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quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Carta-patente do Capitão João Mendes Lobato


Projeto Dezessete e Setecentos: Documentos Raros sobre os Sertões do Ceará – Século XVIII
             
                                                                              Heitor Feitosa Macêdo
        
         No mês de outubro de 2019, fui contatado por um pesquisador chamado Michel (Mibson Michel Santiago Ramos) o qual procurava informações sobre a família Garro(s) da Câmara. Na verdade, andava ele no encalço de indivíduos que viveram no início do século XVIII no interior do Nordeste e que tiveram passagem pela capitania do Ceará.
         Michel, apesar de engenheiro, nutre grande entusiasmo pela pesquisa histórica, em especial, pela genealógica. Por certo, ele não é o único profissional liberal que sofre deste mal irremediável! Tendo eu a mesma paixão pela pesquisa, apesar de ser um advogado com banca mui modesta, resolvi tentar ajuda-lo nesta “empreitada”.
         Logo nos primeiros contatos, o dito engenheiro-genealogista me apresentou ao pesquisador Jorge Augusto Nascimento Nogueira de Sousa, carioca com sangue nordestino. Daí em diante, resolvemos “abrir dos peito” e escarafunchar nossos arquivos na tentativa comum de encontrar os benditos Garro(s). Frei de Jaboatão, Borges da Fonseca, Pedro Calmon, Barão de Studart e tantos outros clássicos da genealogia e da pesquisa histórica passaram pelo nosso crivo.
         Vagando pelos séculos transatos, nos deslocamos para os 1500, 1600 até esbarrar nos setecentos, sempre com muita sofreguidão de ter debaixo dos nossos olhos o tão desejado objeto de estudo. Impacientes, procuramos ajuda de algumas pessoas, contudo, as portas nos bateram às ventas. Apesar dos percalços, procuramos as alternativas possíveis, seguindo pistas tênues, quase apagadas nas sombras do tempo.       
         Há quem não acredite na força que possui a união humana para fazer o bem! Também há céticos que duvidam da paixão pela pesquisa, e a todo esforço ou boa ideia costumam atribuir valores pecuniários, sempre receosos de possíveis prejuízos financeiros ou com pavor da possibilidade de não poderem mais ser os arautos do ineditismo documental.
         Diante da desconfiança e do individualismo, de moto próprio e as nossas próprias expensas, resolvemos disponibilizar, gratuitamente, nossos achados, verdadeiros tesouros que repousavam em arquivos distantes dos sertões onde foram produzidos.
         Assim, apresentaremos ao público parte da primeira etapa deste esforço de digitalização e transcrição paleográfica de documentos referentes aos sertões cearenses dos idos de 1700, posto que a ciência histórica, antropológica, geográfica, arqueológica e outras pouco avançaram sobre os mistérios deste período. 
         Por último, cabe explicar que o nome que batiza este projeto “Dezessete e Setecentos” é inspirado no título e letra de uma das músicas cantadas por Luiz Gonzaga, tendo sido o termo mais apropriado para resumir o contexto de tudo que foi dito acima.           

Carta-patente do Capitão João Mendes Lobato

            O capitão João Mendes Lobato (ou João Mendes Lobato Lira) era natural de Porto da Folha, hoje, no Estado de Sergipe, no baixo rio São Francisco. Seus pais eram o capitão Antônio Mendes Lobato e Maria Ferreira da Silva, casal que também gerou mais seis rebentos, quais sejam:
1- O tenente-coronel Antônio Mendes Lobato e Lira
2- O padre José Lobato do Espírito Santo, o qual residiu no Riacho dos Porcos, principalmente no Sítio Caiçara (Missão Velha), com sete léguas de terras compradas ao coronel João de Barros Braga, por escritura de 13 de agosto de 1720;
3- Isabel Lobato do Espírito Santo, a qual casou com o capitão José da Silva do Canto;
4- Antônia Ferreira da Silva, a qual casou com o capitão João da Silva Salgado;
5- Maria Ferreira da Silva, esposa do capitão-mor Domingos Álvares de Matos, guarda-mor das Minas dos Cariris Novos ao tempo da intendência do sargento-mor Jerônimo Mendes da Paz, de 1754 a 1756, e doador das terras nas cabeceiras do Brejo do Miranda para patrimônio da Aldeia e Missão do Gentio Cariú, que findou dando origem à vila e, depois, cidade do Crato/CE.
6- Ana Lobato do Espírito Santo, inupta, a qual veio a residir no seu Sítio Lagoa, situado à esquerda do Salamanca, a 1500 metros, aproximadamente, ao norte da cidade de Barbalha/CE, sítio que também foi conhecido por Lagoa dos Araújos.
         O capitão João Mendes Lobato morou e viveu no Sítio Santo Antônio, depois, Missão Nova/CE, onde construiu uma capela e onde veio a falecer deixando descendentes, dos quais são conhecidos:
1- Joana Lobato, casada com o capitão Inácio Figueiredo Adorno.
2- João Ferreira Lobato;
3- Quitéria Lobato, casada com o baiano de Salvador Antônio Coelho de Resende.
4- Isabel Lobato casada com João Pereira Souto
5- Maria da Conceição (filha natural) a qual foi casada com Pedro Pereira de Mendonça.
         Cabe ressaltar que os Mendes Lobato são vistos por alguns pesquisadores como a primeira família branca a ir residir no sertão dos Cariris Novos (Cariri cearense). Também deve ser destacado que esse grupo obteve o maior número de sesmarias na dita região, de acordo com o padre Antônio Gomes, 70 léguas quadradas; porém, em minha contagem, são 90 léguas quadradas. A posse e propriedade destas terras foram o motivo principal da Guerra Civil de 1724, em que tal família lutou ao lado dos seus primos (os Montes) contra os Feitosa, o coronel João da Fonseca Ferreira, o ouvidor-geral José Mendes Machado, os índios Jenipapos e outros.
         As sesmarias dos Mendes Lobato, no Cariri cearense e Acaraú, foram as seguintes:



Capitão Antônio Mendes Lobato

                 

      3x1=3 
17/01/1707
Riacho Tiyunó, Anhenhu, Juré (no Acaraú – ver sesmaria nº 588, vol. 07, p. 192)
Volume 4º  -  nº 194


João Mendes Lobato          
      

    2(3x1)=6
16/12/1713
Cariri

José Lobato
Volume 10º  -  nº 23


Tenente-coronel Antônio Mendes Lobato Lira          
       
       3x1=3
02/01/1714
           Cariri
Volume 10º  -  nº 22


Tenente-coronel Antônio Mendes Lobato e Lira         
        
      3x1=3
11/01/1714
Cariri
Volume 10º  -  nº 24


Tenente-coronel Antônio Mendes Lobato e Lira
      
      3x1=3
12/01/1717
Rio Salgado
Volume 10º  -  nº 46


Tenente-coronel Antônio Mendes Lobato e Lira
      
     3x1=3
26/02/1717
Cariri (cabeceiras do Salgado)
Volume 10º  -  nº 47


Tenente-coronel Antônio Mendes Lobato e Lira
      

     2(3x1)=6
05/07/1718
Rio Salgado
Alferes João Mendes Lobato
Volume 6º  -  nº 412

Comissário-geral Antônio Mendes Lobato Lira
      

    2(3x1)=6
15/05/1724
Ribeira do Salgado
Capitão Antônio Mendes Lobato
Volume 11º  -  nº 118


Comissário-geral Antônio Mendes Lobato Lira
      

    2(3x1)=6
15/05/1724
Ribeira do Salgado
Capitão Antônio Mendes Lobato
Volume 11º  -  nº 119

Capitão Antônio Mendes Lobato
      

    5(3x1)=15
11/08/1725
Padre José Lobato do Espírito Santo
Capitão João Mendes Lobato
Dona Isabel Lobata
Dona Antônia Lobata
Rio Salgado
Volume 11º  -  nº 137

 Capitão Antônio Mendes Lobato        
      
   

     6(3x2)=36
29/12/1725
Padre José Lobato do Espírito Santo
Capitão João Mendes Lobato e Lira
Dona Isabel Lobato e Lira
Cariri
Dona Maria Lobata
Dona Ana Lobata
Volume 11º  -  nº 144


Dados do Documento

• carta-patente de oficial da Ordenança
• posto de capitão dos Cavalos da Ribeira dos Cariris, Distrito dos Boqueirões para Cima (riba). Obs1: isto quer dizer que a sua área de atribuição militar começava no Boqueirão (em Lavras da Mangabeira) e subia pelo rio Salgado, em direção à Chapada do Araripe, rumo ao Vale do Cariri. Obs2: tempo depois, ele é tratado por coronel, conforme se pode ver nos documentos.
• posto ocupado anteriormente: não foi dito
• regimento do coronel João da Fonseca Ferreira (tio)
• anterior ocupante: Francisco Martins
• obrigação de confirmação pelo governador de PE: prazo de 6 meses
• lugar onde foi concedida: Icó (Arraial de Nossa Senhora do Ó)
• data: 30 de junho de 1719
• autoridade concedente: capitão-mor do CE Salvador Alves da Silva

Transcrição Paleográfica


Rezisto dapatente do Cap.m João Mendes Lobatto/ passada novam.te por confirmaçam
Salvador Alves da Sylva cavaleiro professo da ordem denosso Snor/ Jezus Christo cap.m Mayor da Capitania doCeara grande aCujo cargo/ esta ogoverno della por Sua Mag.e q deos g.de etta Faço saber aos que/ esta carta patente virem q por quanto seacha vago oposto de/ Capitam dos Cavallos da Ribeira dos careris destrito dos boqueirois p.a Riba/ do Regimento de que he Coronel Joao da Fonseca [fl. 01]


Fonc. Frr.a por deixaçaò de Fran.co Miz q o exercia e Convir pro-/ vello em pessoa desatisfaçaò emerecimentos: tendo eu respeito q todos/ estes Requezitos comcorrem napecoa de Joao Mendes Lobato, tanto por ser/ hum dos homeniz nobres desta Capitanya, como pello bem que tem/ Servido a Sua Mag.de q Deos g.de namesma Cap.tania acompanhando digo/ nas ocaziois q Selhetem oferecido do Serv.co do d.o Snr´ acompanhando as/ tropas q tem Sahido afazer guerra aoGentio barbaro Levantado/ e hindo muitas vezes por cabo dasmesmas tropas com Risquo de/ vida edespendio de Sua fazenda, nas quais ocaziois semostrou/ sempre com m.to grande vallor ezello do Real Serv.co em.ta obediencia aos/ Seus off.s: e por esperar delle q daqui emdeante seavera da mesma/ maneyra em.to como deve eConfianca q faço deSua pecoa epella nova/ ordem que tenho de Sua Mag.de emcarta dedezassete de dezbr.o demil/ esetecentos equinze emq medà faculdade p.a poder prover todos/ os postos das ordenanças militares destaCapitania: Hey por bem de/ deleger enomear (como p.la prez.te elejo enomeyo) no posto deCapp.m/ dosCavallos da Ribr.a dos Careris destrito dos boqueirois p.a Riba do/ Regimento deq he Coronel Joaò daFon.ca Frr.a por deixaçaò de/ Fran.co Miz´ q oexercia, com oq.l gozarà detodas asonras, graças/ franquezas liberdades previlegios eixencoiz q emRazaó do d.o pos/ to lhepertenserem daq.l podera dentro deseis mezes Requerer a/ Confirmaçaò p.lo Gov.or dePernco: pello q ordeno aod.o Cronel (sic) lhede/ aposse ejuramento naforma custumada, eaos off.s esoldados/ Seus Subordinados conheçaò aod.o Joaò Mendes Lobato pello/ tal Capitam, eo onRem eestimem elheobedeçaò, Cumpram egoar/ dem Suas ordens´ tanto depalavra como por escripto, tam pontu/ al e intr.a mentecomo devem, e Sam obrigados. q p.a firmeza da/ qual lhemandey paçar aprezente por mim aSignada eCellada com/ oSignette deminhas armas aq. seRezistarà nos Livros daSecretaria/ deste Governo enos mais aq tocar: dada neste ARayal denossa/ Senr.a do Ò aos trinta dias do mês de Junho eu Manoel de Mir.da/ afis anno demil sete centos edezanove Salvador Alz´ daSylva. estava oCello. [fl. 02]      


(Imagens/Fonte: Biblioteca Nacional do Brasil).



terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Carta-patente do Sargento-mor João de Montes Batista



Projeto Dezessete e Setecentos: Documentos Raros sobre os Sertões do Ceará – Século XVIII
             
                                                                              Heitor Feitosa Macêdo
        
         No mês de outubro de 2019, fui contatado por um pesquisador chamado Michel (Mibson Michel Santiago Ramos) o qual procurava informações sobre a família Garro(s) da Câmara. Na verdade, andava ele no encalço de indivíduos que viveram no início do século XVIII no interior do Nordeste e que tiveram passagem pela capitania do Ceará.
         Michel, apesar de engenheiro, nutre grande entusiasmo pela pesquisa histórica, em especial, pela genealógica. Por certo, ele não é o único profissional liberal que sofre deste mal irremediável! Tendo eu a mesma paixão pela pesquisa, apesar de ser um advogado com banca mui modesta, resolvi tentar ajuda-lo nesta “empreitada”.
         Logo nos primeiros contatos, o dito engenheiro-genealogista me apresentou ao pesquisador Jorge Augusto Nascimento Nogueira de Sousa, carioca com sangue nordestino. Daí em diante, resolvemos “abrir dos peito” e escarafunchar nossos arquivos na tentativa comum de encontrar os benditos Garro(s). Frei de Jaboatão, Borges da Fonseca, Pedro Calmon, Barão de Studart e tantos outros clássicos da genealogia e da pesquisa histórica passaram pelo nosso crivo.
         Vagando pelos séculos transatos, nos deslocamos para os 1500, 1600 até esbarrar nos setecentos, sempre com muita sofreguidão de ter debaixo dos nossos olhos o tão desejado objeto de estudo. Impacientes, procuramos ajuda de algumas pessoas, contudo, as portas nos bateram às ventas. Apesar dos percalços, procuramos as alternativas possíveis, seguindo pistas tênues, quase apagadas nas sombras do tempo.       
         Há quem não acredite na força que possui a união humana para fazer o bem! Também há céticos que duvidam da paixão pela pesquisa, e a todo esforço ou boa ideia costumam atribuir valores pecuniários, sempre receosos de possíveis prejuízos financeiros ou com pavor da possibilidade de não poderem mais ser os arautos do ineditismo documental.
         Diante da desconfiança e do individualismo, de moto próprio e as nossas próprias expensas, resolvemos disponibilizar, gratuitamente, nossos achados, verdadeiros tesouros que repousavam em arquivos distantes dos sertões onde foram produzidos.
         Assim, apresentaremos ao público parte da primeira etapa deste esforço de digitalização e transcrição paleográfica de documentos referentes aos sertões cearenses dos idos de 1700, posto que a ciência histórica, antropológica, geográfica, arqueológica e outras pouco avançaram sobre os mistérios deste período.  
         Por último, cabe explicar que o nome que batiza este projeto “Dezessete e Setecentos” é inspirado no título e letra de uma das músicas cantadas por Luiz Gonzaga, tendo sido o termo mais apropriado para resumir o contexto de tudo que foi dito acima.            

Carta-patente do Sargento-mor João de Montes Batista
           
            João de Montes Batista era filho de Leonor de Montes Pereira (a mesma Vitória Leonor de Montes) e de Gaspar de Sousa Barbalho. Nasceu em Penedo (hoje, Alagoas, mas, ao tempo, território pernambucano) e migrou para o Ceará entre os séculos XVII e XVIII.
         Por algum tempo, seu pai residiu em São João do Jaguaribe e obteve duas datas de sesmarias, uma no Riacho dos Porcos e outra no Riacho do Figueiredo, vindo a falecer no dia 1º de julho de 1711.
         Sua mãe era filha de João de Montes Bocarro, o qual havia lutado ao lado de Domingos Jorge Velho no Rio Grande do Norte, ao tempo da Guerra dos Bárbaros, no final do século XVII, pelo que recebeu a patente de capitão do Terço dos Paulistas. João de Montes, com mais 40 pessoas, havia recebido uma data de sesmaria no Ceará no dia 16 de janeiro de 1682, nas imediações do atual município de Icó.
         Em 1716, João de Montes Batista e seus cunhados se envolveram numa história trágica, pois, em São João do Jaguaribe, mataram o padre Antônio de Andrada e Leonor de Montes (mãe e sogra dos assassinos), pelo fato de esta pretender deixar em testamento sua terça parte em favor do dito sacerdote.
         João também esteve envolvido na guerra civil de 1724, lutando junto de seus parentes (dentre eles, o tio materno Francisco de Montes Silva – coronel) contra os Feitosa e outros. No dia 15 de agosto de 1729, na capela de Santo Antônio, em Missão Nova (Cariri), casou-se com Antônia de Lima.

Dados do Documento

• carta-patente de oficial da Ordenança
• posto de sargento-mor dos Auxiliares da Ribeira do Jaguaribe
• posto ocupado anteriormente: capitão dos Auxiliares
• regimento do coronel Manoel de Castro Caldas (cunhado)
• anterior ocupante: Manoel de Castro Caldas
• obrigação de confirmação pelo governador de PE: prazo de 6 meses
• lugar onde foi concedida: Arraial de São João do Jaguaribe
• data: 17 de julho de 1719
• autoridade concedente: capitão-mor do Ceará Salvador Alves da Silva

Transcrição Paleográfica


Registo da patente doSarg.to Mor Joaò/ deMontes Baup.ta
Salvador Alz´ da Sylva cavaleiro profeço da ordem de no/ sso Snr´ Jezus christo cap.m Mayor daCapitanya doCearà gr.de aCujo/ cargo està ogoverno della por Sua Mag.e q Deos g.de etta Faço saber/ aos q esta carta patente virem q por quanto está vago oposto de-/ Sarg.to Mayor do Regimento dos auxiliares da Ribr.a de Jagoari-/ be por promocaò doSarg.to Mor M.l de Castro Caldas que oexer-/ cia, passar aCoronel do mesmo Regimento, eConvir provello em/ pecoa deSatisfacaò emiricimentos: tendo eu Respeito aq todos estes/ Requezitos concoRem napeçoa doCap.m Joaò deMontes Baupt.a pe-/ lo bem q tem Servido aSua Mag.e q deos g.e nas ocaziois que/ lhe tem offerecido aoServ.co dod.o Snor´. acompanhando asTropas q tem as-/ hido afazer guerra aogentio barbaro destaCapitania hindo alguas/ vezes por cabo dellas com Risco deSua vida, edespendio defazenda/ [e] Ser hum dos homenis nobres eafazendado desta Cap.nia eter ocu-/ pado o posto de Cap.m dos Auxiliares com honrado procedimento/ em.ta obediencia aos Seus off.s mayores executando todas as ordenis/ q por elles lhes foram emcarregadas do R.al Sv.co epor esperar delle/ q daqui emdiante Sehavera damesma manr.a em.to como deve eCon/ fiança q faço de Suap.ca ep.la nova ordem q tenho de Sua Mag.de em/ carta de dezassete deDezbr.o de SeteCentos equinze em que mè-/ da faculdade p.a poder prover todos os postos das ordenanças [fl. 01]


Das ordenanças militares destaCapitania. Hey por bem deoele-/ ger, enomealo como pella prez.te elejo, enomeyo (noposto deSargen-/ to Mor do Regimento dos auxiliares da Ribra: de Jagoaribe por promo/ çaò doSarg.to Mor Manoel deCastroCaldas q oexercia passar aCoro/ nel do d.o Regim.to com oq.l gozara detodas as onRas, graças franque-/ zas Liberdades privilegios preheminencias [desgate do papel] eixençois q em/ Razaò dod.o posto lhe tocarem. doql: poderà Requerer dentro de seis/ mezes aConfirmaçaò p.lo g.or dePern.co p.lo que ordeno aod.o Coron.l/ lhede aposse ejuramento naforma custumada, eaos off.s esol/ dados Seus Sobordinados Conhecaò aod.o Joaò deMontes Baup-/ tista p.lo tal Sarg.to mayor, elhe obedeçaò, cumpraò, egoardem Su/ as ordens. tanto depalavra, como por escrito, tam pontual eintr.a/ mente como devem, eSam obrigados. q p.a firmeza daq.l lhe man-/ dey paçar aprez.te por mim aSignada, eCellada, Com osignete/ deminhas armas aq.l SeRezistarà nos Livros dos Rezistos daCap/ tania deste governo, enos mais aq tocar. Dada neste Citio/ de Sam Joaò de Jagoaribe aos dezassete dias domes de Julho/ demil, eSeteCentos, edezanove eeuManoel de Mir.da/ afis eescrevy. Salvador Alz´. daSylva eestava oCello. [fl. 02]    

(Imagens/Fonte: Biblioteca Nacional do Brasil).

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Carta-patente do Sargento-mor Francisco Ferreira Pedrosa


Projeto Dezessete e Setecentos: Documentos Raros sobre os Sertões do Ceará – Século XVIII
             
                                                                              Heitor Feitosa Macêdo
        
         No mês de outubro de 2019, fui contatado por um pesquisador chamado Michel (Mibson Michel Santiago Ramos) o qual procurava informações sobre a família Garro(s) da Câmara. Na verdade, andava ele no encalço de indivíduos que viveram no início do século XVIII no interior do Nordeste e que tiveram passagem pela capitania do Ceará.
         Michel, apesar de engenheiro, nutre grande entusiasmo pela pesquisa histórica, em especial, pela genealógica. Por certo, ele não é o único profissional liberal que sofre deste mal irremediável! Tendo eu a mesma paixão pela pesquisa, apesar de ser um advogado com banca mui modesta, resolvi tentar ajuda-lo nesta “empreitada”.
         Logo nos primeiros contatos, o dito engenheiro-genealogista me apresentou ao pesquisador Jorge Augusto Nascimento Nogueira de Sousa, carioca com sangue nordestino. Daí em diante, resolvemos abrir dos peito e escarafunchar nossos arquivos na tentativa comum de encontrar os benditos Garro(s). Frei de Jaboatão, Borges da Fonseca, Pedro Calmon, Barão de Studart e tantos outros clássicos da genealogia e da pesquisa histórica passaram pelo nosso crivo.
         Vagando pelos séculos transatos, nos deslocamos para os 1500, 1600 até esbarrar nos setecentos, sempre com muita sofreguidão de ter debaixo dos nossos olhos o tão desejado objeto de estudo. Impacientes, buscamos ajuda de algumas pessoas, contudo, as portas nos bateram nas ventas. Apesar dos percalços, procuramos as alternativas possíveis, seguindo pistas tênues, quase apagadas nas sombras do tempo.       
         Há quem não acredite na força que possui a união humana para fazer o bem! Também há céticos que duvidam da paixão pela pesquisa, e a todo esforço ou boa ideia costumam atribuir valores pecuniários, sempre receosos de possíveis prejuízos financeiros ou com pavor da possibilidade de não poderem mais ser os arautos do ineditismo documental.
         Diante da desconfiança e do individualismo, de moto próprio e as nossas próprias expensas, resolvemos disponibilizar, gratuitamente, nossos achados, verdadeiros tesouros que repousavam em arquivos distantes dos sertões onde foram produzidos.
         Assim, apresentaremos ao público parte da primeira etapa deste esforço de digitalização e transcrição paleográfica de documentos referentes aos sertões cearenses dos idos de 1700, posto que a ciência histórica, antropológica, geográfica, arqueológica e outras pouco avançaram sobre os mistérios deste período.  
         Por último, cabe explicar que o nome que batiza este projeto “Dezessete e Setecentos” é inspirado no título e letra de uma das músicas cantadas por Luiz Gonzaga, tendo sido o termo mais apropriado para resumir o contexto de tudo que foi dito acima.            

Carta-patente do Sargento-mor Francisco Ferreira Pedrosa

            Francisco Ferreira Pedrosa pertencia à família dos Albuquerque Cavalcanti, com raízes na Paraíba, tendo migrado para o Ceará durante a Guerra dos Bárbaros. Neste último lugar, alcançou muitas concessões de terras (sesmarias), que ele mesmo havia ajudado a tomar aos índios, a exemplo de boa parte dos territórios de Santana do Cariri e Nova Olinda.
         Contraiu casamento com Josefa Alves Feitosa, filha do coronel Francisco Alves Feitosa, deixando larga descendência.

Dados do Documento

• carta-patente de oficial da Ordenança
• posto de sargento-mor da Cavalaria da Ribeira do Quixelou e Inhamuns
• posto ocupado anteriormente: capitão de cavalos
• regimento do coronel Francisco Alves Feitosa (sogro)
• anterior ocupante: não
• obrigação de confirmação pelo governador de PE: prazo de 6 meses
• lugar onde foi concedida: Icó (Arraial de Nossa Senhora do Ó)
• data: 29 de junho de 1719
• autoridade concedente: Salvador Alves da Silva

Transcrição Paleográfica

          
Rezisto dapatente do Sarg.to Mor Fran.co Frr.a/ Pedroza
Salvador Alz´ daSylva Cavaleiro profeço daordem denosso Sr./ Jezus christo Cap.m Mayor daCapitania doCeará gr.de aCujo car/ go está ogoverno della por Sua Mag.de Deos g.de etta Faço saber/ aos q esta carta patente virem q por quanto seacha vago oposto/ de Sarg.to mor daCavalaria daRibr.a do Quixalô eInhamus do Regimento/ do Coronel Fran.co Alz´ Feitoza e convir provello empecoa de/ satisfaçaò e merecimentos tendo eu Respeito a que todos estes Requizi/ tos concoRem na peçoa de Fran.co Frr.a Pedroza pello bem que tem Ser/ vido a Sua Mag.e que Deus g.e nesta capitania nas oCazioiz que [fl 01]


que setem oferecido ao Serviço do d.o Snor da campanha/ de Tropas que tem sido afazer guerra ao gentio barbaro Levantado/ vindo muitas vezes por cabo dellas com grande Risco de vida, edespendio/ de Sua fazenda nas quais oCazioiz Seouve Sempre com muy grande/ vallor ezello do Rial Serv.o tendo ocupado oposto deCapitaó [de] ca/ vallos nesta Capitanya e por esperar delle que daqui emdiante Se/ ra damesma maneyra em.to como deve, eConfiança que faço seSua/ pessoa, epella nova ordem q tenho deSua Mag.de em carta de dezassete/ de Dezassete de Dezbr.o demil e Sete centos equinze emq medà/ faculdade para poder prover todos ospostos das ordenanças milita/ res desta Capitanya: Hey por bem deoeleger, enomear (como p.la/ prezente elejo, enomeyo) noposto de Sarg.to Mor daCapitania da Ribr.a/ do Quixalo, Inhamus do Regim.to deq heCoronel Fran.co Alz´ Feitoza/ com oq.l gozarà de todas as honras, graças, franquezas Liberdades/ previlegios inxençoiz´. q em Razaó do d.o posto lhe pertensserem do/ q´. podera dentro de seis meses Requerer aConfiraçaó p.lo Gv.or de/ Pern.co: pello que ordeno aod.o Coronel lhede a posse ejuramento na/ forma custumada eaos off.s eSoldados Seus Subordinados conhe/ çam aod.o Fran.co Frr.a Pedroza pello tal Sarg.to Mor elheobe/ deSam cumpraó egoardem sua ordenz´, tanto depalavra como/ por escripto, tam pontual e inteiramente como devem e sam o/ brigados q por firmeza daq.l lhemandey passar a prezente por/ mim aSignada eCellada com o Signete deminhas armas aq.l/ Rezistara nos Livros daSecretaria deste governo, enosmais aque tocar. Dada neste ARayal denossa Snr.a do Ò aos vinte e nove [borrado]/ do mês deJunho eeu Manoel de Miranda afis anno de mil/ eSetecentos edezanove. Salvador Alz´. da Sylva. estava o cello [fl. 02].    


(Imagens/Fonte: Biblioteca Nacional do Brasil).