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sexta-feira, 22 de junho de 2012

A VERDADEIRA ORIGEM DOS CARCARÁS DE SABOEIRO


A VERDADEIRA ORIGEM DOS CARCARÁS DE SABOEIRO
                                                                          
                                               Autor: Eneas Braga Fernandes Vieira
                                               Publicado por: Heitor Feitosa Macêdo
        
         Maria Celina Fernandes Moura (DIÁRIO DO CEARÁ, edições de 20 e 21 de 1950), Antenor Gomes Barros Leal (HISTÓRIAS DA FUNDAÇÃO DE BOA VIAGEM, Ceará, 1962) e outros erraram, data vênia, quando afirmaram que AGOSTINHO SANCHES DE CARVALHO e ANA GONÇALVES foram os progenitores das chamadas 7 irmãs.
Cel. João Batista Fernandes Vieira.
         Inicialmente, diga-se de passagem, filhas foram seis. O sétimo da irmandade era homem. E foram eles: Bernardina, Anacleta, Ana, Eugênia, Antônia Franco, Agostinha e Domingos Sanches de Carvalho. Portanto, mais adequado seria dizer-se 7 irmãos.
         Não viviam estes Carvalhos na Capitania de Pernambuco, antes de virem para o Ceará, como se disse, e sim em Itamaracá. Em vários assentamentos religiosos do Livro Nº 1, de casamentos e nascimentos da Freguesia de Nossa Senhora da Expectação do Icó, onde figuram os nomes de algumas das citadas irmãs, a naturalidade delas é dada como sendo daquela ilha.
         Por outro lado, não é sustentável a tese de que os pais dos 7 irmãos fossem cristãos-novos. É apenas provável que tenham sido, em vista de que as famílias Sanches e Carvalho, tanto de Espanha como de Portugal, tradicionalmente eram judaizantes. O Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, foi amigo dos cristãos-novos de Portugal e, ao tempo de Primeiro Ministro de Dom José, aboliu a discriminação religiosa, justamente para favorecer aos judeus. O médico Ricardo Sanches e Ribeiro Sanches, judeus e reformadores liberais juntamente com os maçons Verney, Frei Manoel do Cenáculo e o licenciado Francisco José Freitas, modificaram totalmente  os estatutos da Universidade de Coimbra, atitude por demais revolucionária para a época.
         Na redação oficial dos que foram julgados, em Pernambuco, pelo Santo Ofício, não consta nenhum Sanches ou Carvalho, seja de um ou de outro sexo. E moradores do Ceará que foram às barras daquele Tribunal figuram apenas dois: Antônio Correia de Araújo Portugal e Antônio Mendes da Cunha, o primeiro, residente no Icó, e o segundo, em Quixeramobim. Ambos por terem se casado por duas vezes, quando as legítimas ainda viviam, em Portugal. Aquele era casado com Felipa da Silva e Joana Rodrigues do Ó, este com Teodósia Fernandes e Ana Maria Valéria.
Visconde do Icó, F. Fernandes Vieira.
         Até bem pouco, pensava-se pela tradição velha, que os pais dos Sete Irmãos fossem Agostinho Sanches de Carvalho e Ana Gonçalves de Carvalho. Mas um documento coevo, somente agora conhecido, veio dissipar este engano. Trata-se do termo de casamento de JOÃO BATISTA VIEIRA, português de São Martinho de Galegos, Arcebispado de Braga, filho legítimo de Miguel Vieira e de Domingas Fernandes, de avós ignorados, com ANTÔNIA DE OLIVEIRA, filha legítima de José de Oliveira Bastos, português de Basto, e de Antônia Franco de Carvalho, natural de Itamaracá, neta paterna de Francisco de Oliveira e de Senhorinha Rodrigues, neta materna de MANOEL DA ROCHA FRANCO  e de sua mulher MARIA SANCHES DE CARVALHO.
         Ora, se Antônia Franco de Carvalho era uma das irmãs carvalhinhas e se sua filha, Antônia de Oliveira, era neta materna de Manoel da Rocha Franco e de maria Sanches de Carvalho, lógico é dizer que estes foram os pais dos outros irmãos Sanches de Carvalho.
         A cerimônia religiosa dos pais de Francisco Fernandes Vieira, Visconde do Icó, foi levada a efeito na Capela de N.S. da Glória, filial da Freguesia de N.S. do Carmo dos Inhamuns, hoje Jucás, em 12 de novembro de 1766, na presença do Cura dos Inhamuns, Padre Sebastião da Costa Machado, do Padre Francisco Gomes Correia e de muitas pessoas, sendo testemunhas o Capitão Gabriel da Costa Lousada e Manoel da Costa Veigas.[1]
         Bernardina casou-se duas vezes e sobreviveu e sobreviveu aos dois maridos. A 1ª vez, casou-se com o Tenente Coronel Antônio Lopes de Azevedo. E assinava Bernardina Maria de Andrade. Tiveram três filhos: Padre Antônio Lopes de Azevedo, Maria Sanches de Carvalho, solteira, e Maria Teodora do Carmo que se casou com Bento Dinis Barbosa. O seu segundo matrimônio foi com o Capitão-Mor João Bento da Silva de Oliveira. Ela assinava Bernardina Sanches de Carvalho, seu verdadeiro nome. Tiveram dois filhos: Vitoriana Maria de Santa Gertrudes, solteira, e o Sargento-Mor Bento da Silva, casado com Jacinta Alexandrina de Freitas Acióli. Bernardina e os maridos viveram no Icó. (Termos de nascimentos e casamentos lançados nos livros Nº 1 da Freguesia do Icó, já referido).
         Anacleta casou-se com o Capitão Francisco Xavier de Oliveira Campos. Assinava Anacleta da Silva de Carvalho. Viveram no Sítio Poço do Mato, hoje distrito de Caipu, Município de Cariús. O Capitão foi o doador do patrimônio do Bom Jesus do Poço do Mato.
         Eugênia casou-se com Antônio Domingos Alves, pernambucano fundador de Boa Viagem, antigo Cavalo Morto. Foi aquela que fugiu do Icó para Marvão, no Piauí, e cujo casamento foi cheio de peripécias e lenda. O certo é que em 1743, Antônio Domingos Alves era dono de terras nas ilhargas do Rio Cavalo Morto que deságua no Quixeramobim. (Livro de DATAS DE SESMARIAS, vol. 14. pág. 131; Memórias do Prof. Manoel Ximenes de Aragão, in R.I.C., Tomo 24, pág. 47; O BACAMARTE DOS MOURÕES, Nertan Macêdo e O CEARÁ, Raimundo Girão e Martins Filho).
         Domingos casou-se com D. Clara Francisca de Brito, índia da aldeia Curralinho, de Sergipe d'El Rei. Tiveram os seguintes filhos: Maria Sanches de Carvalho, Clara Joaquina de Sá, Joana Inácia da Silva e Raimundo Sanches de Carvalho. Em 1809, já viúvo, juntamente com as quatro filhas descritas acima, vendeu ao Capitão-Mor Gonçalo Batista Vieira uma légua de terra no Sítio Bom Sucesso, Jucás, onde residiam ele e as três primeiras filhas, que eram solteiras. (Escritura pública de compra e venda, no original em nosso poder).
         Ana casou-se com o Capitão Francisco Ferreira da Mota. Passou a chamar-se Ana Ferreira da Silva. Residiam no Sítio Pitombeira que fica localizado nas proximidades do povoado de Barrinha, em Saboeiro. Deles vêm os cunhados carcarás pitombeiras. Em julho de 1739, no Sítio Camaleões, que compreende hoje parte das fazendas Varzinha, Uruguai, Cavalinho, Serrinha principalmente, e Pedra Branca, de um e outro lado do Rio Jaguaribe, o Padre Francisco Xavier de Vasconcelos batizou a Antônio, filho do casal, sendo-lhe padrinhos Tomás Alonço e Ângela da Silva, mulher do Comissário Francisco Pereira de Carvalho. (Livro da Freguesia de N.S. da Expectação, pág. 24).
         Antônia Franco casou-se no lugar Caiçara, com o português de Basto, José de Oliveira Bastos, filho legítimo de Francisco de Oliveira e de sua mulher Senhorinha Rodrigues. Deles, principalmente, por ter sido um casal  que deixou grande descendência e por ter vivido no Sítio Carcará de Baixo ou Santa Cruz, para distinguir do verdadeiro Sítio Carcará, recebido em sesmaria, no ano de 1718, por Ventura Rodrigues e Domingos Rodrigues, baianos do Rio São Francisco, é que procede a família saboeirense, assim conhecida, isto é, Carcará, por causa do local do mesmo nome.
         O Sítio Santa Cruz ou Carcará de baixo foi pedido pelos pernabucanos de Serinhaém, Lourenço Alves Feitosa e Francisco Alves Feitosa, em 1721. Esta fazenda Santa Cruz, ou simplesmente Cruz, nome pelo qual ficou mais conhecida e como era, aliás, colocado nos termos religiosos, deu origem à Povoação da Cruz, hoje Saboeiro. Na primeira metade do século XVIII, ela pertencia ao Coronel Manoel Gonçalves de Souza. Ali , em 14-07-1735, foi batizada Joana, filha legítima do dito Coronel e de sua mulher Maria da Conceição. (Livro da Freguesia do Icó, já citado).
         A fazenda, mutatis mutandis, veio a pertencer a José de Oliveira Bastos e seus herdeiros.
         De Ana Gertrudes Barbosa, casada com Custódio André dos Santos, natural de Santo André, Bispado do Porto, filha legítima de Maria Teodoro do Carmo, casada com Bento Dinis Barbosa, neta, aquela, de Bernardina Sanches de Carvalho e João Bento da Silva de Oliveira, vêm os carcarás de Marrecas, Tauá, cujos descendentes convolaram núpcias com os de Pitombeira e Cruz, em Saboeiro.
         Em menor escala, os carcarás saboeirenses têm origem também do casal Francisco Xavier de Oliveira Campos - Anacleta da Silva de Carvalho.
         Mas a principal fonte genealógica dos carcarás de Saboeiro, portanto, é o casal José de Oliveira Bastos e Antônia Franco de Carvalho, natural da ilha de Itamaracá.
         Manoel da Rocha Franco era irmão do Capitão-Mor da Ribeira do Acaraú, Pedro da Rocha Franco que faleceu em 1754, com 79 anos de idade, segundo o testamento que fez a véspera da morte. Era filho de Manoel Maria e Maria Rodrigues. Nasceu em Concelho do Tejo, numa localidade chamada Logar da Igreja. (in BOLETIM DO INSTITUTO CULTURAL DO VALE CARIRIENSE, ANO-1979, Nº 6)

             



[1] O Visconde do Icó, Francisco Fernandes Vieira, era filho do português João Batista Vieira e Antônia de Oliveira Bastos, conforme os registros paroquiais. Ver: Aécio Feitosa, CASAMENTOS CELEBRADOS NAS CAPELAS, IGREJAS E FAZENDAS DOS INHAMUNS (1758 - 1801) - HISTÓRIA DA FAMÍLIA FEITOSA, Fortaleza, 2009, p. 66).

quinta-feira, 5 de abril de 2012

DOCUMENTOS INÉDITOS: (I) CONFIRMAÇÃO DE CARTA PATENTE DO CORONEL FRANCISCO ALVES FEITOSA


DOCUMENTOS INÉDITOS: (I) CONFIRMAÇÃO DE CARTA PATENTE DO CORONEL FRANCISCO ALVES FEITOSA
                                                                                                                              
  
                                                                         Heitor Feitosa Macêdo

               
         A história quase sempre é recontada a partir do surgimento de novos documentos, antes imersos em poeiras e esquecimento. E para contribuir com esse processo, o Projeto Barão do Rio Branco (Projeto Resgate) promete pôr fim a uma parte desconhecida e distorcida da história do Brasil, concorrendo para isso a elucidação da Carta Patente conferida ao sesmeiro e colonizador pernambucano Francisco Alves Feitosa.
         Esse projeto é fruto da empreitada do Ministério da Educação, da iniciativa do Embaixador Vladimir Murtinho e da Dr.ª Esther Caldas Bertolette, consistindo no resgate das imagens de documentos manuscritos referentes ao Brasil colonial, espalhados  pelo exterior.
         O conteúdo de tais manuscritos vai desde simples correspondências até cartas régias, além de pareceres do Conselho Ultramarino e do Conselho da Fazenda. A identificação e a triagem dessa documentação foram realizadas por Professores Doutores de diversas Universidades, resultando em milhares de imagens em CD-ROMS e microfilmes.[1]  
         O presente documento, confirmação de carta patente, faz parte da coletânea compulsada no Arquivo Histórico Ultramarino, em Portugal, referente à Capitania de Pernambuco, material bastante extenso, com 33 mil documentos, por conta de essa Capitania ter mantido sob sua jurisdição outras como a de Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
         A ciência histórica vive às voltas com sua própria dinâmica, volvendo-se no tempo para reescrever afirmativas dantes tão categóricas, mudando o curso dos fatos segundo o paulatino aparecimento de outras fontes primárias. Contudo, vez por outra um cartapácio se revela sacudindo o pó do esquecimento, e trazendo uma visão mais exata dos fatos, carreando uma nova verdade histórica. E isso é o que tem frequentemente ocorrido com a redescoberta desses preciosos documentos.
         Nesse momento, a história, principalmente a de cunho regional, goza de novos e esclarecedores auspícios, e dentre os milhares documentos relativos à Capitania de Pernambuco, um vem corrigir a falsa assertiva adotada por historiadores até o presente instante.
         Trata-se da patente conferida ao pernambucano Francisco Alves Feitosa, que migrou para a Capitania do Ceará, juntamente com o irmão (Lourenço Alves Feitosa), em meados de 1700, com fulcro em peticionar datas de sesmarias que estavam sendo doadas a torto e a direito.
         Quando da sua chegada, escolhera a ribeira do Icó como domicílio. Neste mesmo lugar, residiam as principais famílias do Cariri, lideradas em sua maioria por empreendedores do ciclo do gado, que buscavam terras nas imensidões agrestes para o estabelecimento de seus currais.
         Francisco havia desposado uma viúva pertencente a um importante grupo familiar dominante e residente nessa mesma localidade, Isabel de Montes Silva, com a qual trespassava o bucólico cotidiano.
            Entretanto, o irmão de Francisco visava à tornar-se mais rico e poderoso, não lhe bastando as léguas de terras que havia recebido por doação sesmarial nas Capitanias de Pernambuco e Ceará. Lourenço ambicionava todas as terras que os olhos podiam alcançar. Fato que causou desagrado aos irmãos da esposa de Francisco, culminando em um enfrentamento armado.

O  Coronel  Francisco  Alves  Feitosa,  justiça  se  lhe  faça,  soube  compreender  a aflitiva  situação  de  sua  consorte,  não  tomando  parte  nos  três  primeiros  atos de hostilidades  dos  seus  parentes,  pois  que  as  tomadas  das  terras do Riacho Trussu-Barra  e  a  famosa  lagoa do Iguatu foram atos, que o comissário geral Lourenço Alves Feitosa  encabeçou,  sozinho.  No terceiro ato, porém,  entraram,  em  cena,  os          dois  Lourenços  pai  e  filho.  Bloquearam, em Icó  o  coronel  Montes,  situando-se      ambos nas testadas de suas terras. Tornaram-se,  destarte,  vizinhos  de  terras.  Recrudescendo  a  questão,  o coronel Francisco  Alves  Feitosa   vira-se   na  emergência de  solidarizar-se  com  o  seu irmão  e  parentes,  nos  últimos  atos.[2]   
               
        Esse episódio configurou o maior conflito agrário da história do Ceará, tomando proporções tão consideráveis que, a exigência pelo fim deste entrevero, necessitou bater às portas da Coroa Portuguesa, a qual aconselhou às autoridades locais que procedessem drasticamente em relação aos líderes desse levante. Para tanto, o governo português também encarregou um funcionário do seu alto escalão para apurar os fatos e punir os culpados.
         Tão logo se abriu a sindicância, a respeito da Guerra entre Montes e Feitosas, os culpados foram indigitados. Assim, Francisco, os dois Lourenços e alguns outros membros de sua parcialidade foram responsabilizados pelo embate.
         Entretanto, ainda no auge da contenda armada, entre os anos de 1724 e 1725, o governador da Capitania do Ceará já havia aplicado penalidades a alguns dos líderes da sublevação, suspendendo-lhes as respectivas patentes,[3] pois enorme era o poder e influência dado a estes indivíduos em tais cargos, providos e escudados no seio do próprio Estado.
         Frise-se que Lourenço Alves Feitosa, ao chegar de Pernambuco, já ostentava o cargo militar sob o título de Alferes.[4] Contudo haveria de angariar patamar mais elevado, chegando a Comissário Geral.[5] Quanto a Francisco, este só seria tratado pelo nome de Coronel, em documentos oficiais, a partir de 1722.[6] Apesar de essa nomeação, para o referido cargo, ter ocorrido em data anterior.
         O exato momento dessa nomeação, para o posto de Coronel, é dado pelo pai da história cearense, Antônio Bezerra, o qual assegurou que: "O Capitão Salvador Alves, além de tudo nomeou Francisco Alves Feitosa, coronel de Cavalaria das Ribeiras de Quixelou e Inhamus, por carta patente de 15 de junho de 1719"[7]. Partindo de tal afirmativa, feita pelo douto historiador cearense, seria vã ousadia tentar contestá-lo em posição tão categórica. Assim, doravante, todos os historiógrafos comungaram invariavelmente da mesma opinião, apenas repetindo-a.
        Denotaria exacerbada pretensão negar as premissas promanadas por Antônio Bezerra, porque seus escritos quase sempre se respaldam em fontes primárias, ou seja, para ele os documentos são os mais seguros meios de conhecer a verdade. Dessa forma, seguindo preceitos do positivismo, o grande escritor despreza as demais fontes dessa ciência, desacreditando-as com as seguintes palavras: "Onde a crônica se cala, diz Garret, e a tradição não fala ou fala falsamente, digo eu, antes quero uma página inteira de pontinhos ou toda branca ou toda preta...do que uma só linha de invenção do croniqueiro".[8]
         Enristando esses argumentos, Antônio Bezerra atribui completo descrédito aos cronistas da história cearense. Fato que influenciou e ainda influencia muitos dos entusiastas da história do Ceará, que tendem a considerar o trabalho desses cronistas uma simples obra folclórica, ou fruto de pura invencionice.
         No entanto, João Brígido fez por bem rebater esse posicionamento metrificado sobre os fatos, sustentando renhida luta na seara intelectual, e acerbamente definindo o perfil de seu principal opositor na seguinte frase: "Todo Bezerra é infalibilista e admite o absoluto (...)S.Sª - como escritor, enleia, como patriota, peca errando o alvo; como historiógrafo, tem vesga alma, a mente a coxear, o estudo falho, produzindo bolhas só, algumas vezes fumaça; luz, absolutamente nunca".[9] Além disso, João Brígido parece não ter ganhado a simpatia de outros ícones da intelectualidade herodotiana.[10] 
         Esse embate ainda hoje perdura por meio dos escritos legados ao presente momento, onde muitas questões continuam permeadas de dúvidas, enquanto outras já repousam em pacífica aceitação. Contudo, o tempo é o juiz ideal para dirimir conflitos dessa espécie, dando oportunidade para o surgimento de novas evidências, as quais poderão trazer a lume acontecimentos ofuscados, ou mesmo redirecionar o que se mostra pronto e acabado.
         Logo, o aparecimento do documento referente à confirmação da carta patente do Coronel Francisco Alves Feitosa desdiz, em parte, Antônio Bezerra, ao revelar que o posto de Coronel não era de Cavalaria, mas de Infantaria, conforme se extrai da seguinte transcrição[11]:

Diz Francisco Alves Feitosa que o governador da Capitania de Pernambuco o   proveu  no  posto  de  Coronel   de  Infantaria  de  Ordenança  da Ribeira dos Inhamuns  Distrito da Capitania do Ceará Grande, e porque  para  melhor   continuar  o  Real serviço de  Vossa Majestade  necessita  de  sua patente confirmada.
Para que Vossa Majestade lhe faça mercê mandar confirmar da sua patente na forma do estilo.
Duarte Sodré Pereira Tibão donatário da Vila de Águas Belas do Concelho de Sua Majestade que Deus guarde Governador e Capitão Geral de Pernambuco, e mais Capitanias anexas [etc]. Faço saber aos que esta carta patente virem que por parte de Francisco Alves Feitosa se me representou estar exercendo o posto de Coronel de Regimento de Infantaria de Ordenança da Ribeira dos Inhamuns da Capitania do Ceará por nomeação do Capitão-mor que foi dela João Batista Furtado pedindo-me lhe mandasse passar patente de confirmação do dito posto em que foi provido por baixa que se deu dele a Matheus Monis Barreto, que o servia, por haver faltado a atos demonstrados, e visto seu requerimento e me constar ser um dos homens nobres,  afazendado e de bom procedimento, como pelo bem que tem servido a Sua Majestade em as mesmas Ordenanças daquela Ribeira com os postos imediatos, tendo-se havido com inteira satisfação na execução de tudo o que de que fora encarregado com muito zelo do Real serviço e esperando dele que daqui em diante se haverá da mesma maneira em conduzir a confiança que faço da sua pessoa. Ei por bem de confirmar, e prover em o referido posto de Coronel do Regimento da Infantaria de Ordenança da Ribeira dos Inhamuns que vagou. Como fica dito para que o seja visto e exerça e goze de todas as honras, graças, franquezas, privilégios e liberdades que em razão do dito posto lhe tocarem. Pelo que ordeno ao Capitão-Mor daquela Capitania o deixo continuar a exercer debaixo da mesma posse e juramento que se lhe deu quando nele entrou a servir, e os oficiais maiores e menores, e soldados do dito regimento lhe obedeçam e cumpram suas ordens de palavras e por escrito inteiramente como devem e são obrigados. E por firmeza de tudo lhe mandei passar a presente por mim assinada e selada com o sinete de minhas armas, que se registrara nos livros da secretaria deste Governo. Câmara de Olinda, e Vedoria Geral. Dada nesta praça do Recife de Pernambuco em os vinte e três dias do mês de junho. Bento Soares Pereira a fez, ano de mil setecentos e trinta e três, o secretário José Duarte Cardoso a fez escrever.
Duarte Sodré Pereira Tibão
Carta patente pela qual Vossa Senhoria houve por bem confirmar de Francisco Alves Feitosa no posto de Coronel do Regimento de Infantaria da Ribeira dos Inhamuns em que foi provido pelo Capitão-Mor da Capitania do Ceará João Batista Furtado como nela se declara.
Para Vossa Senhoria Ver.
Registrada no Livro 1º de Registros de Patentes que serve nesta Secretaria do Governo de Pernambuco a folha 230 frente e verso. 23 de junho de 1733.
José Duarte Cardozo.[12]
            
      Desta maneira, corrige-se o engano do grande historiador Antônio Bezerra, e, consequentemente, retifica-se o erro herdado pelos demais historiógrafos a respeito da sobredita patente. Agora, tem-se a certeza de que um dos principais desbravadores do Cariri e Inhamuns, Francisco Alves Feitosa, ostentava, na verdade, o posto de Coronel do Regimento da Infantaria de Ordenança dos Inhamuns.

BIBLIOGRAFIA:

Couto, Monsenhor Francisco de Assis, Monografias (Paróquia de Iguatu, Gênese de Iguatu, História do Icó, Diocese de Iguatu, Origens de São Mateus), Fortaleza/CE, Editora A. Batista Fontenele, 1999.

Bezerra, Antônio, Algumas Origens do Ceará, Fortaleza/CE, Editora Fundação Waldemar Alcântara, 2009.

Brígido, João, Ceará (Homens e Fatos), Fortaleza/CE, Editora Demócrito Rocha, 2001.

Studart, Guilherme, NOTAS PARA A HISTÓRIA DO CEARÁ, Brasília/DF, Senado Federal, 2004.


DOCUMENTOS:

Documentos Manuscritos e Avulsos da Capitania de Pernambuco, Catálogo III (1798-1825), Recife/PE Editora Universitária (UFPE), 2006.

Datas de Sesmarias, Volume IV, nº 202, Fortaleza/CE, Tipografia Gadelha, 1925.

Datas de Sesmarias, Volume VI, nº 467, Fortaleza/CE, Tipografia Gadelha, 1925.

Datas de Sesmarias, Volume XI, nº 39, Fortaleza/CE, Tipografia Gadelha, 1926.



[1] Documentos Manuscritos e Avulsos da Capitania de Pernambuco, Catálogo III (1798-1825), Recife/PE, Editora Universitária (UFPE), 2006.
[2] Couto, Monsenhor Francisco de Assis, Monografias (Paróquia de Iguatu, Gênese de Iguatu, História do Icó, Diocese de Iguatu, Origens de São Mateus), Fortaleza/CE, Editora A. Batista Fontenele, 1999, p. 81.
[3] Op cit., p. 39.
[4] Em 26 de janeiro de 1727, Lourenço já era tratado por esse axiônimo (Datas de Sesmarias, Volume IV, nº 202, Fortaleza/CE, Tipografia Gadelha, 1925).
[5] Lourenço é tratado como Comissário Geral, em documentos oficiais na data de 06 de fevereiro de 1720, (Datas de Sesmarias do Ceará, Volume VI, nº 467, Fortaleza/CE, Tipografia Gadelha, 1925).
[6] Em 17 de julho de 1722 (Datas de Sesmarias do Ceará, Volume XI, nº 39, Fortaleza/CE, Tipografia Gadelha, 1926).
[7] Bezerra, Antônio, Algumas Origens do Ceará, Fortaleza/CE, Fundação Waldemar Alcântara, 2009, p. 132.
[8] Op. cit., p. 130.
[9] Brígido, João, Ceará (Homens e Fatos), Fortaleza/CE, Editora Demócrito Rocha, 2001, p.329 e 342.
[10] O Barão de Studart faz críticas severas aos escritos de João Brígido e Pedro Théberge (NOTAS PARA A HISTÓRIA DO CEARÁ, Brasília/DF, Senado Federal, 2004, p. 33).
[11] Documentos Manuscritos e Avulsos da Capitania de Pernambuco, Catálogo III (1798-1825), Recife/PE, Editora Universitária (UFPE), 2006. Documento datado de 17 de agosto de 1735.

[12] A presente transcrição primou mais pelo aspecto didático, para isso, utilizando uma escrita mais afeita à atual língua portuguesa.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

BIMBIM FEITOSA: CORAGEM NO ALTO JAGUARIBE


                                                                                 Heitor Feitosa Macêdo

Salústio Ferrer Feitosa (Bimbim ou Bimba), nasceu nas cabeceiras do Rio Juaguaribe, na fazenda Saco Virgem, aos pés da Serra Grande. Seus pais eram o Tenente Emilano Ferreira Ferro e Epifânia Estefânia Bandeira Ferrer, moradores na região dos Inhamuns, no atual município de Parambu.
Vagiu em 1891 , sendo o sétimo dos dez filhos de Mãe Fana e Pai Milú, pois o oitavo era o ilustre Monsenhor Francisco de Assis Feitosa. Apesar disso, o gênio de Salústio mais se assemelhava ao do irmão primogênito, Epaminondas Ferreira Ferro, pouco afeito ao mister religioso, e mais habituado à lida no rude sertão.
Possuía um gênio intempestivo. Passando ao largo da perversidade, agia combativamente nas questões que possuísse a melhor razão, sem exceder ao bom senso da época. Suas pelejas foram intensas e dignas de narração, constituindo-se em lendárias bravuras nos agrestes dos Inhamuns.
Sendo filho de um clã exclusivamente pastoril, fez-se afamado pela habilidade com que traquejava o gado, ostentando a galhardia de ser renomado vaqueiro. Conta-se que ele costumava domar animais bravios, e numa dessas ocasiões, ao montar um cavalo não manso, no pátio da fazenda, esporeava-o incessantemente, cuidando para não ser lançado ao chão pelo selvático equino. No entanto, o solo daquele terreiro era repleto de buracos feitos por gambás. Assim, a alimária findou metendo uma das patas em um desses orifícios, vindo a espojar-se bruscamente. Contudo, o semovente esbarrou com o dorso solitário no chão, pois Bimbim já havia saltado do lombo daquela montaria, tal qual um gato, posto que caiu em pé.
Também não escusava-se de ir ao encalço de cangaceiros, que fervilhavam os sertões de outrora, como ocorrera em 1914, quando Dr. Floro Bartolomeu, movido por tricas políticas, contratou Vicente Silvino (irmão do célebre cangaceiro Antônio Silvino) para matar o Coronel Lourenço Alves Feitosa e Castro. Depois da tentativa frustrada do assassínio, o bandido escapuliu pelo sertão, cabendo a vários grupos persegui-lo. Dentre estes, foi chefe Bimbim, juntamente com seu irmão Epaminondas.
Certa feita, ao comparecer nas festividades do casamento de um primo, Salústio viu-se obrigado a intermediar uma situação que constrangia o noivo, Zé Daniel, que tivera uma desinteligência com uns “negros” conhecidos pela alcunha de Jaós. Estes haviam sido manipulados pela família Gomes de Freitas, que na época disputava o poder político com os Feitosas. E por meio de provocações, buscavam desencadear reações adversas ao bom convívio.
Bimbim, resolveu ir até a fazenda de seu parente, onde o casamento era comemorado, apesar de sua cunhada, Mariquinha, esposa de seu irmão Epaminondas, tê-lo admoestado para que não fosse, visto que os Gomes de Freitas estavam promovendo perseguições aos seus adversários, e Epaminondas encontrava-se ausente. Mesmo assim Bimbim teimou, e foi confraternizar-se na residência de seu primo Zé Daniel.
Ao chegar a residência em que se rejubilavam os convivas e os nubentes, foi informado da desagradável presença dos Jaós, imiscuídos por entre os convidados, sem a aquiescência dos noivos. Sem muita delonga, e investido de pragmática e eloquente persuasão, Bimbim chama os Jaós para um particular, e pergunta-lhes se já haviam jantado, sendo a resposta afirmativa. Então, Bimbim aconselha-os a não permanecer naquele recinto, pois alegava ser inconveniente tal presença, posto que o noivo não estava satisfeito com a visita inoportuna dos seus desafetos.
Os irmãos Jaós prontamente dispuseram-se a deixar o recinto sem a menor resistência, no que foram acompanhados, em sua saída, por Bimbim. Este palestrava com o que seguia mais à frente, enquanto o segundo palmilhava mais atrás. Assim, deslocaram-se em direção ao breu que cercava o perímetro mais afastado da casa da fazenda, ausentando-se à luz da fogueira que clareava o terreiro. Quando tudo perecia correr calmamente, um dos irmãos apunhala Bimbim pelas costas, atravessando-o com férreo instrumento, na região do tórax, de fora a fora. Igual punhalada deu-a o outro irmão, só que frontalmente. Mas, Bimbim reagira no instante que fora agredido pelo primeiro, sacando a arma, disparou certeiro contra o indivíduo que pusera-se em sua frente, o qual tombou agonizante. A vítima das facadas, também veio ao chão, mas antes de cair, ergueu o braço para trás instintivamente, disparando outro tiro.
Ao ser socorrido, Bimbim encontrava-se bastante ferido, com quatro chagas, pois cada punhalada abrira duas feridas, de um lado e outro de seu corpo, trespassando-o. Mesmo assim recobrou as forças para narrar o que se passara com ele. De pronto, depararam-se, a poucos metros de onde estava deitado Bimbim, com o cadáver do Jaó que o cutilara frontalmente, mas não encontraram o segundo agressor, embora o moribundo afirmasse ter atirado em direção à retaguarda, sem a certeza de ter atingido seu alvo.
Enquanto sua tia Salustina, irmã de Epifânia, prestava-lhe os cuidados realizando a assepsia dos ferimentos, ele ria, ao mesmo tempo que bolhas emergiam das profundas úlceras, fato indicativo de que o pulmão, ou outra parte do sistema respiratório, estava atingido. Então, sua tia perguntou-lhe o porquê do riso diante de tamanho horror, e ele a respondeu que ria por doer muito.
Sem demora, Pedro Alves Feitosa e Vale, tio paterno de Bimbim e esposo de Salustina, vai ao encontro do sobrinho, e ao chegar ao local é informado do periclitante estado de saúde da vítima. Nesse instante, propala a ordem aos seus, que, “se Bimbim morrer, na casa dos jaós não é pra ficar vivo nem galinha”.
Na mesma noite os homens saem à caçada, fazendo-se acompanharem de rastejadores e armamento suficiente a evitar outro ataque á sorrelfa. Destarte, seguem na madrugada pelas brenhas, metendo-se por baixo das frondosas árvores do cerrado, nas faldas da Serra Grande, cuidando para não serem surpreendidos por cima, e desviando-se dos espinhos que a caatinga circunvizinha camuflava na escuridão. Mas, antes de raiar o dia, no curso de um riacho, são vistas nódoas de sangue. Os homens seguem, e mais a frente encontram o derradeiro Jaó, agônico, esvaindo-se em sangue por conta de uma bala que o atingira na coxa. Finda morrendo em consequência daquele tiro disparado a esmo por Bimbim.
Infelizmente, depois de convalescido, Salústio Ferrer Feitosa (Feitosa Ferro) termina sendo acusado de um crime. Por certo não era menos culpado do que seus inimigos, pois em tempos que a força era a regra, os situacionistas o encaravam como exceção, e dolosamente imputam-lhe a culpa de certo delito. Para evitar a pecha de um injusto cárcere, Bimbim vai residir no vizinho estado do Piauí, onde casou-se. Contudo, faleceu prematuramente de infarte do miocárdio, quando viajava a cavalo. Logo após sua viúva enlouquece, ainda grávida do finado marido, morre em estado puerperal, antes de dar à luz.









BIBLIOGRAFIA:

Feitosa, Leonardo, Tratado Genealógico da Família Feitosa, Fortaleza, Imprensa Oficial, 1985.

Freitas, Antônio Gomes de Freitas, Inhamuns: Terra e Homens, Fortaleza, Editora Henriqueta Galeno, 1972.
______ Revista do Instituto do Ceará, 1972

SITES:

http://www.familysearch.org/eng/default.asp

ENTREVISTADOS:

Manoel Feitosa Sousa




sábado, 19 de fevereiro de 2011

Assalto à Casa do Alto Alegre

            ASSALTO À CASA DO ALTO ALEGRE
                                                                               
                                                          Heitor Feitosa Macêdo
           

O Alto Alegre era uma das fazendas pertencentes a Joaquim Solano Alves Feitosa, descendente da mais ilustre cepa do sertão dos Inhamuns, sendo o seu pai, o Coronel Joaquim Alves Feitosa (Coronel Quim),  Comandante Superior do Batalhão da Guarda Nacional, chefe político do partido liberal, e Deputado Provincial no biênio 1868/1869.[1] A fazenda localiza-se entre os municípios de Aiuaba e Campos Sales, na divisa com o Piauí. Um lugar ermo, como quase todos naquela hinterlândia.
Ruínas da Casa do Alto Alegre.
         O titular da casa era um homem abastado, pois descendia da fina flor de sua estirpe. Pela linha paterna era neto do capitão Pedro Alves Feitosa, senhor da fazenda Cococá (Cocá) e de sua esposa Maria Madalena de Castro.[2] Já pela linha materna o garbo era maior, pois sua mãe, Maria Madalena, era neta do Major José do Vale Pedrosa[3], senhor de 64 fazendas[4], e possuidor da maior escravaria[5] de todo o Inhamuns, quiçá também do Ceará.
         Joaquim Solano era fruto da endogamia praticada em sua família a mais de século, onde primo casava com primo, às vezes tio com sobrinha, e assim por diante, geração após geração. Dificilmente rompia-se esse hermetismo matrimonial, pois as poucas famílias que se agregaram foram praticamente dissolvidas ao longo das gerações.
Solano não era um patronímico, mas apenas uma homenagem que o pai de Joaquim fizera ao intimorato general Francisco Solano López, presidente vitalício do Paraguai. E, apesar de o Coronel Joaquim Alves Feitosa ser responsável pela arregimentação dos soldados para a Guerra do Paraguai[6], resolveu pôr a alcunha do inimigo de seu país em um de seus filhos[7], mostrando-se ser admirador do general paraguaio.   
         A principal riqueza naqueles tempos era terra, gado e ouro, e nenhum destes faltava àquela gente que pouca importância dava a agricultura.
Quando da morte da esposa do Coronel Joaquim, fora dividido por ele todo o ouro que pertencia à finada. Diz-se que se puseram várias quartas do precioso metal, até cobrir a enorme superfície de uma mesa. Então, ele ordenou que as filhas fossem as primeiras a retirar o que lhes aprouvesse, depois disso, os filhos rateariam o restante. Talvez por isso a fazenda Barra do Puiú, berço de Joaquim Solano, fosse também conhecida como a “Barra do Ouro”, fama que traria consequências nefandas aos descendentes desta casa.
         Por volta de 1925[8], Antônio do Jerimum (Antônio Soares), promoveu um assalto a Joaquim Solano Alves Feitosa, na Fazenda Alto Alegre. O autor do roubo era oriundo do Pernambuco, mas residia nos Inhamuns, na fazenda Jerimum, pertencente a Leandro da Barra (Leandro Custódio de Oliveira e Castro). Este costumava acoutar em suas propriedades gente que dele se valia, conforme o costume da época.[9]
Muitos dos indivíduos que se homiziavam nos Inhamuns, estigmatizados em suas vidas pregressas, buscavam a proteção dos chefes locais, pois o poder encerrado por estes amalgamava o público e o privado.
Naqueles tempos, nas primeiras décadas da República, a política sustentava-se em exércitos particulares, só ascendendo ao governo através da força, o qual, depois de conquistado, só poderia ser mantido a ferro e fogo. Assim, cada qual que se municiasse de homens suficientes ao seu prestígio político, fato que há pouco convulsionara o Sul do Cariri[10].
Tais práticas reverberaram em todo o Ceará, sobretudo após a sedição de Juazeiro, em 1914. Os irmãos do célebre cangaceiro Antônio Silvino[11] (Vicente, José e Miguel) haviam deixado Pernambuco fugindo das perseguições movidas contra eles, e foram recebidos também pelo coronel Leandro da Barra, que os acolheu sob a condição de abandonarem o cangaço.[12]
Paralelamente a isso, o Coronel Lourenço Alves Feitosa e Castro também dera proteção a um desses pernambucanos, especificamente a Vicente Silvino, do qual se tornou compadre. Contudo, Dr. Floro Bartolomeu terminou aliciando Vicente, e, por questões políticas, peita-o para dar cabo da vida do Coronel Lourenço, no que não obteve sucesso.[13] E essa era a forma pela qual se dava a dinâmica das relações no poder.
Da mesma forma que Vicente Silvino, os indivíduos que acorriam a esses rincões haviam sujado as mãos por questões de honra, ou simplesmente por conta da nômade vida do cangaço.[14] Sendo que Antônio do Jerimum mais se perfilava nesta segunda categoria, e, além disso, há tempo andava furtando animais desbragadamente nos sertões do Ceará.   
José Valadão, filho de Francisco Valadão e testemunha do assalto.
         O larápio já havia surripiado dois cavalos de Joaquim Solano. Animais, estes, “da sela” de Manel Cariri e Francisco Valadão, vaqueiros e moradores no Alto Alegre. Cabendo a este último desvendar a subtração, quando andava pelas veredas da Cachoeira do Cachorro, localidade lindeira ao Jerimum. Aí encontrando o rastro dos equinos subtraídos, Dourado e Calçadinho, além de pegadas humanas.
O feito criminoso fora atribuído a Antônio do Jerimum, que por tal imputação, iracundo, prometeu voltar para acertar contas com os seus delatores, talvez por julgar um opróbio, ou mesmo para fazer calar a acusação. Sendo que a ameaça foi escrita em uma carta, feita em Juazeiro do Norte, e remetida ao seu destinatário nos Inhamuns, a Joaquim Solano.[15]
         Um ou dois anos depois da promessa de vingança[16], Seu Chico da Fazenda Nova (Francisco de Sales Castro)[17] manda um portador avisar a Joaquim Solano sobre a presença dos abigeatários na região, e acrescentou que a súcia compunha-se de vários elementos, que se deslocavam em direção ao Alto Alegre.  
         De sobreaviso, Joaquim Solano reúne-se com seus moradores, amigos e parentes, dentre os quais estavam: Francisco Valadão, Antônio Valadão, Pedro Valadão, Quinco Pepê, Antônio Ruberto, Calixto (oriundo do Cariri); além de seus filhos, Zé Solano, Deolindo Solano e Senhorsino Solano. Na presença destes Joaquim comunica a ameaça do possível ataque, porém, incautamente não entrega as armas aos circunstantes, deixando todo o material bélico trancafiado no quarto dos arreios.
         De repente, no arrebol do entardecer, quando a penumbra esmaecia os últimos fulgores do ocaso, a malta sub-reptícia, composta em silhuetas indistintas, adentra o pátio da fazenda prolatando “boa noite”, sucedendo-se a seguinte perquirição: “quem é o dono da casa”. Quando prontamente o titular do velho solar, no frontispício deste, sentado lateralmente à soleira da porta, juntamente com a esposa e filhos, responde-os: “sou eu”. Dito isto, dispara-se um tiro contra Joaquim Solano, que rapidamente se agacha, evitando ser varado pela bala nivelada na altura de seu tronco.
Em seguida, deslocando-se para o interior da casa, evita que um novo disparo o atinja, sendo que o projétil desta vez esbarrou em uma meia parede, no âmago da residência. Os tiros rebentavam com tal intensidade que as lamparinas, já acesas na boca da noite, ameaçavam apagar, diminuindo suas labaredas ante o vento soprado pelo deslocamento das balas.[18]
         Os filhos e a esposa da vítima, nesse ínterim, também se recolhem à guarida do lar, prestes a ser devassado. Os moradores da fazenda vão buscar refúgio na vegetação ao derredor. Mas, antes disso, Antônio Valadão “dá de mão” a um rifle, enquanto Quinco Pepê muniu-se de um fuzil que não soube “manobrar”. Este se posicionou no oitão da casa, adjunto das laranjeiras que flanqueavam a velha construção, e debalde disparou os três tiros que a arma dispunha. Os celerados perceberam o esgotamento precoce da munição pilheriando: “manobrou o rifle seco, cabra do diabo”.[19] Nada mais obstava que a corja violasse o interior daquele solar.
         Francisco Valadão, em uma atitude fiel e corajosa, escondeu-se em um dos quartos a fim de socorrer o velho patriarca, pulando uma meia parede para alcançar o corredor, que ia dar no quarto em que se fizera o calabouço do chefe daquela família. Enristando uma faca, o fiel Francisco não obteve êxito, pois fora capturado pelos facínoras, melhormente armados, e ao ser indagado ironicamente sobre a desproporção bélica: “o que está fazendo com esta faca, negro”, logo respondeu: “vim morrer com meu padim”.[20]
Dona, esposa de Joaquim Solano.
 Enquanto isso, Dona (Maria da Glória Ferrer Feitosa), a esposa de Joaquim Solano, segurando uma imagem do Senhor Jesus Cristo, apelou para que os malfeitores não fizessem nenhum mal ao seu marido. Mas os invasores escarcavelavam todos os cômodos em busca de algum valor, a ponto de tentarem arrancar à força os brincos das orelhas de Candóia (Cândida Solano Feitosa, “Dodóia”), filha primogênita do casal refém, a qual se despojou das joias antes que suas orelhas fossem rasgadas.
Dona findou entregando aos bandidos um dos dois baús repletos de de ouro e prata que estavam guardados na casa, arrefecendo o animus nocendi daqueles bandoleiros.

Enquanto isso, Antônio Valadão, depois de deflagrar os três parcos tiros, foi até a propriedade vizinha, a Fazenda Salão, pedir auxílio a Antônio “Tragino” (Targino), que enviou rapidamente um emissário à Fazenda Nova, onde residiam os parentes mais próximos de Joaquim Solano. Pela manhã, já de volta ao Alto Alegre, Antônio Valadão, participando dos comentários sobre o ocorrido na noite anterior, foi indagado por Joaquim Solano onde teria dormido, respondendo ter passado a noite perto da casa grande, depois de haver procurado auxílio nas terras limítrofes.
Então, nesse intervalo, Joaquim Solano trouxe as mãos cheias de balas, mas extemporaneamente, como foi admoestado por Antônio Valadão que nessa hora disse: “não seu Joaquim. Foi tarde! O senhor devia ter dado esta mão de bala esta noite”.[21] Acrescentou, segundo a logística sertaneja, rude, mas sábia, que estando o grupo na defensa da casa em maior número, dentre eles, alguns exímios atiradores, como Francisco Valadão, e estando entrincheirados no solar, seria fácil ter desbaratado os cangaceiros que lutavam no “campo da honra” (em campo aberto).[22]
Parede do açude onde os bandidos passaram durante a fuga.
O séquito dos bandoleiros se evadiu depois de subtrair o ouro e de ter seviciado o pater familias de tão distinta morada. Durante a fuga, ao alcançarem a parede do açude, Pedro do Jerimum, filho de Antônio do Jerimum, propôs aos comparsas que voltassem para matar Joaquim Solano, deblaterando: “nois demo uma pancada numa cobra, e deixemo viva”.[23] Todavia, elementos que compunham tal grupo negaram-se a voltar, não dando ouvidos às proféticas palavras do pretenso sicário.
Sem demora, iniciou-se perseguição aos facínoras, liderada por Nonô (Epaminondas Ferreira Ferro), irmão de Dona, esposa da vítima do assalto, e de muito afeito a essa labuta, porque de quando em quando se embrenhava na adusta caatinga à procura de criminosos, com fito de prendê-los, comumente na cadeia de Tauá.
Nessa cidade era chefe político o Coronel Lourenço Alves Feitosa, a quem Epaminondas dispensava bastante atenção, porquanto sempre atendia aos chamados do velho caudilho nas horas de grande necessidade, quando a inteligência não bastava para dirimir os conflitos, sem antes lançar mão da força.
Epaminondas Ferreira Ferro.
Epaminondas era um homem testado nas ásperas perseguições a cangaceiros, pois fora ele, juntamente com seu irmão Bimbim (Salústio Feitosa Ferro), um dos chefes que havia perseguido Vicente Silvino, pelo fato deste ter intentado matar o Coronel Lourenço a mando de Floro Bartolomeu.[24]
O grupo formado para ir ao encalço dos ladrões demorou seis meses em suas diligências, tempo gasto para capturar o último dos gatunos, os quais iam se dispersando nos sertões como que areia ao vento. Além de Nonô, compunham o mesmo grupo: Pedro de Sousa, cabra cedido pelo coronel Leandro da Barra; Joaquim Caboclo (Tio Onça); João Lopes; “Manel” Antônio e Chiquim de Sousa (filho de Manoel Alves Feitosa Sousa, da Cabeça do Boi).
O primeiro dos cangaceiros a ser pego foi Zuza Gavião, que confessou ter os elementos do bando o escopo de se apearem em Dom Quintino, a fim de participar de uma festa nessa localidade.
Assim, quando Epaminondas chegou ao dito lugar, o tenente João Canário fazia as vezes de delegado, e, ao encontrar Nonô, disse-lhe que tivesse bastante cuidado, pois que Zuza era um homem perigoso, assassino cruel e muito habilidoso, não sendo possível prendê-lo sem ajuda. No entanto, Epaminondas retrucou que Zuza não brigava, pois, sozinho, já o tinha rendido sem ter havido resistência por parte do aprisionado. Ante a resposta o Tenente João Canário remendou suas palavras afirmando que Epaminondas não era só, creditando o feito à metafísica, coisa comum naqueles sertões, em se atribuir forças sobrenaturais a certas orações e amuletos. Forma singela de explicar o imprevisto!
Durante a perseguição, uma renhida batalha foi deflagrada no sopé da Serra das Guerrilhas, em Assaré. Nesse combate os larápios buscavam alcançar o Cariri. Em um altiplano, já em elevada posição, os bandidos atacaram de cima, enquanto seus antagonistas, liderados por Nonô, abriam fogo um pouco mais abaixo.
Nesse momento, Pedro de Sousa, cabra de Leandro da Barra, acostumado a usar um chapéu com dois barbicachos, um na frente e outro atrás; teve um rasgado à bala, a qual tirou um fino de atingi-lo na altura da cabeça. Imediatamente, aos saltos, pôs-se a atirar entoando a mulher rendeira, postergando o encarniçado embate.
O derradeiro dos criminosos a ser pego foi o Baliza, que se encontrava no Icó, prestes a tomar o trem para Fortaleza. Na ocasião da sua captura, portava um rifle desmontado, mais um dos objetos que havia roubado no assalto à casa de Joaquim Solano.
A captura dos delinquentes contou com o auxílio de outros indivíduos fora da parentela, dentre eles, homens de confiança de Domingos Arrais, delegado que era em São Domingos. Este cedera dois dos seus homens de confiança, os gêmeos Fenelom e Salomão, que aprisionaram Pedro do Jerimum, e antes de o remeterem preso aos auspícios do Estado, na Cadeia Pública de Tauá, deram cabo da vida do cangaceiro brutalmente, enterrando-o na ladeira das Guerrilhas, onde jaz, sob a indicação de uma diminuta cruz. Nesse episódio, um comparsa do Pedro também foi morto pelos mesmos irmãos.
Sobre esse episódio, Gustavo Barroso Barroso diz ter sido cometido pelo destacamento policial de Tauá, acrescentando[25]:

Há menos de dois meses atrás, um grupo de facínoras, tendo à sua frente o terrível bandido Antonio do Gerimun, atacou inopinadamente a residência do Coronel Joaquim Solano.A “heroica” polícia seguiu no encalço dos famigerados, matando dois homens dos que obedeciam ao tal Gerimun. Animados por este sucesso, os novos policiais revestidos com a couraça da “barbaridade” e convencidos dos seus deveres partiram para Arneiroz, de onde trouxeram um indivíduo, que se chamava Asa Branca (por infelicidade tinha nome de pássaro). O “valente” cabo Joaquim Maria foi o chefe da “canoa”, que além de maltratar o criminoso que levava em sua companhia (Asa Branca), manchou de sangue a farda da nossa Polícia. Retirando o bandido da infecta cadeia de Arneiroz, rumaram em direção ao Tauá. Depois duma longa caminhada cheia de trabalhos penosos, porque a cada passo que davam esbofeteavam a pobre vítima, chegaram afinal à Barra do Puiú, onde se arrancharam. Aí, em lugar de minorar, ou melhor, diminuir os seus padecimentos, pelo contrário, os aumentaram. Os “valorosos” soldados que mantém a ordem naquela infeliz região levaram as suas violências ao extremo. Tiraram-lhe os olhos e em seguida obrigaram-no a caminhar. Os nossos “mantenedores” da ordem riam e troçavam diante daquele ato que acabavam de praticar. E para diminuírem os seus padecimentos e o seu crime restava apenas um meio – era assassiná-lo, e foi o que fizeram. Poucos dias depois, os incumbidos de capturar o referido bandoleiro chagavam àquela localidade e depositavam no necrotério os restos mortais da infeliz presa.    
  
No entanto, a vida do restante dos bandidos foi poupada, algo incomum naquela época, pois o líder da captura agia com recursos privados, ao bel-prazer da vindita, fato recorrente na maioria dos sertões, já que a mão do Estado não alcançava tão longe, deixando aos particulares o arbítrio de judiciar divinamente sobre a vida e a morte de seus membros.
Para melhor exemplificar, deu-se que Joaquim Caboclo (Tio Onça), ao escoltar os cangaceiros presos para Tauá foi interceptado por Calixto, apaniguado de Joaquim Solano, que desejava imolar tais presos. Entretanto, Joaquim Caboclo cumpria ordens expressas de Nonô, e não poderia contrariá-lo, logo, o meio mais eficiente que encontrou para obliterar o assassínio daqueles homens reduzidos ao cativeiro, foi fazer mira com seu rifle visando Calixto, que também não cedeu brandamente, pois, de forma recíproca, mirava o cano de sua arma em direção do renitente Joaquim Caboclo.
Entretanto, a contumácia pela manutenção da vida dos delinquentes prevaleceu, sendo três deles remetidos à cadeia de Tauá, o Baliza, o Conrado e o “Manel” Gavião (Zuza Gavião). Cabe salientar que o autor intelectual do assalto, Antônio Soares (Antônio do Jerimum) não participou da execução do crime, apenas seu filho, Pedro, homenzarrão, jovem e com ares de valente. Diz-se que os bandidos resumiam-se a seis membros, no entanto, o nome de um deles permanecia desconhecido da tradição, no que fora complementado por Gustavo Barroso, revelando ser esse sexto bandido o Asa Branca.[26]    
Por fim, os objetos foram recambiados em ínfima quantidade, e sempre que os bandidos eram pegos, afirmavam ter entregado as joias a Pedro Silvino Alencar, régulo na cidade de Araripe, que devolveu pequena parte da quantia subtraída.
Assim, Joaquim Solano deixa o Alto Alegre e vai residir mais adjunto dos seus parentes, desta vez na fazenda Poço do Boi, onde terminou de criar seus 15 filhos.

BIBLIOGRAFIA:


Barroso, Gustavo, Almas de Lama e de Aço: Lampião e outros Cangaceiros, Rio - São Paulo – Fortaleza, Editora ABC, 2012.
_______________Terra de Sol, 8ª Ed., Rio - São Paulo - Fortaleza, ABC Editora, 2006. 

Chandler, Billy Janes, Os Feitosas e o Sertão dos Inhamuns, Forteza, UFC, 1981.

Feitosa, Leonardo, Tratado Genealógico da Família Feitosa, Fortaleza, Imprensa Oficial, 1985.
Freitas, Antônio Gomes de, Revista do Instituto do Ceará, 1972.
Freitas, Antônio Gomes de, Inhamuns: Terra e Homens, Fortaleza, Henriqueta Galeno, 1972.






[1] Freitas, Antônio Gomes de, Inhamuns: Terra e Homens, Fortaleza, Henriqueta Galeno, 1972, p. 157.
[2] Feitosa, Leonardo, Tratado Genealógico da Família Feitosa, Fortaleza, Imprensa Oficial, 1985, p. 39.
[3] Feitosa, op. Cit., p. 84.
[4] Chandler, Billy Janes, Os Feitosas e o Sertão dos Inhamuns, Forteza, UFC, 1981, p.158.
[5] Chandler, op. Cit., p. 181.
[6] Feitosa, Leonardo, op. cit., p. 107.
[7] Joaquim Solano foi o primeiro a ostentar tal alcunha, Solano, dentro da família Feitosa, e o único entre os dez irmãos ( Leonardo Feitosa, TGFF, p. 101-102).
[8] Quanto à data deste acontecimento, há uma imprecisão, pois, enquanto Hilário Feitosa (irmão do historiador Pe. Neri Feitosa) diz ter ocorrido em 1924; José Valadão, que presenciou tal assalto, ainda criança, afirma ter ocorrido tal episódio em 1925. Já Gustavo Barroso, diz que o cangaceiro Aza Branca fora morto aproximadamente em maio de 1927 (In Almas de Lama, p. 52).
[9] Leandro da Barra também era Feitosa, filho do homônimo Leandro Custódio de Oliveira e Castro e D. Maria, filha de José de Sousa Rego (Leonardo Feitosa, Tratado Genealógico da Família Feitosa, Fortaleza, Imprensa Oficial, 1985, p. 86 e 98).
[10] Sobre as deposições políticas no Sul do Estado do Ceará, ver Joaryvar Macêdo em “Império do Bacamarte”, Fortaleza, UFC, 1990.
[11] Disse Gustavo Barroso que Antônio Silvino (Manuel Batista de Morais) “é o maior chefe de cangaceiros que tem produzido o sertão do Norte. É um verdadeiro senhor da zona que se estende das fronteiras de Pernambuco aos limites do Ceará...” (Terra de Sol, 8ª Ed., Rio - São Paulo - Fortaleza, ABC Editora, 2006, p. 102). 
[12] Freitas, Antônio Gomes de, Revista do Instituto do Ceará, 1972, p. 93.
[13] Freitas, Antônio Gomes de, Revista do Instituto do Ceará, 1972, p. 89.
[14] Segundo Gustavo Barroso, “o termo cangaceiro estende-se a todas as modalidades do criminoso nos sertões...” (Terra de Sol, 8ª Ed., Rio – São Paulo – Fortaleza, ABC, 2006, p. 83).
[15] Sobre a carta, as informações foram dadas por Manoel Feitosa Sousa (Manim), com base nos depoimentos de seu pai, Zezé (José do Vale Pedrosa), filho de um dos protagonistas, Epaminondas Ferreira Ferro.
[16] Manoel Feitosa Sousa (Manim) também afirma, com base na tradição, que o intervalo entre a ameaça e a invasão da fazenda foi de seis anos.
[17] Francisco de Sales Castro pertencia à família Feitosa, sendo filho adotivo do Tenente-Coronel Manoel Martins Chaves e Vale (Seu Martins da Fazenda Nova) e de Dona Maria Madalena de Castro Chaves (Leonardo Feitosa, Tratado Genealógico da Família Feitosa, Fortaleza, 1985, p. 95). A prova da adoção é atestada em uma carta de doação, feita pela viúva de Seu Martins, em benefício de Francisco no ano de 1903.
[18] Mariêta Solano Feitosa, filha de Joaquim Solano, presenciou a ação criminosa, ainda menina, e relatou a violência dos tiros no interior da casa de seu pai, que quase apagavam as lamparinas.
[19] Os termos utilizados pelo entrevistado, José Valadão, para reproduzir a fala dos protagonistas, foram mantidos. O entrevistado também presenciou o assalto. Ademais era filho de Francisco Valadão, o mesmo que encontrou os rastros dos animais furtados.
[20] Essa narração foi colhida no seio da família Feitosa-Solano.
[21] Depoimento de José Valadão.
[22] Ibidem.
[23] Ibidem.
[24] Freitas, Antônio Gomes de, Revista do Instituto do Ceará, 1972, p. 95.
[25] Barroso, Gustavo, Almas de Lama e de Aço: Lampião e outros Cangaceiros, Rio - São Paulo – Fortaleza, Editora ABC, 2012, p. 52-53.
[26] O Baliza, anos depois foi solto, mas acabou por ser assassinado no fronteiriço estado do Piauí. Já o Conrado, depois de liberto, foi ser operário na construção da estrada em cima da Serra Grande (Ibiapaba).