX, não confinava com os sítios chamados Novo Horizonte e Boca das Cobras, conforme acredita o estudioso Erasmo Guimarães.
         Este Sítio Novo Horizonte, ao tempo, talvez sequer existisse com a referida denominação, sendo, posteriormente, simples resultado de dezenas de desmembramentos de propriedades maiores, processo que se observa desde a época das doações sesmariais. Como exemplo, cite-se a sesmaria recebida pelo trisavô do padre Cícero Romão Batista (o tenente José Pereira Aço), nas cabeceiras do Rio ou Riacho Carás, a qual fora, inicialmente, batizada de Corrente e, depois, através de vários desmembramentos, deu origem a diversos sítios/fazendas, como ao Corrente Grande, Correntinho, Monte Alverne, Santa Fé, Cabreiros, Fábrica, etc., de acordo com nosso estudo publicado em "Sertões do Nordeste: Inhamuns e Cariris Novos", 2015, p. 180.
         Ressalte-se também que essas sesmarias eram doadas ao longo do curso dos rios, três léguas de comprimento por uma de largura (meia légua para cada margem), sendo que, em regra, as fronteiras destas fazendas eram demarcadas com pedras, "o principal" (pedra angular, maior) e os dois "testemunhos" (duas pedras menores, postas uma de cada lado da pedra maior). Provavelmente, esta prática chegou ao Cariri a partir de 1702 e 1703, quando o branco invasor efetiva sua posse na área correspondente a este Vale.
         É sabido que o padre Cícero Romão batista nasceu no ano de 1844. Logo, no período dessas declarações de posse era ele apenas um garoto, isto é, ainda não era um milionário, com terras demarcadas por marcos de pedra personalizados.
         Contudo, quando se fala em memória ou história do Juazeiro do Norte, há uma tendência de alguns pesquisadores/historiadores selecionarem apenas episódios que coincidam com a presença do Padre Cícero no lugar. É uma verdadeira “ciceromania”. Isto, provavelmente, é reflexo do fenômeno turístico-religioso que, de certa forma, vem proporcionando ao dito município um crescimento vertiginoso.

Visita às ruínas do Sítio Pau Seco, no dia 02/11/2019. Da esquerda para direita: Roberto Júnior, José Pereira e Heitor Feitosa 

         Juazeiro, também conhecido como a Meca do Nordeste, galgou, entre as décadas de 1960 e 1970, a dianteira econômica da Região do Cariri, tornando-se epicentro comercial, cultural, turístico e educacional de uma vasta região interestadual que engloba vários municípios próximos à Chapada do Araripe (Ceará, Pernambuco, Paraíba e Piauí).
         Este processo de crescimento exponencial da “Nova Roma” tem influenciado diretamente a lavra científica do diversos estudiosos, que, enquanto produto do tempo e do meio, sentem premente necessidade de legitimar uma história hegemônica, nos mesmos moldes, outrora, utilizados pelo município vizinho, o Crato, pois, durante a década de 1950, por meio dos discursos dos intelectuais do Instituto Cultural do Cariri (ICC), tentou-se elevar a urbe cratense ao patamar de centro cultural de toda a região do Cariri, repetindo-se, insistentemente, que a dita cidade seria a "Capital da Cultura".
         Entretanto, voltemos ao tema relativo ao Pau Seco e às ruínas que, supostamente, teriam servido de residência à Dona Bárbara de Alencar. 
       Paralelamente ao que foi retromencionado, encontramos outros elementos que se coadunam com a história oral, ainda viva na localidade. Senão, vejamos!                                 Em depoimento, o atual secretário de cultura do município do Crato (José Wilton da Silva – Dedê) revelou a mim ter encontrado moedas de cobre nas ditas ruínas, sendo que as doou para o museu municipal desta cidade.
         No ano de 2018, em visita ao lugar, juntamente com arqueólogos do Instituto de Arqueologia do Cariri e Fundação Casa Grande, foram identificadas, próximas ao alicerce da antiga casa, diversos fragmentos de louças, possivelmente, fabricadas antes do século XIX. Some-se a isso as afirmativas oriundas dos moradores que me conduziram até a referida localidade, que apontavam terem sido as tais ruínas residência de Dona Bárbara.
         Também coincide com todas essas informações o depoimento do senhor Huberto Cabral Esmeraldo, conhecido memorialista do Crato e "doutor honoris causa" da Universidade Regional do Cariri (URCA), posto que ele também nos indicou as ditas ruínas como sendo a antiga casa e engenho de Bárbara Pereira de Alencar.    

Fragmentos de vidro, com bordos grossos, encontrados nas ruínas
Fragmentos cerâmicos encontrados nas ruínas

                                      
3- Da Necessidade da Pesquisa Arqueológica e Tombamento
           
            Neste instante, vale repetir o que afirmou José Carvalho (trineto de Bárbara Pereira de Alencar) sobre a edificação e constituição da casa do Pau Seco. Segundo ele, o referido imóvel foi reformado, sendo reconstruído em tijolo, contudo, o quarto de Dona Bárbara teria sido mantido em taipa (barro e madeira entrelaçada).
         Logo, basta que os arqueólogos promovam uma escavação nos alicerces das ruínas apontadas pela população como sendo a antiga propriedade da “heroína de 1817”. Daí, encontrando-se um quarto em taipa, poder-se-á dirimir toda a dúvida trazida à baila pelo senhor Erasmo Guimarães. É por este mesmo motivo que já protocolei um requerimento perante a Secretaria de Cultura do Juazeiro do Norte/CE, solicitando estudos arqueológicos.
         Aproveito o ensejo para pedir à senhora Cristina Holanda o apoio nessa atividade, já que é gestora do Museu Padre Cícero e especialista em Arqueologia Social Inclusiva.   
         Destaque-se que as ruínas do engenho e da casa em que, supostamente, residiu Bárbara Pereira de Alencar, no Sítio Pau Seco, na zona rural do Juazeiro do Norte/CE, correm o risco de desaparecer em decorrência do avanço da zona urbana e da especulação imobiliária.
         Estas ruínas são das mais antigas de todo o Cariri cearense e remetem a diversos personagens históricos da região, a exemplo de Bárbara Pereira de Alencar; seu filho, o senador José Martiniano de Alencar; o filho deste último, o escritor José de Alencar; o médico inglês George Gardner; o escritor José Carvalho, que fez parte do movimento literário chamado de Padaria Espiritual, entre outros.
         Consequentemente, a história do referido imóvel guarda estreita relação com o Estado Moderno, com o constitucionalismo, com a forma de governo republicana, com as ideais liberais que, em seu bojo, traziam grande influência cristã (liberdade, igualdade e fraternidade), posto que estamos falando de uma parte do município do Juazeiro do Norte, a Meca do Nordeste, a Terra Prometida, a Vapabuçú da mitologia indígena.    
         Efetuando-se o tombamento destas ruínas, além de garantir a memória e identidade histórica regional, também se estará fomentando o turismo e, com isso, a geração de renda para a população.
         Mas não para por aí! Esse tombamento também carrega o potencial de mitigar a rivalidade ainda existente entre a população do Crato e a do Juazeiro do Norte, surgida desde a emancipação desta última e agudizada pela guerra civil de 1914. A história e a cultura desse mesmo povo se entrelaça e não há razão de que esse apartheide continue a subsistir, principalmente nas mentes obsoletas das almas que não conseguem se desvencilhar do ódio sepultado com seus avós.
         Esse antagonismo latente tem prejudicado de diversas maneiras não só o desenvolvimento socioeconômico mas, também, as narrativas históricas, posto que vários escritores tendem a escamotear toda e qualquer memória que diga respeito ao município rival. Às vezes, alguns pretendem que a História do Juazeiro não seja História do Crato e vice-versa.
         Porém, afirmo que a História do Juazeiro não começou com o Padre Cícero Romão Batista, seu grande benfeitor, bem como a História do Crato não deve se restringir as suas atuais fronteiras, excluindo a bela trajetória dos romeiros. As cidades-estados se fadaram com a antiga civilização grega e não há razão de que isso permaneça entre nós, aqui no Cariri.
         Logo, as ruínas do Sítio Peu Seco são um dos elos históricos que unem Crato e Juazeiro do Norte em episódios de luta ideológica, por princípios dirigidos ao bem coletivo.  


4- Da Análise Jurídica sobre a Proteção Legal

            O artigo 216 da Constituição Federal do Brasil, de 1988, trata do tombamento nos seguintes termos:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.

            Já a lei municipal do Juazeiro do Norte/CE, nº 2.121, de 23 de agosto de 1996, em seu artigo 4º, determina que o tombamento se dará por meio de decreto do Chefe do Poder Executivo:

Art. 4º - Esta lei será regulamentada através de Decreto que tombará outros documentos, obras e bens de valor histórico, artístico e cultural, os documentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos, os imóveis que tenham influência na história do Município de Juazeiro do Norte e do Padre Cícero Romão Batista.

            Neste ponto, cabe ressaltar que o Padre Cícero Romão Batista pertencia ao clã familiar chamado de “As Quatro Sergipanas”, podendo-se destacar neste grupo o sobrenome Ferreira Lima, parentes do Padre Cícero.
         Ocorre que a história da família Alencar se liga aos Ferreira Lima desde o final do século XVIII e início do século XIX, pois Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, filho de Bárbara de Alencar, foi casado com uma prima do Padre Cícero, Ana Porcina Ferreira Lima, mais conhecida por Ana Triste, após o marido ter sido morto brutalmente durante a Confederação do Equador[15].
         Além disso, é importante frisar que, no ato de julgamento de Joaquim Pinto Madeira, quando este foi vítima da manipulação do Poder Judiciário pelos Alencar e os Ferreira Lima (ambos liberais e republicanos), dois dos avós do Padre Cícero fizeram parte do corpo de jurados, mesmo que suspeitos e impedidos, condenando o réu à pena última:
O segundo dos cinco jurados, José Romão Batista (ou Romão José Batista), também conhecido por capitão Romão (avô paterno do futuro padre Cícero Romão Batista[16]), havia lutado sempre ao lado dos liberais, e, consequentemente, dos Alencar. O capitão Romão era tio-avô do referido Antônio Ferreira Lima Sucupira[17], e, por isso, estava impedido e suspeito pelas mesmas circunstâncias já citadas.  O terceiro dos cinco jurados era Raimundo Pedroso Batista, sobrinho do capitão José Romão Batista[18], e, pelo exposto, também encontrava-se impedido e/ou suspeito de fazer parte do Conselho de Sentença no julgamento de Pinto Madeira. O quarto dos cinco jurados impedidos e/ou suspeitos era o baiano da Cachoeira, José Ferreira Castão, que também estava ligado ao clã das Quatro Sergipanas, pois sua filha Joaquina Ferreira Castão (mãe do futuro padre Cícero Romão Batista) foi casada com Joaquim Romão Batista (Mirabô ou Mirabeau), o qual, por sua vez, era filho do já citado capitão Romão[19]. Também deve ser ressaltado que o irmão de José Ferreira Castão, Januário Ferreira Castão, era casado com uma irmã do juiz, presidente do Tribunal do Júri, José Vitoriano Maciel[20].[21]

            Como se percebe, o objeto desta análise jurídica atende aos requisitos de tombamento patrimonial da referida lei municipal. Mas, antes, deve ser submetido a estudos arqueológicos mais aprofundados, in loco.

À direita, Heitor Feitosa, em visita às ruínas do Sítio Pau Seco, no ano de 2015


5- Conclusão

            O argumento do pesquisador Erasmo Guimarães é válido para estimular a discussão a respeito desse patrimônio material, tirando-o do esquecimento em que repousa. Por outro lado, o argumento aduzido, de que o Pau Seco se restringiria uma pequenina nesga de terra, lindeira ao atual sítio Novo Horizonte ou, por outro nome, Boca da Mata, não possui embasamento histórico, conforme examinamos no registro de terras da Freguesia do Crato, de 1855 a 1859.
         Portanto, as ruínas aqui mencionadas devem ser objeto de estudos arqueológicos e, caso seja comprovada a existência do quarto feito em taipa (pertencente a Dona Bárbara pereira de Alencar), deve o Poder Público municipal, ou quem de direito, promover o tombamento do equipamento, a fim de preservar a memória regional e fomentar também o turismo não religioso, cumprindo os mandamentos da Constituição Federal de 1988.    






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Registro de Terras da Freguesia do Crato - 1855 a 1859, paleografado por Liduina Queiroz de Vasconcelos - Paleógrafa/APEC (Arquivo Público do Estado do Ceará), Fortaleza, 03 de fevereiro de 2010.

                       
           




[1] LÓSSIO, Moacyr Gondim. Geografia do Crato. Revista Hyhyté. Nº 07. Crato – Ceará: Faculdade de Filosofia do Crato, maio de 1980, p. 16.
[2] Sobre a parentela e a aquisição da propriedade de Leandro Bezerra, disse José Denizard Macêdo de Alcântara: “Filho do sergipano Capitão Antonio Pinheiro Lobo e Mendonça e da pernambucana Joana Bezerra de Menezes, nasceu a 5 de dezembro de 1740, no Engenho Moquem, no município do Crato (...) é de presumir que Perpétua Caetana era irmã imediata na sequência familiar. Consorciada com o paraibano Alferes Manoel de Souza Pereira (fls. 45, Livro de Registro de 1748-1764, da Paróquia de Missão Velha), foram proprietários do Sítio ‘Porteiras’, revendido pelos herdeiros ao irmão, o então Sargento-mor Leandro Bezerra Monteiro, em 1780 (Livro de Notas do 1º Cartório do Crato, 1770-1785)” (ROCHA FILHO. J. Dias da. Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro. 2ª Ed., Fortaleza ‒ CE: Secretaria de Cultura, Desporto e Promoção Social, 1978, p. 15 e 16). Sobre o avô do Brigadeiro Leandro Bezerra, observa Rocha Filho: “Seu avô materno, o coronel João Bezerra Monteiro, fora o primitivo dono dessa propriedade, para a qual se passara da fazenda Zoroés, que possuía nas imediações do Icó” (Ibidem, p. 39). Ver também: ARAÚJO, Padre Antônio Gomes de. Povoamento do Cariri. Op. cit., p. 95.
[3] ROCHA FILHO. Op. cit., p. 40.
[4] Ibidem, p. 41.
[5] Joaryvar Macedo fala sobre estes nomes e os respectivos desmembramentos: “... nas do Miranda, a cidade do Crato; nas das Porteiras do Padre Valério, (também conhecidas como Porteiras de Fora, para distinguir das Porteiras de Dentro que eram as mesmas Porteiras do Carité) a cidade de Porteiras...” (MACÊDO, Joaryvar. Povoamento e Povoadores do Cariri Cearense. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1985, p. 36). Ainda, sobre o mesmo tema, o autor explica que: “Lagoa do Ariosa – No lugar deste nome, em cujas terras, existe hoje o Sítio São José, entre Crato e Juazeiro do Norte, na segunda metade do Século XVIII residiu e foi proprietário o Alferes Manuel de Souza Pereira, paraibano, filho do português lisboeta Antônio de Sousa Pereira e Maria da Silva Correia, paraibana de Taquara. O referido Alferes, que senhoreou, por igual, o Sítio Porteiras do Carité, no mesmo setor, onde também residiu, foi casado com a caririense Caetana Perpétua do Nascimento Bezerra de Menezes, filha do sergipano Capitão Antônio Pinheiro Lôbo de Mendonça e de Joana Bezerra Monteiro ou Joana Bezerra de Menezes, pernambucana de Jaboatão” (Ibidem, p. 46).
[6] O Rio mais caldaloso do Cariri é o Salgado, o qual tem suas nascentes na base da Chapada do Araripe e assim é denominado a partir da Cachoeira de Missão Velha. Nos antigos registros, o Rio Salgado aparece com outras denominações, como Carité e, também, Rio Podre, por conta das inundações ocorridas no ano de 1766 em diante. Por último, acrescente-se que outra antiga referência ao Rio Salgado era a de Jaguaribe-mirim (BEZERRA. Op. cit., p. 87, 109, 126, 159 e 165). Joaryvar Macedo assegura que o Rio Carité era a antiga denominação para o Rio Salgadinho, sendo o mesmo que banha o município do Crato com o nome de Batateira (MACEDO, Joaryvar. Temas Históricos e Regionais. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1986, p. 102).
[7] ROCHA FILHO. Op. cit., p. 19.
[8] CARVALHO, José. Mais uma tradição sobre a descoberta do Cariri: O Sitio Pau-Seco, no Crato, Ceará. Revista do Instituto do Ceará. Fortaleza: Typographia Gadelha, 1931, p. 113.
[9] Ibidem, p. 113.
[10] Ib., p. 111 a 117.
[11] GARDNER, George. Viagem ao Interior do Brasil: principalmente nas províncias do Norte e nos distritos do ouro e do diamante durante os anos de 1836-1841. São Paulo: Editora da Universidade do São Paulo, 1975, p. 95.
[12] CARVALHO, José. Heroina Nacional. Barbara de Alencar. Fortaleza: Revista do Instituto do Ceará, 1920, 208.
[13] LEÃO, Ruth de Alencar et alii. Mulheres do Brasil. 1º Volume. Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1971, p. 189 e 190.
[14] Registro de Terras da Freguesia do Crato - 1855 a 1859, paleografado por Liduina Queiroz de Vasconcelos - Paleógrafa/APEC (Arquivo Público do Estado do Ceará), Fortaleza, 03 de fevereiro de 2010, fl. 60v.
[15] MACÊDO, Heitor Feitosa. Sertões do Nordeste: Inhamuns e Cariris Novos, Volume I. Crato: A Província, 2015, p. 157.
[16] MACÊDO, Heitor Feitosa. Sertões do Nordeste: Inhamuns e Cariris Novos, Volume I. Op. cit., p. 164.
[17] O capitão Romão José Batista era irmão de Maria da Conceição Batista, mãe de Josefa de Jesus Batista, e esta, por sua vez, mãe de Antônio Ferreira Lima Sucupira (MONTENEGRO, Padre F. Op. cit., p. 28 e 29).
[18] Raimundo Pedroso Batista também descendia das quatro irmãs sergipanas, sendo filho do português Domingos Pedroso Batista e Teresa de Jesus Batista, a qual era filha do casal Francisca Pereira de Oliveira e do portugês tenente-coronel Antônio José Batista e Melo. Francisca era filha do tenente José Pereira Aço e Apolônia Correia de Oliveira, uma das quatro sergipanas (ARAÚJO, Padre Antônio Gomes de. Raízes Sergipanas.  Revista Itaytera, Ano III, Nº III, Crato/CE: Instituto Cultural do Cariri, 1957, p. 10).
[19] MACÊDO, Heitor Feitosa. Sertões do Nordeste. Op. cit., p. 164 e 171.
[20] ARAÚJO. Povoamento do Cariri. Op. cit., p., p. 81 e 105.
[21] MACÊDO, Heitor Feitosa. O Assassinato do Primeiro Tribunal do Júri no Cariri, em 1834. Monografia (URCA). Espacialização em Criminologia e Direito Penal. 2018, p. 174 e 175.