A
Família Feitosa e o Cangaço
Heitor Feitosa Macêdo
Dentre os estudos do
cangaço, merece especial atenção os escritos de um dos membros da Academia
Brasileira de Letras, Gustavo Barroso, advogado, historiador, folclorista,
sociólogo, antropólogo etc., bem como inspirador de muitos trabalhos acerca do
banditismo rural.
Em várias obras Gustavo Barroso faz recorrente menção aos
Feitosa dos Inhamuns/CE, resgatando o período da guerra com os Montes (que
entende, erroneamente, ter ocorrido no século XIX)[1],
narrando os feitos de alguns integrantes da citada família na vida do cangaço.
Pelo critério de conceituação de cangaço, adotado por
Gustavo Barroso,[2]
quase que não sobrou família brasileira fora do cangaceirismo, porém, o autor
escolheu a dedo uma pequena fração que representasse essa manifestação do
banditismo rural. Foi assim que o dito imortal usou para exemplificar como
“famílias de cangaceiros”, além dos Barrosos do Curu, os Cunhas do Boqueirão,
os Paulos do Trapiá e os Dantas do Teixeira, também os Feitosas dos Inhamuns.[3]
A partir dos estudos de Gustavo Barroso e de outros autores
podemos identificar vários indivíduos ligados à família Feitosa que tiveram
alguma participação no fenômeno social do cangaço, os quais serão enumerados
logo abaixo.
1-
Coronel Manoel Martins Chaves: “O Feitosa, O Chefe dos Feitosa ou O Grande Cangaceiro”
Como a maioria dos estudiosos do
cangaço, Gustavo Barroso dedicou-se à análise de tal fenômeno observando-o a
partir do século XIX, ou seja, considera, implicitamente, que o seu objeto de
estudo tenha nascido das relações sociais estabelecidas no início de 1801 em
diante. E isto pode ser facilmente observado quando o autor trata do combate ao
protecionismo dado aos cangaceiros pelos coronéis no Ceará,[4]
fazendo menção apenas aos fatos ocorridos já no referido século. [5]
Ainda, relativamente ao assunto, Barroso diz que por volta
de 1808 o Coronel Manoel Martins Chaves fora preso pelo governador João Carlos
Oyenhausen e Grevenburg, acusado pela morte do Juiz Ordinário Antonio Barbosa
Ribeiro.[6]
Ao tratar do assunto Gustavo Barroso batizou Manoel Martins Chaves de “O Grande
Cangaceiro”.[7]
O episódio envolvendo o Coronel Manoel Martins Chaves foi
relatado no começo do século XIX pelo inglês Henry Koster,[8]
sendo seguido e copiado por seu conterrâneo Robert Southey.[9]
As histórias contadas por estes dois escritores, disseminadas pela Europa,
foram colhidas poucos anos depois do ocorrido. Sendo notória a referência feita
ao Coronel Manoel Martins Chaves como “O Feitosa” ou “O Chefe dos Feitosa”.[10]
De fato, essa ideia de o Coronel Manoel Martins Chaves ser
um Feitosa propagou-se entre o povo e pelos anos seguintes como uma verdade
absoluta, conforme registrado no diário do médico-botânico Francisco Freire
Alemão, que esteve no Ceará entre os anos de 1859 e 1860.[11]
Na verdade, o Coronel Manoel Martins Chaves não era um
Feitosa, mas primo, pois antes das famílias Martins Chaves (ou Araújo Chaves) e
Feitosa migrarem das margens do Rio São Francisco em direção ao Ceará, já
estavam entrelaçadas consanguineamente.
O parentesco se deu da seguinte forma. O primeiro Manoel
Martins Chaves (português) teve duas filhas, uma chamada Ana Gomes Vieira, que
casou com o Capitão da Vila de Penedo, João Álvares Feitosa (português), e
outra chamada Nazária Ferreira Chaves, que se casou com o português Antonio de
Sousa Carvalhedo.[12]
Este último casal gerou o Capitão-mor José de Araújo Chaves, avô do Coronel
Manoel Martins Chaves (o segundo do nome),[13]
mencionado por Gustavo Barroso.
A amizade entre as duas famílias era intensa, daí surgindo
muitos casamentos e uma imbricada parentela. A confusão entre ambas seria
inevitável, principalmente pelo fato de a única filha do Coronel Manoel Martins
Chaves (2º) ter se casado com um Feitosa, o Major José do Vale Pedrosa.[14]
Destaque-se que a história muitas vezes se torna uma grande
vilã, eivada de injustiças, principalmente quando se socorre unicamente da
tradição oral ou de documentos tendenciosos, como ocorreu com o Coronel Manoel
Martins Chaves. Este, preso por um crime que não cometeu, não teve oportunidade
do contraditório e da ampla defesa, vindo a morrer em situação deplorável nas
enxovias do Limoeiro. Tudo por uma questão de política criminal e autopromoção
de seu algoz, afilhado da rainha Maria I.[15]
Ressalte-se que o dito coronel fora preso juntamente com um
de seus sobrinhos, Francisco Xavier de Araújo Chaves, acusado do mesmo crime,
voltando este ao Brasil em 1810,[16]
no mesmo ano em que nasceu um de seus netos, o Brigadeiro Sampaio, herói da
Guerra do Paraguai e Patrono da Arma de Infantaria do Exército Brasileiro, o
qual, por ironia do destino, quando criança, fora apaixonado pelo cangaço.[17]
A história é paciente, demorada e cheia de surpresas, tendo
como maior virtude a força de desmentir os homens, impondo novas versões aos
velhos fatos.
2-
Jesuíno Brilhante: “O Maior Cangaceiro do Século XIX”
Jesuíno Brilhante de Alencar e Souza[18]
nasceu no turbulento ano de 1824, em Pombal, na Paraíba, sendo filho do
bacharel Feitosa Bezerra de Menezes com uma moça da família Alencar. O pai de
Jesuíno não fugiu aos ditames militares do tempo, participando da Guerra de
Pinto Madeira, ocorrida no Cariri cearense em 1831.[19]
Depois da morte do pai, Jesuíno, em 1837, aos treze anos de
idade, depois de ter assassinado um homem, fugiu para o Sertão dos Inhamuns/CE,
região dominada pelos Feitosa, onde se casou com uma prima.[20]
Além de todos esses informes sobre parentescos e outras
relações, também asseverou Gustavo Barroso que Jesuíno Brilhante havia sido o
maior cangaceiro do século XIX.[21]
3-
Antonio Silvino: “O Rifle de Ouro, O Governador do Sertão”
Em
regra, as primeiras famílias que colonizaram o sertão eram aparentadas entre
si. Isto é o que se observa entre os Feitosa com os Pereira do Pajeú e com os
Morais Rego (ou Souza Rego).
Para entender melhor o parentesco com os Pereira do Pajeú,
temos que retroagir no tempo, chegando ao final do séc. XVII e início do séc.
XVIII, quando o Coronel Francisco Alves Feitosa ainda estava em Penedo/AL, onde
foi casado com Catarina Cardosa da Rocha Resende Macrina, viúva de um indivíduo
chamado “fulano” Pereira do Canto, cujos filhos ficaram na Ribeira do Pajeú,
daí descendendo os famosos Pereiras do Pajeú.[22]
Essa ligação entre os Feitosa e os Pereira se manteve por
muitos anos, havendo constante interação, como visitas mútuas, esconderijo para
os foragidos da lei e das vinganças, presentes de gado, trocas de favores etc.
Já os laços sanguíneos com os Morais Rego, deram-se também
em tempos muito remotos, surgindo a partir de casamentos entre um filho do
Capitão-mor de Oeiras/PI, Pedro de Sousa Rego, com a filha de uma enteada do
Coronel Francisco Alves Feitosa.[23]
Sendo ainda hoje bastante comum encontrar integrantes da família Feitosa usando
tais sobrenomes, tanto na forma conjugada (Morais Rego/Sousa Rego), quanto
separadamente (Morais, Rego, Sousa).
Disse Gustavo Barroso que Antonio Silvino era filho do
também cangaceiro Pedro Rufino Batista de Almeida, o Batistão, o qual havia
obedecido “às inclinações da raça e da família, aos impulsos do sangue e aos
exemplos da parentela”.[24]
Explicação claramente determinista e lombrosiana para estereotipar o agente do
crime.
Os tios segundos de Batistão eram o Barão do Pajeú e José
Antonio do Saco dos Bois.[25]
Os parentes mais afastados eram Manoel Ferreira Grande e o Coronel Manoel
Ignácio, protetor de Silvino Ayres, mestre de Antonio Silvino. Assim,
sentenciou Barroso que dificilmente Batistão escaparia aos aspectos ibserianos
de sua ancestralidade.[26]
Batistão se lançou ao sertão, indo até o Sul do Ceará,
depois perambulando do Apodi, no Rio Grande do Norte, à Serra da Joaninha, no
sertão dos Inhamuns, sendo que neste último lugar envolveu-se com uma moça,
Balbina de Morais, com quem veio a se casar. Segundo Barroso, Balbina contava
em sua ascendência os maiores lutadores do sertão, pelo lado materno os Alencares,
os Morais, os Feitosa e os Brilhantes da Paraíba, pelo lado paterno, o caudilho
Pinto Madeira etc.[27]
Foi morar Batistão em Pernambuco, no sertão de Flores,
Pajeú, onde teve três filhos, Francisco, Zeferino e Manoel Batista de Morais.[28]
Era o sertão o país das intrigas, havendo constantemente disputas por limites
de terra, o que, por vezes, findava motivando as lutas entre as famílias. Em
razão disso, Bastistão terminou sendo assassinado, permanecendo os criminosos
impunes.
Então, foi aí que Manoel Batista de Morais, para vingar a
morte do pai, entrou no cangaço, adotando o pseudônimo Antonio Silvino para
homenagear seu mestre na sangrenta profissão, Silvino Ayres Cavalcanti de
Albuquerque. Abraçando a vida de mortes, fez nome pelos sertões, ganhando de um
“cantor matuto” o apelido de “Rifle de Ouro, Governador do Sertão”.[29]
4-
Miguel Feitosa Bizarria Lima: “O Medalha”
No período áureo do cangaço, início do
século XX, quando o fenômeno havia ganhado grande glamuor e notoriedade no país, tendo à frente o bando de Lampião e
os seus subgrupos, fazia parte do séquito de Virgulino o cangaceiro Miguel
Feitosa Bizarria Lima, vulgarmente conhecido como “O Medalha”.
Miguel trazia redundância em seu nome, Feitosa e Bizarria,
sobrenomes que, no Ceará,[30]
se tornaram praticamente sinônimos. Isto pelo fato do Sargento-mor Leandro
Custódio de Oliveira Castro, imigrado do RN no final do século XVIII, ter se
casado com Eufrásia Alves Feitosa,[31]
natural dos Inhamuns.
Frise-se que Leandro já possuía um filho, Leandro Custódio
Bezerril, o seu primogênito (filho de Ana Tereza da Anunciada), o qual foi
morar com o pai, o Sargento-mor Leandro, no Ceará, onde também veio a se casar
dentro da família Feitosa, tomando por esposa Josefa.[32]
Não havia uma regra muito rígida para o uso dos sobrenomes,
consequentemente, existindo variações para se escrever um mesmo patronímico.
Assim, Bezerril corrompeu-se em Bizarria,[33]
sendo que este segundo nome foi o mais usado e propagado pelos descendentes de
Leandro Custódio Bezerril, o qual também se assinava como Bezarril.[34]
Miguel Feitosa Bizarria Lima havia entrado para o grupo de
Lampião, batizado com o cognome de “O Medalha”, atando grande amizade com
Virgulino, porém, haveria de deixar o cangaço, passando a servir à polícia estadual
como volante.
Seguindo a regra do tempo e do meio, Miguel foi,
primeiramente, vaqueiro, depois adentrou a vida do cangaço, ao lado de Lampião,
abandonando-a para integrar as forças militares de Pernambuco, como ele mesmo
declarou.[35]
5-
Sebastião Pereira da Silva: “O Sinhô Pereira ou O Seu Rodrigues”
Sebastião Pereira e Silva, vulgarmente
conhecido como Sinhô Pereira, era natural da Ribeira do Pajeú, nascido em Serra
Talhada/PE, no berço dos celebrizados Pereiras do Pajeú. Tendo abraçado a vida
do cangaço a troco de vingança, vindo a agregar em seu bando Virgulino Ferreira
da Silva, o Lampião.
Corroborando a Teoria do Escudo Ético (defendida por
Frederico Pernambucano de Melo), para se vingar de alguns membros da família
Carvalho,[36] Sinhô
Pereira e seus parentes organizaram em um grupo armado, até que mataram
Antonio da Umburana, fato que determinou a retirada de Sinhô Pereira do
cangaço,[37]
afinal, este célebre cangaceiro possuía jactante ascendência (sendo
sobrinho-neto do Barão do Pajeú,[38]
Andrelino Pereira da Silva), com muitas posses, não necessitando da rapina,
muito menos de praticar atos vilipendiosos, como estupros, sequestros e
castração.[39]
Como ficou dito, o parentesco entre os Pereira do Pajeú e os
Feitosa dava-se desde o período colonial, quando do casamento do Coronel
Francisco Alves (1º) com a viúva Catarina da Rocha, matriarca dos Pereira na
Região do Pajeú.
A ligação entre estas
famílias era estreita, pois, como se pode observar, a interação entre os clãs
se propagou no tempo. Registrou o ex-deputado cearense Antonio Gomes de Freitas
que o Coronel Antonio Pereira (filho do Barão do Pajeú) presenteou Cândido
Alves Feitosa (dono da Fazenda Murzela, em Aiuaba/CE) com um garrote da raça
“Cardão”.[40]
Acrescente-se que muitos indivíduos dos Inhamuns, da família
Feitosa, fugindo de perseguições, privadas ou estatais, iam se esconder no
Pajeú, observando-se também o processo inverso, sendo bastante conhecidos os
casos de integrantes da família Pereira que migravam para os Inhamuns buscando
proteção.
6-
Crispim Pereira de Araújo: “O Antonio Alves de Araújo, vulgo Ioiô Maroto”
Ioiô Maroto, à esquerda. |
O comerciante de São José de Belmonte, Luiz Gonzaga Ferraz,
mesmo não pertencendo à família Pereira nem aos Carvalho, clãs adversários
entre si, ajudava à polícia na perseguição contra Sinhô Pereira,[41]
o que abalou sua amizade com o seu compadre Ioiô Maroto.
Assim, certa vez, quando a polícia visitou a residência de
Crispim Pereira de Araújo, na Fazenda Cristóvão, em São José do Belmonte/PE,
submeteu o seu respeitável dono a enormes vexações, inclusive, agredindo-o com
coronhadas de rifle.[42]
A vítima ao perguntar quem era o mandante de tamanha ofensa, obteve como
resposta que aquilo partira de Gonzaga.
Nesse tempo, Sinhô Pereira já não mais residia naquelas
paragens, mas um dos membros de seu grupo, Lampião, continuava na localidade, o
qual apoiou Crispim Pereira na sua empreitada vingativa. Dessa maneira,
executaram seu plano, dando cabo da vida de Gonzaga no dia 22 de agosto de
1922.[43]
Depois disso, para escapar às perseguições, Crispim Pereira
de Araújo foi residir no Sertão dos Inhamuns/CE, sob a proteção de um Feitosa,
o Coronel Leandro Custódio de Oliveira e Castro, mais conhecido por Leandro da
Barra.
O Coronel Leandro já havia hospedado outros indivíduos
oriundos de Pernambuco, dentre eles os três irmãos do afamado cangaceiro
Antonio Silvino, chamados Vicente, José e Miguel, que foram aos Inhamuns por
não poderem ficar em sua terra natal sem serem perseguidos.[44]
Destaque-se que Crispim Pereira de Araújo quando chegou à
Fazenda Barra, do Coronel Leandro, este lhe mostrou um presente que havia
ganhado do Capitão Cassiano Pereira (avô das duas últimas esposas de Crispim),
uma pistola em um estojo cravejado de prata, o que mais uma vez demonstra o
intercâmbio entre as famílias dessas regiões, os Pereira de Pajeú e os Feitosa
dos Inhamuns.[45]
O certo é que Crispim deitou raízes nos Inhamuns, passando a
se chamar Antonio Alves de Araújo. No sertão do Ceará, adquiriu a Fazenda Malhada,
onde viveu com sua família pelo resto de seus dias, vindo a falecer no dia 19
de maio de 1953, aos 65 anos de idade.[46]
Nos Inhamuns, quase todos os seus filhos casaram-se dentro da família Feitosa.
7-
José Custódio Bizarria
José Custódio Bizarria é mencionado por
diversos autores, sempre em episódios também ligados ao cangaço, pois tomou
parte em alguns eventos marcantes na história do banditismo rural. Podendo-se
destacar também o fato de ser ele sobrinho de Ioiô Maroto, o Crispim Pereira de
Araújo.
José Bizarria era fruto da união de um Feitosa dos Inhamuns
com uma Pereira do Pajeú, pois sua mãe, Joaquina Pereira de Araújo, também
conhecida como Joaquina Pereira Bizarria (Dona Quina), era irmã de Crispim
Pereira de Araújo, enquanto que seu pai chamava-se Manoel Custódio Bizarria.[47]
Seu genitor, Manoel Custódio Bizarria, era filho de José
Custódio Bizarria (Cazé), que, por sua vez, era filho do Capitão José Custódio
Bezerril e de Dona Matilde.[48]
Mas onde está o parentesco com a Família Feitosa?
O parentesco com os Feitosa provém tanto de Dona Matilde
quanto do Capitão José Custódio Bezerril, porque ela era filha de Vicente
Pereira e Francisca Alves Cavalcante.[49]Já
o Capitão José Custódio Bezerril era filho de Leandro Custódio Bezerril (1º) e
de Josefa.[50]
José Bizarria é citado com frequência entre os integrantes
do bando de Sinhô Pereira.[51]
E, no dia da morte de Luiz Gonzaga Ferraz, José Bizarria também esteve
presente, ao lado do tio, Ioiô Maroto, tomando parte na luta, da qual saiu
gravemente ferido com um tiro no pescoço, sendo socorrido por Pedro Caboclo, e,
depois, tratado com raspa de catingueira.[52] José Bizarria não chegou a se casar e morreu assassinado por um policial em Jati/CE (antes, Macapá) [53].
8-
Quintino Feitosa
Quintino Feitosa era natural da Paraíba,
talvez pertencente a algum dos velhos troncos que se dispersaram pelo Nordeste, e
terminou indo residir no Juazeiro do Norte/CE, no início do século XX, quando a
pequena urbe encontrava-se em violento estado de ebulição, fervilhando de
hordas cangaceiras.
Oriundo do Teixeira, na Paraíba, Quintino morou algum tempo
na região do Pajeú de Flores, em Pernambuco,[54]
e, depois, foi residir no Juazeiro, onde participou ativamente dos combates
contra as tropas de Franco Rabelo, na chamada Sedição do Juazeiro, em 1914.
A participação de Quintino na Guerra de Sedição do Juazeiro
lhe conferiu grande notoriedade, em particular, por ter comandado a trincheira
das Malvas (perto das residências de Floro Bartolomeu e do Padre Cícero), na
qual repeliu heroicamente o avanço de uma das tropas rabelistas, comandada por
Lourenço Ladislau, durante o segundo ataque feito ao Juazeiro.[55]
Na ocasião, Quintino Feitosa, chefiando apenas 30 homens,
defendeu sua trincheira, além de impedir a detonação do canhão trazido pelas
tropas inimigas.[56]
Tal peça de artilharia era fundamental para o ataque, porém, dois dias depois
de chegar ao Juazeiro, já havia sido apreendida e guardada no quintal do Padre
Cícero.[57]
Esta sua atuação deu-lhe grande reputação, conforme se
depreende das palavras do escritor Aldenor Benvides, arrematando que Quintino
Feitosa era: “talvez o homem mais valente que já pisou no solo juazeirense”.[58]
Mas esta fama veio acompanhada de maus olhares, contaminados pela inveja de
dois cruéis cangaceiros, os irmãos Francisco (Senhorsinho) e José Pinheiro,
conforme registrou Amália Xavier:
Os dois irmãos,
Senhorzinho e Zé Pinheiro, tornaram-se inimigos de Quintino que, após a
revolução, ficou conhecido e honrado com o título de um dos mais valentes, se
não o mais destemido combatente da época. Os 2 não aceitaram a opinião pública
pois julgavam-se com direito às maiores glórias. Começaram as tricas e rixas,
os insultos e as ameaças, até que chegaram às hostilidades.[59]
Enxergando as virtudes de Quintino, Floro Bartolomeu
resolveu nomeá-lo para o cargo de delegado de Juazeiro do Norte, o que só
atiçou mais ainda a sanha dos opositores, em outras palavras, a sua nomeação
foi “como que uma pedra atirada em caixa
de marimbondo”.[60]
Disseminava-se pelo Juazeiro a história de que Quintino era
um homem intrépido e capaz de, sozinho, enfrentar muitos outros, pois desde
jovem era, na sua terra natal, acostumado a enfrentar perigos, sendo muito
arrojado e impulsivo, possuindo uma “natureza
ardente, mas, só em último recurso, utilizava a sua tão propalada bravura”.[61]
Certa feita, um dos homens do delegado Quintino, João
Batista, matou Nezinho, ligado à família dos Pedros. Depois do crime, o
assassino buscou a casa de seu conterrâneo, Quintino, o qual se fez solidário
ao amigo, não o levando para o xadrez, pois sabia que ao chegar à delegacia
João Batista seria linchado.
Os opositores do homicida, insatisfeitos com a situação,
dirigiram-se armados à casa de Quintino, a fim de realizar a referida prisão.
Um pouco antes de isso acontecer, aproveitando-se do clamor dos bandidos, os irmãos
Pinheiro já haviam se dirigido até as Malvas, para a casa de Quintino, com o
suposto propósito de negociar a rendição de João Batista.
Conta-se que quando um desses irmãos alcançou às portas da
casa de Quintino, este se dirigiu a Francisco Pinheiro (Senhorzinho) dizendo
que não queria brigar, e o mandou ir embora, pois que “ele com aquela disposição, ali sozinho, era porque, ou estava bêbado ou
louco e que ele, Quintino, não queria brigar nem com um e nem com outro; que
fosse então chamar o irmão e os companheiros”. De pronto, Senhorzinho
respondeu esta bravata com os seguintes termos: “eu nasci foi só”, vindo a disparar o primeiro tiro.[62]
Defendeu-se Quintino com uma bala certeira que varou o peito
do seu agressor, e, impassível, continuou no mesmo lugar à espera do irmão do
morto. Assim, quando este chegou, Quintino confirmou-lhe ser o autor da morte
de Senhorzinho e ainda disse a José Pinheiro que era seu dever, como irmão,
fazer vingança.[63]
Tomando conhecimento do ocorrido, o Padre Cícero se dirigiu
ao lugar da contenda, chegando a tempo de evitar mais mortes, ordenando que
todos voltassem para suas casas, “ameaçando
com o cajado os mais atrevidos que não obedeceram prontamente”.[64]
No momento, Zé Pinheiro, louco de ódio, chorando desesperadamente, já se
encontrava na companhia de alguns homens para fazer vingança, no entanto,
tiveram que adiar os seus planos.
Como se não bastasse, outro evento veio piorar a situação.
No dia nove de novembro de 1914, Zé Pinheiro foi até o Banco Tesouro da Família
para retirar certo numerário. Em frente a este banco estava a Coletoria
Estadual, onde se encontravam três homens para fazer a segurança do
estabelecimento, pois o coletor, por ser cunhado de Quintino, temia alguma
represália.
Dessa forma, Zé Pinheiro, ao sair do banco, quase recebeu um
tiro disparado por um desses defensores da Coletoria, que assim agira por conta
própria, talvez, em razão de uma provável inimizade.[65]
Não demorou, e no mesmo dia voltou Zé Pinheiro com os seus cabras, atirando
contra o prédio da Coletoria, que foi invadido e depredado.[66]
Depois disso, aproveitaram o ensejo e marcharam para as
Malvas, lugar em que residia Quintino. Este, no interior de sua casa, foi
atacado por mais de cem homens armados, recebendo disparos que vinham de três
direções. Quintino respondeu à ofensiva, sendo auxiliado por apenas 12 homens
entrincheirados no seio da sua residência.[67]
Durante o combate, por duas vezes faltou munição para
Quintino e seus homens, momento em que um cabra seu, de nome Amaro, um rapazinho
de 18 anos, oriundo do Riacho do Navio (Zona do Pajeú), pulou uma das janelas
e, em seguida, rolou no chão enquanto atirava, habilidade que causava admiração
até mesmo aos seus inimigos. Então, voltou o rapaz para o interior da casa
trazendo as balas.[68]
A cabroeira de
Quintino, a maioria da Região de Flores, no Pajeú, despendia grande esforço por
combaterem se movimentando constantemente pelo interior da residência. A esposa
de Quintino, sentada no chão, municiava as armas dos homens, enquanto sua afilhada,
Filomena (Filó), também atirava contra os sitiantes.
Já com quase 24 horas[69]
de intenso tiroteio, um primo de Quintino, Pedro Domingos, residente no Sítio
Carás, chamou-lhe a atenção para o perigo que se aproximava naqueles últimos
instantes. Porém, Quintino estava decidido a morrer brigando e, se fosse
preciso, de punhal, por isso liberou aqueles que desejassem fugir.
Pouco tempo depois, Quintino tombou ferido, sendo arrastado
para a dispensa por Filó, a qual, munida de um rifle, postergou o embate “com muito mais ardor e disposição como
jamais pensava fazer”.[70]
Assim, agonizante, Quintino ordenou que sua mulher e os demais fossem embora.
Quando Zé Pinheiro invadiu a casa, Quintino já estava morto,
mas, mesmo assim, o cruel cangaceiro ainda disparou sua arma contra o cadáver,
que “era temido, mesmo depois de morto”.
Em seguida, o corpo de Quintino foi arrastado por uma das pernas até a frente
da casa, e apunhalado por Zé Pinheiro, a ponto de ficar irreconhecível. Este,
não satisfeito, decepou o lábio superior do defunto usando uma faca de dois
palmos de lâmina, jogando o pedaço extirpado dentro de um bornal, junto com as
balas.[71]
O crânio de Quintino foi esmigalhado com as coronhas dos
rifles, de forma que o corpo só pode ser reconhecido através do dedo da mão
direita, que era torto por um “panarício”. Para completar, Zé Pinheiro,
reproduzindo uma cena antropofágica, bebia nos bares usando o pedaço do lábio
de Quintino como tira gosto, submerso num copo de cachaça.[72]
O triste espetáculo, regado a sangue e carne, era seguido de
gargalhadas sinistras de Zé Pinheiro, que se aproveitou da ausência de Floro
Bartolomeu e do Padre Cícero para promover tão lamentável ação. Porém, meses
depois, em Alagoas, o truculento cangaceiro também foi assassinado, por gente
do seu próprio grupo, sofrendo o seu cadáver o mesmo vilipêndio que havia feito
ao de Quintino.[73]
9-
Virgulino Ferreira da Silva: “O Lampião, O Rei do Cangaço ou O Tigre do Sertão”[74]
Lampião
era descendente dos Feitosa?
São quase intermináveis as discussões
sobre Lampião ser ou não ser descendente da família Feitosa. Dois grandes
intelectuais se engalfinharam nesta seara, o juiz de direito Dr. Carlos Leite
Feitosa e Nertan Macedo.
1ª
Hipótese: Lampião era neto de Manoel Ferreira Gondim
Nertan Macedo foi um dos primeiros a
vociferarem o parentesco de Lampião com a família Feitosa, traçando ele a
teoria de que o famanaz cangaceiro seria descendente de alguns ramos ligados à
família Feitosa: Ferreira Ferro, Ferreira Pedrosa ou Ferreira Gondim. Apoiado
por Antonio Gomes de Freitas e em alguma frase solta de Câmara Cascudo, afirmou-se
que Lampião seria neto de Manoel Ferreira Gondim,[75]
parente dos Feitosa pelo lado da esposa do Comissário-geral Lourenço Alves
Feitosa, D. Antonia de Oliveira Leite, por sua vez, ligada aos Ferreira
Gondim/Velho Gondim.[76]
O Dr. Carlos negou veementemente esta hipótese, asseverando
que tudo isto seria pura invencionice, pois ele, em carta a um dos irmãos de
Lampião, interrogou-o sobre o fato, obtendo pronta resposta do mano de Virgulino,
que disse desconhecer a referida ligação sanguínea. No mais, garantiu o
magistrado que esta estória não tinha respaldo na tradição, muito menos em
documentos.
2ª
Hipótese: Lampião era neto de Antonio Ferreira de Barros
Parece ser esta a teoria mais
disseminada nos sertões fora do Ceará, na qual se afirma que Lampião descendia
de Antonio Ferreira de Barros, também chamado de Antonio Ferreira de Magalhães
ou Antonio Alves Feitosa. Esta hipótese é mencionada pela antropóloga Luitgarde.[77]
Como foi dito, um dos irmãos de Lampião, João Ferreira dos
Santos, em carta ao Dr. Carlos Feitosa, informou que seus pais se chamavam
Maria Lopes e José Ferreira Santos, sendo este filho de Antonio Ferreira,
morador na Serra do Triunfo/PE.[78]
Como se percebe, há certa coincidência nos depoimentos. Acrescente-se a isto o
fato de haver um antigo núcleo da família Feitosa alocado em Triunfo, bem como
um parentesco com os Ferreira Barros, também ligados aos já citados Pereira do
Canto.[79]
É muito difícil
afirmar algo do tipo, pois, até pouco tempo, era vergonhoso para as famílias
sertanejas, das elites agrárias, assumirem qualquer parentesco com gente do
naipe de Lampião ou qualquer outro criminoso. E, caso existisse alguma
consanguinidade, esta seria velada em grande silêncio.
No mais, os homiziados trocavam de nome, não deixando
vestígios da sua vida pregressa, pois este era o objetivo precípuo, o que
desafia o poder investigativo da ciência histórica.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
Alemão, Francisco Freire, Diário de Viagem de Francisco Freire Alemão,
Fortaleza, Fundação Waldemar Alcântara, 2011.
Alencar, Irmã Maria Antônia de, Últimas Flores, Uberaba/MG, OIC, 2008.
Alencar, Menton Soares de, Da. Maria Arnaldina de Alencar, Poetisa
do Sertão, Crato/CE, Revista Itaytera, Instituto Cultural do Cariri, 1959, Ano
V.
Barroso,
Gustavo, Almas de Lama e de Aço, Lampião
e outros cangaceiros, Rio - São Paulo - Fortaleza, ABC Editora, 2012.
_______________, Heróis e Bandidos: Os Cangaceiros do
Nordeste, Rio - São Paulo - Fortaleza, Editora ABC, 2012.
_______________, Terra de Sol, 8ª Ed., Rio - São Paulo -
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Southey, Robert, História do Brasil, Volume III, Brasília, Edições do Senado
Federal, 2010.
DOCUMENTOS:
ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO,
CONSELHO ULTRAMARINO, BRASIL - CEARÁ, 09 de março de 1803: REQUERIMENTO de José do Vale
Pedrosa ao [príncipe regente, D. João] a pedir confirmação da patente de
capitão de umas das Companhias das Ordenanças da Ribeira dos Inhamuns e Tauá.
Anexo: carta patente. CTA: AHU-CEARÁ,
cx. 14, doc. 13. CT: AHU_ACL_CU_017, Cx. 17, D. 974
ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO,
CONSELHO ULTRAMARINO, BRASIL - CEARÁ, 1810, agosto, 27, Lisboa: CARTA do intendente geral de
Polícia da Corte e Reino, Lauro Seabra da Silva, ao [príncipe regente, D.
João], referente ao embarque do preso Francisco Xavier da Araújo Chaves,
remetido do Ceará, Anexo: despacho. CTA:
AHU-CEARÁ, cx. 17, doc. 52. CT: AHU_ACL_CU_017, Cx. 21, D. 1224.
[1] Isto é demonstrado quando o
referido autor fala sobre o fim do Coronel Manoel Martins Chaves, quando comete
o engano de afirmar que a Guerra entre Montes e Feitosa continuou pelo século
XIX: “Ninguém sabe como acabou seus dias.
Tanto Koster como Southey não nos contam com segurança o fim do potentado
sertanejo, pois limitam-se a repetir duas versões que correram a seu respeito:
para uns, morrera de miséria física e moral no lôbrego Limoeiro; para outros,
os franceses de Junot, quando tomaram Lisboa, o puseram em liberdade. O certo é
que nunca mais voltou à terra que o vira nascer. Porém a luta entre a sua
família e a dos Montes prosseguiu quase sem tréguas ainda por espaço de meio
século” (In Barroso, Gustavo, Almas de Lama e de Aço, Lampião e outros
cangaceiros, Rio - São Paulo - Fortaleza, ABC Editora, 2012, p. 38).
[2] Segundo Gustavo Barroso: “O termo cangaceiro estende-se a todas as
modalidades do criminoso nos sertões; é o salteador, o sequaz de atrabilário e
cruel dono de fazenda, de ignorante e perverso chefe político; um criminoso
seguido pela justiça, muitas vezes vítima da exacerbação de ódios políticos,
que vive pelos matos às ocultas, exercendo vinganças, cometendo desatinos,
matando inimigos descuidosos nas largas estradas solitárias; ou ainda os
criminosos degenerados, tarados pelo atavismo, com nevroses de todas as
espécies” (In Barroso, Gustavo, Terra de Sol, 8ª Ed., Rio - São Paulo -
Fortaleza, ABC Editora, 2006, p. 83).
[3] Nas palavras de
Gustavo Barroso: “Há famílias de
cangaceiros. A herança do crime perpetua-se de geração em geração; e essa gente
vive nas suas fazendas sempre cercada de bandoleiros, aureolada pela fama dos
feitos. Tem influência na sua zona, intervindo em todas as questões, quer
políticas, quer particulares, tudo podendo e ousando tudo. Assim são, por
exemplo, os Barrosos do Curu, os Cunhas do Boqueirão, os Paulos do Trapiá, os
Dantas do Teixeira e os Feitosas dos Inhamuns” (ibidem, p. 98). Batizar a
família Feitosa com o título de “família de cangaceiros” se torna bastante
relativo do ponto de vista dos conceitos, pois os elementos que caracterizam
este fenômeno, ao longo do tempo, são extremamente flutuantes.
[4] No entendimento do autor, o
Cariri cearense era um ponto convergente do cangaceirismo, elegendo o Juazeiro
do Norte como a Capital do Cangaço (In Barroso, Gustavo, Almas de Lama e de
Aço, Lampião e outros cangaceiros, p. 27)
[5] Ao falar sobre o combate ao
cangaceirismo, Barroso restringi-se ao século XIX, pois menciona apenas os
governadores cearenses que atuaram no combate ao cangaço neste referido século:
“As tentativas para esse efeito vêm de
muito longe, dos tempos coloniais. Já os governadores portugueses como João
Carlos Oyenhausene Grevenburg, que morreu Marqueês do Aracati, e Luís da Mora
Féo Torres, no Ceará, Amaro Joaquim, citado por Henry Koster, na Paraíba, e
outros fizeram esforços para acabar com a praga sem que nada conseguissem”
(In Barroso, Gustavo, Almas de Lama e de Aço: Lampião e outros cangaceiros, p.
22).
[6] Ibidem, p. 35.
[7] Ibidem, p. 37.
[8] Koster, Henry, Viagens ao
Interior do Brasil, Volume 1, 12ª Ed., Rio – São Paulo – Fortaleza, ABC Editora,
2003, p. 184.
[9] Southey, Robert, História do
Brasil, Volume III, Brasília, Edições do Senado Federal, 2010, p. 1785.
[10] Tanto Southey quanto Koster
denominam o Coronel Manoel Martins Chaves de “O Feitosa” ou apenas “Feitosa”.
Já Koster também se refere a este como “O Chefe dos Feitosa”.
[11] Alemão, apurou entre o povo que,
no Ceará, o coronel Manoel Martins Chaves era considerado como integrante da
família Feitosa, assim, escreveu em seu diário de viagem: “Aqui esteve ontem um velho de 73 anos, cujo modo de vida tem sido desde
sua mocidade conduzir cartas de um extremo a outro da província. Agora vai ele
à capital buscar um neto. Diz que em seis dias faz essa viagem (provavelmente a
fazia em outro tempo); duvido porém que hoje faça 30 léguas em seis dias; e em
poucos dias de demora volta. Contou-me alguns feitos curiosos da sua mocidade,
mas a conversa foi longe e disso não me lembro. Foi mais soldado miliciano, e
antes do seu casamento, que foi em 1806 (a mulher ainda vive), talvez em 18 de
abril ou maio, conta ele que veio ao sertão o governador João Carlos
d’Oeynhausen (depois marquês do Aracati) a fazer apaziguar os tumultos causados
pelos Feitosas e outros desalmados. Prendeu um dos [f. 112] chefes dos Feitosas
(coronel ou capitão-mor) – é o pai da parda de que falei no mesmo dia 4 – e um
seu filho, que, segundo conta o velho, das pessoas que matara ou mandava matar
cortava-lhes as mãos e as guardava...” (In Alemão, Francisco Freire, Diário
de Viagem de Francisco Freire Alemão, Fortaleza, Fundação Waldemar Alcântara,
2011, p. 115 e 116). Em outras ocasiões, no mesmo diário, percebe-se a errônea
indistinção com que o povo tratava as duas famílias (p. 335, 338, 416 e 525).
Disto, também se percebe que existia uma confusão quanto à identidade das
Famílias Feitosa, Araújo Chaves (Martins Chaves), Veras, Mourões e Morais.
[12] Farias, F. Araújo, Araújos e
Feitosas: Colonizadores do Alto e Médio Acaraú, Fortaleza, Gráfica Ramos, 1995,
p. 16 e 17. Ver também: Feitosa, Aécio, Feitosas: Genealogia - História -
Biografias, Fortaleza, Editora UFC, 1999, p. 37.
[13] Feitosa, Leonardo, Tratado
Genealógico da Família Feitosa, 2ª Ed., Fortaleza - Ceará, Imprensa Oficial,
1985, p. 231 e 232.
[14] A filha do Coronel Manoel
Martins Chaves, Ana Gonçalves Vieira Mimosa, casou-se com o Major José do Vale
Pedrosa, que era filho do Capitão José Alves Feitosa e de Maria Madalena Vieira
(In Feitosa, Leonardo, op. cit., p. 27, 39, 57 e 242).
[15] O Projeto Barão do Rio Branco
(Projeto Resgate) repatriou inúmeros documentos a respeito do Brasil Colonial,
dentre eles os manuscritos do Arquivo Histórico Ultramarino (em Portugal) que
tratam do Coronel Manoel Martins Chaves, ficando patente que a este não foi
oferecido o contraditório, o devido processo legal nem a ampla defesa, o que
será tema de uma obra específica.
[16] ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO, CONSELHO
ULTRAMARINO, BRASIL - CEARÁ, 1810, agosto, 27, Lisboa: CARTA do intendente
geral de Polícia da Corte e Reino, Lauro Seabra da Silva, ao [príncipe regente,
D. João], referente ao embarque do preso Francisco Xavier da Araújo Chaves,
remetido do Ceará, Anexo: despacho. CTA:
AHU-CEARÁ, cx. 17, doc. 52. CT: AHU_ACL_CU_017, Cx. 21, D. 1224.
[17] Duarte, General Paulo Queiroz,
Sampaio, Rio de Janeiro - RJ, Biblioteca do Exército Editora, 1988, p. 21.
[18] O pesquisador Frederico
Pernambucano de Melo, contrariando as afirmativas de Gustavo Barroso, diz que
Jesuíno Brilhante tinha como verdadeiro nome Jesuíno Alves de Melo Calado (In Melo,
Frederico Pernambucano de, Guerreiros do Sol, 5ª Ed., São Paulo, A Girafa,
2011, p. 146).
[19] Barroso, Gustavo, Heróis e
Bandidos: Os Cangaceiros do Nordeste, Rio - São Paulo - Fortaleza, Editora ABC,
2012, p. 15.
[20] Idem.
[21] Ibidem, p. 118.
[22] Esta era a tradição corrente nos
Inhamuns (In Feitosa, Leonardo, op. cit., p. 13).
[23] Gabriel de Morais Rego, filho do
Capitão-mor Pedro de Sousa Rego, foi casado com Catarina Pereira de Almeida,
filha do português José da Silveira e da enteada do Cel. Francisco Alves Feitosa,
chamada Leonor Pereira (In Feitosa, Aécio, A Família Feitosa nos Registros
Paroquiais (1728 - 1801), Fortaleza, Gráfica Canindé, 2005, p. 17). Ver também:
Feitosa, Leonardo, op. cit., p. 19 e 37.
[24] Barroso, Gustavo, Almas de Lama
e de Aço, p. 68.
[25] Idem.
[26] Ibidem, p. 69.
[27] Idem.
[28] Ibidem, p. 73. Outros nomes são
dados aos irmãos de Antonio Silvino, pois, segundo Antonio Gomes de Freitas,
eles eram chamados Vicente, José e Miguel, os quais foram residir no Sertão dos
Inhamuns sob a guarda do Coronel Leandro da Barra (In Freitas, Antônio Gomes de, Vicente Silvino em Missão de Floro
Bartolomeu nos Inhamuns, Revista do Instituto do Ceará, Ano LXXXVI, 1972, p.
93).
[29] Barroso, Heróis e Bandidos, op.
cit., p. 38.
[30] Alguns dos “Feitosa-Bizarria”,
migrando para Pernambuco, deixaram seus inconfundíveis sobrenomes naquelas
paragens, especialmente na Ribeira do Pajeú e no Riacho da Brígida. No Exú/PE,
um descendente destes “Feitosa/Bizarria/Castro” foi o destacado Major Bizarria,
Leonardo Arnaldo de Alencar, assassinado em consequência das lutas de famílias
(In Alencar, Irmã Maria Antônia de, Últimas Flores, Uberaba/MG, OIC, 2008, p.
175 e 177). Sobre este parentesco ver também: Alencar, Menton Soares de, Da.
Maria Arnaldina de Alencar, Poetisa do Sertão, Crato/CE, Revista Itaytera,
Instituto Cultural do Cariri, 1959, Ano V, p. 195. O Major Bizarria foi
assassinado por integrantes da família Saraiva (In Melo, Frederico Pernambucano
de, Guerreiros do Sol, op. cit., p. 369).
[31] Diz Leonardo Feitosa que
Eufrásia nascera no ano de 1775, tendo se casado aos 14 anos de idade (In Feitosa, Leonardo, op. cit., p. 88). O
registro do casamento foi publicado pelo Dr. Aécio Feitosa (Ver: Feitosa,
Aécio, Casamentos Celebrados nas Capelas, Igrejas e Fazendas dos Inhamuns (1756
- 1801) – História da Família Feitosa, Fortaleza - CE, 2009, p. 136).
[32] Francisco de Holanda Cavalcante
era filho do Capitão Arnaud de Holanda Cavalcante e de Francisca, neta do Cel.
Francisco Alves Feitosa (Leonardo, op. cit., p. 38 e 94).
[33] Compartilha dessa mesma opinião
Aécio Feitosa, dizendo que o primeiro a usar a corruptela foi Raimundo
Bizarria, ex-professor da Bahia (in Feitosa, Aécio, Casamentos Celebrados nas
Capelas, Igrejas e Fazendas dos Inhamuns (1756 - 1801) – História da Família
Feitosa, p. 242).
[34] Essa variante, Bezarril, pode
ser vista no requerimento de confirmação da carta patente de José do Vale
Pedrosa (ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO,
CONSELHO ULTRAMARINO, BRASIL - CEARÁ, 09 de março de 1803: REQUERIMENTO de
José do Vale Pedrosa ao [príncipe regente, D. João] a pedir confirmação da
patente de capitão de umas das Companhias das Ordenanças da Ribeira dos
Inhamuns e Tauá. Anexo: carta patente. CTA:
AHU-CEARÁ, cx. 14, doc. 13. CT: AHU_ACL_CU_017, Cx. 17, D. 974).
[35] O responsável pelo registro do
depoimento do ex-cangaceiro Miguel Feitosa foi Frederico Pernambucano de Melo (In
Guerreiros do Sol, op. cit., p. 118).
[36] Alguns dos motivos da luta entre
os Pereira e os Carvalho, de 1842 a 1923, foram colhidos por Frederico
Pernambucano de Melo (Ibidem, p. 371).
[37] Melo, Frederico Pernambucano de,
Guerreiros do Sol, p. 127 e 131.
[38] Frederico Pernambucano de Melo
comete um erro ao afirmar que Sinhô Prerira era neto do Barão do Pajeú (Ibidem,
p. 146). É importante salientar que o pesquisador Hilário Lucetti afirma que
Sinhô Pereira era sobrinho-neto do Barão do Pajeú (In Lucetti, Hilário, Quem
era Sebastião Pereira, vulgo Sinhô Pereira?, Revista A Província, Nº 09,
Crato/CE, julho/dezembro de 1995, p. 13). Ratificando esta última informação, o
pesquisador Venício Feitosa Neves, descendente de Crispim Pereira de Araújo, em
entrevista (25/05/2014), afirmou que Sebastião Pereira da Silva (Sinhô Pereira)
era filho de Manuel Pereira da Silva (Manuel da Passagem do Meio), do segundo
casamento, com Constância Pereira Valões. Este Manuel da Passagem do Meio era
filho do Coronel Francisco Pereira da Silva, o fundador do povoado de São
Francisco. Já a mãe de Sinhô Pereira era filha de Aureliano Pereira da Silva e
de Maria José Pereira da Silva. Aureliano, por sua vez, era irmão do Barão do
Pajeú, portanto, conclui-se que Sinhô Pereira era sobrinho-neto do Barão do
Pajeú.
[39] Frederico Pernambucano de Melo
ressalta que Sinhô Pereira e seu bando mantinham um relativo comportamento ético,
pois: “Lampião e os irmãos Antônio e
Silvino fizeram um bom aprendizado de dois anos em sua companhia, mas não foi
seguramente nessa escola nobre e comedida que aprenderam a sequestrar, castrar
e estuprar. Jamais houve disto no bando de Sinhô, o Seu Rodrigues, como também
era chamado pelos seus cabras” (Ibidem, p. 246).
[40] Disse Gomes de Freitas: “Por êsse mesmo tempo, o Sr. Cândido Alves
Feitosa, da Fazenda Murzela, no Município de Aiuaba, recebia um garrote de boa
conformação e de pelagem semelhante ao gado Semental, da Suiça, presenteado
pelo Coronel Antônio Pereira, filho de Andrelino, Barão do Pajeú de Flôres, em
Pernambuco. Dizia que êsse animal era da raça ‘Cardão’, cuja origem o autor
dêste opúsculo desconhece” (In Freitas, Antonio Gomes de, Inhamuns (Terra e
Homens), Fortaleza/CE, Editora Henriqueta Galeno, 1972, p. 61).
[41] As narrativas desse sangrento
episódio foram escritas por Napoleão Tavares Neves e por Helvécio Neves
Feitosa, sendo publicadas numa das obras de Aécio Feitosa (In Feitosa, Aécio,
Feitosas: Genealogia - História - Biografias, Fortaleza, Editora UFC, 1999, p.
302 a 313).
[42] Ibidem, p. 311.
[43] Ibidem, p. 306. O pesquisador
Venício Feitosa, em entrevista, assegurou que o ataque promovido por Ioiô
Maroto ocorreu no dia 20 de outubro de 1922.
[44] Freitas, Antonio Gomes de,
Revista do Instituto do Ceará, op. cit., p. 93.
[45] Nas palavras de Napoleão Tavares
Neves: “Aliás, quando Ioiô Maroto chegou
na Fazenda Barra, do coronel Leandro, em Tauá, este lhe mostrara um presente
que certa vez recebera do capitão Cassiano Pereira, avô das duas últimas
esposas de Ioiô: era uma pistola em um estojo cravejado de prata, sinal que já
havia intercâmbio entre os Pereiras, do Pajeú e Feitosas, dos Inhamuns desde
remotas eras. Interessante este detalhe! As famílias poderosas eram solidárias
entre si, trocando favores e presentes” (Neves, Napoleão Tavares, apud
Feitosa, Aécio, Feitosas: Genealogia - História - Biografias, p. 307).
[46] Feitosa, Helvécio Neves, apud
Feitosa, Aécio, Feitosas: Genealogia - História - Biografias, p. 309.
[47] Feitosa, Leonardo, op. cit., p.
158.
[48] Ibidem, p. 139.
[49] Idem.
[50] Ibidem, p. 38 e 94.
[51] Destacou Frederico Pernambucano
de Melo a presença de José Bizarria no bando de Sinhô Pereira (Guerreiros do
Sol, p. 235, 236 e 247).
[52] Isto foi relatado por Helvécio
Neves Feitosa, neto de Crispim Pereira de Araújo, a partir de depoimentos de
sua mãe, Otacília, e dos irmãos desta (apud Feitosa, Aécio, Feitosas:
Genealogia - História - Biografias, p. 311).
[53] Leonardo Feitosa apenas faz
breve menção sobre o assassinato de José Bizarria (op. cit., p. 204).
[54] Essa Informação é da por Aécio
Feitosa (In Feitosas: Genealogia - História - Biografias, p. 272).
[55] Disse Amália Xavier de Oliveira
que: “... estava guarnecido por
particulares que obedeciam ao comando do inditoso Quintino Feitosa, o chefe da
trincheira de Malvas que defendeu, com tanto heroísmo e com 30 homens apenas
venceu o 2º ataque dos rabelistas comandados pelo chefe Lourenço Ladislau”
(In Oliveira, Amália Xavier de Oliveira, O Padre Cícero que Eu Conheci:
Verdadeira História de Juazeiro, Fortaleza/CE, Editora Henriqueta Galeno, 1974,
p. 206).
[56]
Segundo a professora Amália Xavier de Oliveira, contemporânea daqueles
tumultuados episódios, a trincheira da Malva estava: “Guardada por Quintino e sua gente, durante as poucas horas de fogo, a
população ficou tranquila porque conhecia e confiava no defensor a quem havia
sido entregue aquela trincheira situada bem perto de sua casa de morada”
(Ibidem, p. 177 a 178).
[57] Ibidem, op. cit., p. 180.
[58] Benevides, Aldenor, Padre Cícero
e Juazeiro, 3ª Ed. Amp., Fortaleza/CE, Stylus, 1988, p. 120.
[59] Oliveira, op. cit., p. 207.
[60] Benevides, op. cit., p. 120.
[61] Ibidem, p. 121.
[62] Essas informações foram dadas
por Amália Xavier de Oliveira (op. cit., p. 297), no entanto, a versão apurada
por Aldenor Benevides difere um pouco, pois, segundo este: “Antes, porém, daquele fogo ter começado,
Francisco Pinheiro, mais conhecido por Senhorzinho, irmão do célebre e bárbaro,
sanguinário e perverso José Pinheiro, procurou aproximar-se da casa de
Quintino, tendo sido por este admoestado que voltasse. Como Chico Pinheiro
continuasse avançando de rifle engatilhado, Quintino atirou. Há quem diga que o
propósito de Senhorzinho era negociar, amigavelmente, um acordo para trazer
João Batista” (op. cit., p. 122).
[63] Oliveira, op. cit., p. 208.
[64] Idem.
[65] Benevides, op. cit., p. 122.
[66] Ibidem, p. 123.
[67] Foi Aldenor Benevides que
registrou tais números (op. cit., p. 123), diferindo um pouco da versão contada
por Amália Xavier de Oliveira, que afirmou serem 15 os companheiros de
Quintino, e cerca de 100 os que seguiam Zé Pinheiro (op. cit., p. 206).
[68] Benevides, op. cit., p. 123.
[69] Amália Xavier de Oliveira fala
em “mais ou menos 24 horas de fogo” (op. cit., p. 206), enquanto que Aldenor
Benevides menciona “22 horas” (op. cit., p. 123).
[70] Idem.
[71] Ibidem, p. 124.
[72] Esta é versão contada por
Aldenor Benevides, a partir do relato de um primo de Quintino, o já citado
Pedro Domingos, que participou diretamente do combate (op. cit., p. 123 e 124).
É importante ressaltar que na versão de Amália Xavier de Oliveira o Padre
Cícero chegou a tempo de impedir maiores profanações ao corpo de Quintino, in verbis: “Ainda não havia cessado de todo os tiros, quando o Pe. Cícero passou
por nossa casa, entrando pelo portão que dá para a rua de São José, frente à
sua residência então, onde é hoje o ‘Abrigo dos Velhos’. Resolvera ir até
Malvas; saíra sem dizer onde ia, acompanhado de duas pessoas: José Inácio, seu
encarregado e Maria Joaquina, uma das domésticas que serviram em sua casa. Meu
pai o acompanhou apesar dos protestos de minha Mãe que pedia, chorando, que
eles não saíssem com aquele tiroteio. O Padre, procurando convencê-la dizendo
que não iriam até lá, rumou pela rua da Matriz cortando quase pelo Brejo. Felizmente
chegou à casa de Quintino com tempo de evitar que fosse excessivamente
profanado o cadáver do pobre morto que já estava com o lábio superior cortado”
(Oliveira, op. cit., p. 207).
[73] Idem.
[74] Frederico Pernambucano de Melo
aponta que Lampião também era apelidado de “O Tigre do Sertão” (In Melo,
Frederico Pernambucano de, Benjamin Abrahão: Entre Anjos e Cangaceiros, São
Paulo, Escrituras Editora, 2012, p. 152).
[75] Defendeu Nertan Macedo que o avô
de Lampião José Ferreira da Silva era filho de Manoel Ferreira Gondim (In Feitosa,
Carlos, Lampião também não era Feitosa bastardo, Revista do Instituto do Ceará,
ANO LXXXVIII, 1964, p. 262). Deve ser destacado que enquanto Nertan chama o pai
de Lampião de José Ferreira da Silva, o irmão de Lampião diz que o seu genitor
tinha o nome de José Ferreira Santos.
[76] Idem.
[77] Luitgarde Oliveira Cavalcante
Barros, citando a obra de João Gomes de Lira (Lampião: Memórias de um Soldado
de Volante), registrou: “João Gomes de
Lira (1), baseando-se na tradição oral, afirma que o nome Ferreira, celebrizado
por Virgulino no mito Lampião, não esclarece a procedência do personagem na
região, num tempo mais recuado. Segundo esse autor, o desconhecido que aí pelos
meados do século XIX (2) chega em Serra Talhada se apresentando e se assinando
como Antonio Ferreira de Magalhães ou Antonio Ferreira de Barros, poderia ser
Antonio Alves Feitosa” (In Barros, Luitgarde Oliveira Cavalcante, A
Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão, 2ª Ed., Revista e
Ampliada, Rio de Janeiro, 2007, p. 71).
[78] João Ferreira dos Santos, em sua
carta, disse: “Meus avós maternos eram
naturais do Riacho de S. Domingos, Fazenda Passagem das Pedras, no Município de
Serra Talhada. A referida fazenda dista 3 léguas da Vila de S. Francisco. Os
meus avós maternos pertencem à família Lopes, da aludida vila. Minha mãe
chamava-se Maria Lopes e meu pai José Ferreira Santos. Eram casados. Não sei
dizer se o casamento dêles foi realizado em S. Francisco ou em Serra Talhada.
Não conheci meus avós paternos, mas, por informação, sei que o meu avô
chamava-se Antônio Ferreira. Êle era possuidor de um bom sítio, na Serra do
Triunfo, onde residia, perto da cidade Baixa Verde, hoje Triunfo.” (In
Feitosa, Carlos, op. cit., p. 258)
[79] Um documento paroquial atesta o
mencionado parentesco: “Aos vinte e seis
de julho de mil setecentos e sessenta e três, pelas onze horas da manhã, na
capela de Nossa Senhora da Conceição do Cococi, filial desta Freguesia de Nossa
Senhora do Monte Carmo dos Inhamuns, feita as denunciações na forma do Sagrado
Concílio Tridentino na Capela de São Mateus que as vezes faz de matriz, na
capela do Cococi onde os contraentes são
naturais e moradores sem se descobrir impedimento algum sendo dispensados no
segundo grau de consanguinidade pelo Exm.º e Revm.º (Visitador) como consta do
mandado de casamento e certidão de banhos que em meu poder ficam, de licença
minha, na presença do Reverendo Marcelino Soares da Veiga, sendo presentes por
testemunhas o Coronel Francisco Alves Feitosa e José Alves (Feitosa, 1º),
pessoas conhecidas e outras muitas, se casaram solenemente por palavras de
presente Eufrásio Alves Feitosa, natural desta Freguesia, filho do Sargento-mor
João Bezerra (do Vale), já defunto, natural de Tracunhém e de Ana Gonçalves
Vieira, natural de Penedo, neto materno do Alferes Antônio Bezerra, natural de
Tracunhém, ignora os avós maternos, com Josefa Vieira (Ferreira) de Barros,
natural desta Freguesia, filha legítima de Antônio Pereira (do Canto), já
defunto, natural de Penedo e de Antônia de Barros, natural da Mocha (fazenda
Mocha, Piauí), ignora os avós e logo se lhes deram as bênçãos conforme os ritos
e cerimônias da Santa Madre Igreja de que eu Cura Sebastião da Costa Machado
fiz este assento quando se me foi entregue aos dezesseis de setembro do dito
ano que por verdade me assinei. Sebastião da Costa Machado – José Alves Feitosa
– Francisco Alves Feitosa” (In Feitosa, Aécio, Casamentos Celebrados nas
Capelas, Igrejas e Fazendas dos Inhamuns (1756 – 1801) – História da Família
Feitosa, p. 154).