A Igreja de Nossa Senhora das
Dores, no Juazeiro do Norte/CE não foi construída no ano de 1827!
Heitor Feitosa Macêdo
De acordo com alguns pesquisadores, a
capela de Nossa Senhora das Dores, no município de Juazeiro do Norte, foi
edificada no ano de 1827 por ordem de seu capelão padre Pedro Ribeiro da Silva
Monteiro. Contudo, a leitura de um documento inédito, oriundo do arquivo da
Câmara da Vila do Crato, põe essa afirmação em dúvida, conforme veremos a
seguir.
Igreja de Nossa Senhora das Dores, Juazeiro do Norte/CE |
O Juazeiro do Norte é um município localizado
ao sul do Estado do Ceará, na região conhecida por Cariri, tendo se emancipado
do território do município do Crato no ano de 1911. Sua criação se deu por
força da lei nº 1.028, de 22 de julho, enquanto que sua inauguração só ocorreu
no dia 4 de outubro do referido ano[1].
Cabe destacar que seu primeiro prefeito foi o cratense padre Cícero Romão
Batista.
1- O Fundador da Capela de Nossa
Senhora das Dores
Na primeira metade do
século XIX, antes mesmo do padre Cícero nascer, o Juazeiro era apenas uma fazenda
pertencente ao padre Pedro Ribeiro da Silva Monteiro, neto do célebre
brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, ancestral da família Bezerra de Menezes
que, atualmente, administra o referido município.
Nesta sua fazenda Juazeiro, o padre
Pedro Ribeiro construiu uma casa grande de taipa e telha, além de um engenho de
cana-de-açúcar, onde, daí, administrava suas outras propriedades: Boca das
Cobras, Mata, sítio Prazeres, sítio Currais de Baixo bem como duas casas de
tijolo na vila do Crato, no atual quadro da Matriz[2].
Paisagem imaginária da povoação do Juazeiro no início do século XIX. Desenho a lápis do artista cratense Geraldo Benigno |
O padre Pedro Ribeiro presenciou
turbulentos episódios políticos da vila cratense, como a Revolução de 1817; a
votação da Constituinte de 1821; a Guerra de Independência de 1822; a
Confederação do Equador, de 1824 e a Guerra de Pinto Madeira. Ocorre que o
padre Ribeiro faleceu prematuramente, com quarenta e poucos anos, no dia 9 de
setembro de 1833, deixando em testamento todos os bens para o referido avô.
Ocorre que, em 20 de julho de 1837, o brigadeiro Leandro Bezerra, em testamento, declarou que seu desejo era ser enterrado
na “Capela da Povoação do Juazeiro”, ou seja, presume-se que, nesta data, a capela de Nossa
Senhora das Dores já existia. Mas quando ela teria sido edificada?
2- O Início da Construção da Capela
de N. S. das Dores
Sobre o início da
construção da Capela de Nossa Senhora das Dores, no município de Juazeiro do
Norte, parece não existir unanimidade entre os pesquisadores, pois, além de várias datas
serem apontadas, este evento também é confundido com o ato de inauguração,
conforme será visto.
O renomado historiador Raimundo Girão, em
sua obra “Os Municípios Cearenses e seus Distritos”, indica, peremptoriamente, que a Capela de Nossa Senhora das Dores
teria sido edificada pelo padre Pedro Ribeiro da Silva no ano de 1827:
Em
1827, pelo Padre Pedro Ribeiro da Silva Monteiro foi edificada, à sua custa,
uma pequena capela no lugar denominado Tabuleiro Grande do seu sítio Taboleiro,
em frente a um frondoso juazeiro, na estrada real que ligava Crato a Missão
Velha, à margem direita do rio Batateira.[3]
Já Irineu Pinheiro
(1881-1954), aparentemente, o primeiro a se aprofundar mais sobre no
assunto, conseguiu trazer a lume uma data precisa para o início da construção
da Capela de Nossa Senhora das Dores, qual seja, o dia 15 de setembro de 1827.
Igreja de Nossa Senhora das Dores, Juazeiro do Norte/CE |
Essa data foi por ele encontrada no
jornal Sul do Ceará, em edição de 16 de abril de 1905, na qual o senhor José
Joaquim de Maria Lôbo sustenta que, neste dia (15 de setembro de 1827), foi lançada a pedra fundamental
da dita capela:
Em
registro exarado pelo Ten-Cel. José Joaquim de Maria Lôbo, rábula, professor
primário e jornalista, lê-se que “em 15 de setembro de 1827, houve missa
cantada na casa de Oração pelo Padre
Pedro Ribeiro Monteiro, assistida pelo Padre Joaquim Lima Verde, que cantou a
Epístola, acolitado pelos seminaristas Antônio Pereira de Oliveira e José
Alexandre Correia Arnaud, mais tarde aquele, Vigário de Lavras da Mangabeira e
este de Cabrobó, assistindo ao ato o avô do celebrante, o Brigadeiro Leandro
Bezerra Monteiro, e seus filhos, coronel Gonçalo Luís Teles de Menezes,
Capitão-mor Joaquim Antônio Bezerra de Menezes, Capitão José Geraldo Bezerra,
capitão Manuel Leandro Bezerra de Menezes, inclusive o menor Pedro Lôbo de
Menezes, também sobrinho do Brigadeiro (...).[4]
Na mesma fonte se
abebera o pesquisador Joaryvar Macedo, vindo, por conseguinte, a consignar que a
construção da capela de Nossa Senhora das Dores teve início no dia 15 de
setembro de 1827:
Transferindo-se,
posteriormente, para o Sítio Juazeiro, que transformou em “central
administrativa de outros próprios”, exatamente
nesse novo habitat principiou, em 1827, a edificação da Capela de Nossa Senhora
das Dores, lançando, assim, os fundamentos da atual metrópole do Cariri. [5]
A pesquisadora Amélia
Xavier também se apoia nessa informação prospectada por Irineu Pinheiro.
Segundo ela, o padre Pedro Ribeiro de “Carvalho” (filho de D. Luiza Bezerra de
Menezes e do sargento-mor Sebastião de Carvalho Andrade), depois de ordenado e
residindo na fazenda que havia pertencido ao avô, Leandro Bezerra, resolveu ir
a Pernambuco requerer licença para a construção da capela em questão:
A
CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS DORES: - Ordenara-se Sacerdote o Pe. Pedro Ribeiro
de Carvalho, neto do Brigadeiro porque filho de sua primogênita, Luiza Bezerra
de Menezes e de seu primeiro marido, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho
Andrade, natural de Pernambuco. Para que o Padre pudesse celebrar diariamente
sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou
com o novel sacerdote a ereção de uma Capelinha, no ponto principal da Fazenda
perto da casa já existente. Dirigiram-se ao Senhor Bispo de Olinda e obtida a licença
iniciaram a construção. Demos a palavra ao Dr. Irineu Pinheiro que publicou em
seu livro “Efemérides do Cariri” o seguinte (...).[6]
Em seguida, Amália
repete as palavras de Irineu Pinheiro, conforme a citação acima transcrita, ou
seja, diz que o início das obras da capela se deu no dia 15 de setembro de 1827.
Diante da situação, fui tentar
localizar o jornal Sul do Ceará, que serviu de fonte a Irineu Pinheiro,
primeiro presidente do Instituto Cultural do Cariri (ICC), com sede no Crato.
No dia 6 de novembro de 2019, minha administração como presidente deste
instituto havia chegado ao fim, contudo, já havia digitalizado toda a coleção
da revista Itaytera e firmado contrato com o senhor Reginaldo Zurlo para a digitalização também jornais do início do século XX, pertencentes ao arquivo da dita instituição.
Jornal Sul do Ceará, p. 01 |
Felizmente, no caótico arquivo do ICC ainda
se encontra o jornal Sul do Ceará, bastante deteriorado e sem condições de
manuseio, necessitando, urgentemente, de restauro. O que mais me dói é saber
que, apesar de eu ter procurado ajuda perante IPHAN e outras instituições,
ninguém pôde ajudar. Deus queira que este procedimento de digitalização chegue
ao fim, pois, caso contrário, boa parte das fontes históricas sobre o Cariri
desaparecerão para sempre!
O fato é que, no dia de ontem, 17 de
novembro do referido ano, encontrei as frágeis páginas do hebdomadário quase
que aos frangalhos. Com muito cuidado, digitalizei pessoalmente a edição do dia
16 de abril de 1905, a qual cita a data do início da fundação da
Capela de Nossa Senhora das Dores.
O exemplar que encontrei, ano V, número
9, indica José Esmeraldo Sobrinho como chefe-redator, sendo que a sede desta redação localizava-se na Rua do Comércio, na cidade do Crato. Na página 2,
encontra-se, sob o título “Secção Livre”, uma matéria denominada “A Verdade”, assinada pelo já citado José Joaquim de Maria Lobo e com data de 19 de março de
1905, escrita no Juazeiro do Norte.
Jornal Sul do Ceará, p. 02 |
No parágrafo nono, depois de fazer uma
longa prédica firmado em princípios bíblicos, José Joaquim se contrapõe à
opinião de um “articulista” (autor de artigos de jornal) que havia indicado
1829 como sendo o ano da fundação da Capela de Nossa Senhora das Dores.
Affirma o articulista
ter sido fundada a Capella de N. S. das Dores no Joazeiro em 1829.
Não é exacto; foi sentada a pedra principal
a 15 de Setembro de 1827, havendo Missa cantada na casa de Oração pelo Padre
Pedro Ribeiro Monteiro, assistida pelo Padre Joaquim Lima Verde, que cantou
a Epistola, acolythado pelos siminaristas Antonio Pereira d’Oliveira Alencar
José Alexandre Correia Arnaut, mais tarde aquelle Vigario de Lavras de
Mangabeira, e este de Cabrobó, assistindo o acto o avô do celebrante, o
Brigadeiro Leandro Bizerra Monteiro e seus filhos, Coronel Gonçalo Luiz Telles
de Meneses, Capitão mór Joaquim Antonio Bezerra, Capitão José Geraldo Bezerra,
e Capitão Manoel Leandro Bezerra de Menezes; inclusive o menor Pedro Lobo de
Menezes tambem sobrinho do Brigadeiro, conhecido não só pela patente de Capitão
como por ter dado de uma ves dez contos de réis ao Rm.o Ibiapina
para construção da Casa de Caridade de Barbalha, afóra numeroso concurso de
cavalheiros e senhoras.[7]
O termo “sentar a pedra
principal” equivale a “lançar a pedra fundamental ou a pedra angular”, que,
trocando em miúdos, significa iniciar, solenemente, a construção de uma obra.
Ou seja, José Joaquim revela que, em 15 de setembro de 1827, a Capela de Nossa
Senhora das Dores não existia, porém, foi o dia em que se tornou pública e
oficial a decisão do seu soerguimento.
É lamentável que o informante não indique a fonte que serviu para
embasar tal narrativa. Teria sido uma ata? José Joaquim presenciou o ato ou
apenas recebeu esta informação diretamente da narrativa oral? O fato é que a data mencionada (15 de setembro de 1827) tem prevalecido em relação as demais.
Portanto, como se percebe, ao longo do
tempo, as opiniões sobre a data de início da construção da capela bem como
sobre a época em que ela teria ficado pronta não são uníssonas. Conforme
exposto, Raimundo Girão assevera que a capela em comento foi construída em
1827; Irineu, seguido por Joaryvar Macedo e Amália Xavier, respalda-se no
depoimento de José Joaquim de Maria Lobo, o qual indica 15 de setembro
de 1827 como marco para o início da edificação; enquanto o "articulista" do jornal
Sul do Ceará já havia registrado 1829 como sendo o exato ano da fundação da
Capela de Nossa Senhora das Dores.
Diante das preciosas informações
oferecidas, inclusive, por autores tão consagrados na historiografia cearense,
seria incoerente tentar revolver a superfície deste objeto. Contudo, os livros
da então Vila do Crato, datados de 1831, ajudam a entender melhor essas teses, fornecendo
novos elementos sobre a fundação da Capela de Nossa Senhora das Dores, hoje,
igreja matriz de Juazeiro do Norte.
3- Os Livros da Câmara da Vila do
Crato
Na câmara da vila
cratense, em seção de 22 de fevereiro de 1831. José Victoriano Maciel
(Presidente), Joaquim Ferreira Lima, Roque de Mendonça Barros, José Dias Azedo
e Melo e Mariano José Rabelo, remeteram ao vice-presidente da província do
Ceará, José de Castro Silva, uma correspondência, na qual tratavam de eleições
para o cargo de juiz de paz da vila.
Na época, a sede das eleições eram os
templos religiosos. Daí, ao citarem a povoação de Juazeiro, revelaram que a
capela de Nossa Senhora das Dores estava sendo construída e que, enquanto não
era finalizada, o capelão praticava seus atos na “casa de oração”:
(...)
capela da Senhora das Dores, que se está
erigindo distante desta vila três léguas tem capelão encarregado da cura
espiritual dos povos daquele distrito, pelo reverendo pároco desta freguesia em
uma casa de oração e a grande
influência dos povos daquele lugar tem feito com que na capela ereta muito breve se passa celebrar com decência (...).
Desta maneira, fica patente
que a estrutura da Capela de Nossa Senhora das Dores não se encontrava pronta no
ano de 1827, e, no de 1831, ainda estava em processo de construção, sendo
que o padre Pedro Ribeiro, proprietário e fundador, nesse período, utilizava
uma “casa de oração”, a qual, provavelmente, localizava-se dentro de sua
residência ou em lugar próximo.
Complementarmente, conforme o Doc. 02 (anexo: Correspondência da Câmara do Crato de 17 de março de 1831),
a capela de Nossa Senhora das Dores, ainda em construção, era filial da Matriz de
Nossa Senhora da Penha do Crato. Logo, presume-se que, se esta capela existisse
desde 1827, seria possível encontrar referências aos respectivos atos
sacramentais praticados em seu interior nos livros da freguesia de Nossa
Senhora da Penha, os quais estão disponibilizados no site dos Mórmons. Mas isso
não aconteceu, ou melhor, não se tem notícia de nenhum documento do tipo
entre os anos de 1827 a 1830.
No mais, foi um dos parentes do padre
Pedro da Silva Ribeiro, José Geraldo, quem admitiu categoricamente que, na
primeira metade de 1831, a Capela de Nossa Senhora das Dores ainda estava sendo
erigida (anexo: Doc. 03 ‒ Correspondência
de José Geraldo Bezerra de Menezes 24 de março de 1831):
A
Câmara desta vila tomou em consideração um requerimento que a ela foi feito em
nome de várias pessoas do sítio das Porteiras [contra elas e o meu e de meus
manos?] o coronel Gonçalo Luís Teles de Menezes e o tenente Manuel Leandro
Bezerra [mandando-se?] proceder [a] eleição
de juiz de paz para a capela de Nossa Senhora das Dores que se está erigindo
no sítio do Juazeiro, distante desta vila do Crato três léguas, cujo (...).
Ora, ao falar que a
dita capela ainda “se está erigindo”, José Geraldo assegura que o referido
templo não estava completamente construído, e, dessa maneira, não havia sido
inaugurado, pois sequer havia sido feita eleição para juiz de paz desta
capela.
4- Testemunho do médico Francisco
Freire Alemão
Entre os anos de 1859 a
1861, dezenas de cientistas brasileiros estiveram perambulando pela então
província do Ceará realizando estudos mineralógicos, etnográficos, botânicos,
entre outros. Essa empreitada científica, enviada pelo Imperador Dom
Pedro II, foi denominada de Comissão Científica de Exploração, à qual a
gaiatice cearense rebatizou de Comissão das Borboletas (pelo fato de os
cientistas coletarem estes insetos para estudos) ou Comissão Defloradora (em
decorrência dos namoros e paqueras entres integrantes desta Comissão e as moças
do Ceará).
Nesse grupo de cientistas, encontrava-se
o médico e botânico Francisco Freire Alemão, carioca que foi ao Ceará chefiando a Seção
Botânica. O fato é que ele, ao longo dessa viagem, escreveu um diário no
qual narra sua passagem por diversas localidades cearenses, incluindo a povoação
do Juazeiro.
Às
7 horas da noite do dia 7 de dezembro de 1859, Alemão, saindo de Missão Velha,
entrou na então povoação de Juazeiro do Norte, que, segundo ele, era formada
por gente branca e pobre: “como é quase tudo aqui pelo sertão”. Também narra
que o vigário, vestindo batina e usando chapéu de dois bicos, foi ao seu
encontro.
Na manhã do dia seguinte, antes de
Alemão se dirigir à cidade do Crato, foi se encontrar com o dito vigário na
Igreja do Juazeiro, isto é, de Nossa Senhora das Dores. Chegando ao templo, reparou
que esta encontrava-se inacabada, com as paredes internas sem reboco:
Levantamo-nos
de manhã, vestimo-nos para entrar no Crato, quase no meio da gente da casa e
das meninas com suas sainhas (depois do Icó, a maior parte da gente do povo e
mesmo algumas senhoras em sua casa andam vestidas de saia, com camisas finas,
transparentes, cheias de crivos, entremeios, rendas, babados etc. etc.). Fomos
nos despedir do vigário, daí fomos à igreja, que já estava aberta: é grande,
mas está ainda por dentro e por fora inteiramente nua, parecendo que nem
emboçadas, estão as paredes.[8]
A pergunta que não quer
calar é se a estrutura dessa igreja de Nossa Senhora das Dores, em 1859, era,
originalmente, a mesma da época da capela, cuja construção teve início,
supostamente, na década de 1827? Ao tempo da passagem de Alemão pelo Juazeiro,
a estrutura teria sido modificada por meio de alguma reforma?
Sabe-se que, em março de 1831, a capela
encontrava-se inacabada. Logo, em 1859, no curto lapso temporal de 28 anos, não
é crível que tivesse havido reforma significativa no templo mencionado, pois
uma edificação desta natureza exigia muito tempo e dinheiro.
Dessa forma, infere-se que, na segunda
metade do século XIX, a capela, depois igreja, de Nossa senhora das Dores já
funcionava plenamente, contudo, as obras estruturais ainda não haviam chegado
ao fim. Isto não resolve o problema, mas auxilia no melhor entendimento sobre
sua arquitetura e engenharia desta edificação sacra.
5- Conclusão
O assunto concernente à
data do início da construção da Capela de Nossa Senhora das Dores não está
pacificado, pois existem diferentes indicações, 1827 e 1829, por exemplo. Ao lado
disso, há quem afirme que o início das obras coincida com o início de seu funcionamento.
Para tentar resolver o problema, seria
necessário consultar os livros eclesiásticos em Pernambuco, a fim de encontrar
algo relativo à licença de construção da capela. Também é oportuno fazer
consulta criteriosa nos livros da Freguesia de Nossa Senhora da Penha, de
Crato, para conhecer a data, nem que seja aproximada, em que a capela de Nossa
Senhora das Dores entrou em funcionamento, batizando, casando, etc.
A princípio, pode parecer que o assunto
não tenha importância, contudo, estamos falando da primeira capela edificada no
território que, hoje, forma a cidade de Juazeiro do Norte, a Meca do Cariri.
Tal construção possui importância não apenas por sua primazia, mas, também, por
ser protagonista da fé crescente naquela urbe, por ter sido palco do “Milagre
de Juazeiro”, bem como por ter emprestado seu nome, durante a guerra civil de
1914, à principal trincheira daquele lugar, o vitorioso “Círculo da Mãe das
Dores”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALEMÃO, Francisco
Freire. Diário de Viagem de Francisco
Freire Alemão. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2011.
ARAÚJO, Pe. Antônio
Gomes de. Padre Pedro Ribeiro da Silva,
O Fundador e Primeiro Capelão de Juazeiro do Norte. Crato-CE: Separata da
Revista Itaytera, 1958.
GIRÃO, Raimundo. Os Municípios Cearenses e seus Distritos.
Fortaleza: SUDEC, 1983.
MACEDO, Joaryvar. Temas Históricos Regionais. Fortaleza:
Secretaria de Cultura e Desporto, 1986.
OLIVEIRA, Amália Xavier
de. O Padre Cícero que eu Conheci:
Verdadeira História de Juazeiro do Norte. Fortaleza – Ceará: Editora Henriqueta
Galeno, 1974.
PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza ‒ CE:
Imprensa Universitária, 1963.
DOCUMENTOS:
Arquivo do Instituto
Cultural do Cariri (ICC). Jornal Sul do Ceará. Ano V. Número 9. Crato: 16 de
abril de 1905.
Arquivo Público do
Estado do Ceará – APEC. Fundo: Câmara Municipal. Local: Crato. Data: 1830-1832.
Série: Correspondência expedida.
ANEXOS:
Doc. 01: Correspondência da Câmara
do Crato de 22 de fevereiro de 1831
Ilustríssimo
e Excelentíssimo Vice Presidente
Tendo o juiz de paz desta vila
viajado para Piauí sem requisitar, e nem obter licença alguma, ficando assim
paralisado um tão necessário, e melindroso expediente, tratou esta Câmara de
proceder eleições na conformidade da lei sem atenção ao ofício de Vossa
Excelência de 18 de dezembro de ano pretérito; para suplente do juiz da paz
desta mesma vila tem passado ao que obteve a maioria de votos, o que se
concluiu no no dia 20 do corrente. Nas mesmas circunstâncias se acha o círculo
da povoação da Barbalha por ter se passado para diferente termo o suplente do
juiz da dita povoação este ter requisitado, por vezes a esta Câmara, um
suplente para substituir, pois se acha em aberto, e atendendo esta Câmara a
justa requisição marcou o dia 27 do corrente para se proceder [fl. 01]
Proceder na mesma capela a eleição
com as formalidades da lei. Também participamos a Vossa Excelência que a capela da Senhora das Dores, que se está
erigindo distante desta vila três léguas tem capelão encarregado da cura
espiritual dos povos daquele distrito, pelo reverendo pároco desta freguesia em
uma casa de oração e a grande influência dos povos daquele lugar tem feito com
que na capela ereta muito breve se passa celebrar com decência, e sendo
presente em Câmara uma requisição de vários cidadãos daquele lugar, e
ponderando o quanto convinha ao bem público oração de um juiz de paz na
sobredita capela, e convencendo-se esta Câmara da bem justa requisição
deliberar que na conformidade das leis sobre este objeto, e Decreto [fl. 02]
Decreto de 11 de setembro de 1830 se
proceda à eleição na segunda dominga dom próximo futuro mês de março, sobre o
que Vossa Excelência determinará o que for servido.
Deus guarde a Vissa Excelência
Vila do Crato em seção de 22 de
fevereiro de 1831.
Ilustríssimo
e Excelentíssimo Senhor José de Castro Silva Vice Presidente desta província.
José Victoriano Maciel. Presidente
Joaquim Ferreira Lima
Roque de Mendonça Barros
José Dias Azedo e Melo
Mariano José Rabelo [fl.
02v]
Doc. 02: Correspondência da Câmara
do Crato de 17 de março de 1831
Ilustríssimo
e Excelentíssimo Senhor Vice Presidente
Em cumprimento: do ofício de Vossa
Excelência de 18 de dezembro de 1830 informamos a Vossa Excelência que existem
neste termo três capelas, Santo Antonio da Barbalha. Santana do Brejo Grande, e
a capela da Nossa Senhora das Dores do
Juazeiro; aquela filial da matriz de São José de Missão Velha, estas filiais desta matriz da Senhora da
Penha da vila do Crato: todas tem capelão que administram os sacramentos
com autoridade dos párocos: todas tem
juiz de paz, a exceção da Capela da Senhora das Dores que no dia 13 do corrente
é que foi eleito juiz de paz por ser curada, como já participamos a Vossa
Excelência em sessão de 22 de fevereiro do ano corrente.
Deus guarde.
a
Vossa Excelência Vila do Crato em [fl.
01]
sessão
de 17 de março de 1831.
IIlustríssimo
e Excelentíssio Senhor José de Castro Silva Vice-presidente desta província.
José
Victoriano Maciel. Presidente
José
Dias Azedo e Melo
Roque
de Mendonça Barros
Francisco
Pereira Lobo de Menezes
Joaquim
Ferreira Lima [fl. 02]
Doc. 03: Correspondência de José
Geraldo Bezerra de Menezes 24 de março de 1831
A
Câmara desta vila tomou em consideração um requerimento que a ela foi feito em
nome de várias pessoas do sítio das Porteiras [contra elas e o meu e de meus
manos?] o coronel Gonçalo Luís Teles de Menezes e o tenente Manuel Leandro
Bezerra [mandando-se?] proceder [a] eleição
de juiz de paz para a capela de Nossa Senhora das Dores que se está erigindo
no sítio do Juazeiro, distante desta vila do Crato três léguas, cujo
requerimento não foi por nós assinado e nem dele sabemos p.m contudo
além desta capela não ser curada para ali se trazer juiz de paz como se vê da
certidão junta, conforme dispõe a lei, ainda sim se procedeu a dita eleição no
dia 13 de março como se vê da ata e [saí eu eleito?] juiz de paz e meu mano
tenente Manuel Leandro Bezerra suplente, como da mesma ata se mostra a vai
inclusa, e sendo nós ambos oficiados pela dita Câmara para tomarmos posse foi a
mim conferida, e ao meu mano negada e logo fazendo eu requisitar a posse do meu
suplente me foi dado um despacho que também remeto a Vossa Excelência já meus
[fl. 01]
[incompleto]
quiseram dar dita posse nem a ele [e nomeou outrem qualquer?] imediato e porque
eu me vejo encarregado nas [palavra ilegível] dos dízimos [incompleto] jornais
para meu Rei, e não posso deixar subir às juntas dos gados vacum e cavalar
prontamente a Fazenda Pública [incompleto] logo foi por mim protestado embora
para que me não fosse criminosa a falta nada digo foi capaz os convencer o que
participo a Vossa Excelência para dar as ditas providências
Ilustríssimo
e Excelentíssimo Senhor José de Castro Silva Presidente da Província do Ceará
[incompleto]
24 de março de 1831
Deus
Guarde Vossa Excelência Sabd.o:
José
Geraldo Bezerra de Menezes [fl. 02]
Doc. 04:
Ata de eleição para juiz de paz e suplentes da Capela de N. S. das Dores
(Esses
docs foram encontrados por mim no Arquivo Público do Estado do Ceará – APEC.
Fundo: Câmara Municipal. Local: Crato. Data: 1830-1832. Série: Correspondência
expedida).
[1] GIRÃO, Raimundo. Os Municípios Cearenses e seus Distritos.
Fortaleza: SUDEC, 1983, p. 124.
[2] ARAÚJO, Pe. Antônio Gomes de. Padre Pedro Ribeiro da Silva, O Fundador
e Primeiro Capelão de Juazeiro do Norte. Crato-CE: Separata da Revista
Itaytera, 1958, p. 10.
[4] PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza ‒ CE:
Imprensa Universitária, 1963, p. 430 e 431.
[5] MACEDO, Joaryvar. Temas Históricos Regionais. Fortaleza:
Secretaria de Cultura e Desporto, 1986, p. 106.
[6] OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu Conheci:
Verdadeira História de Juazeiro do Norte. Fortaleza – Ceará: Editora Henriqueta
Galeno, 1974, p. 34.
[7] Arquivo do Instituto Cultural do
Cariri (ICC). Jornal Sul do Ceará. Ano V. Número 9. Crato: 16 de abril de 1905,
p. 02.
[8] ALEMÃO, Francisco Freire. Diário de Viagem de Francisco Freire Alemão.
Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2011, p. 159.