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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Carta-patente do tenente-coronel Gregório Martins Chaves





Projeto Dezessete e Setecentos: Documentos Raros sobre os Sertões do Ceará – Século XVIII
             
                                                                              Heitor Feitosa Macêdo
        
         No mês de outubro de 2019, fui contatado por um pesquisador chamado Michel (Mibson Michel Santiago Ramos) o qual procurava informações sobre a família Garro(s) da Câmara. Na verdade, andava ele no encalço de indivíduos que viveram no início do século XVIII no interior do Nordeste e que tiveram passagem pela capitania do Ceará.
         Michel, apesar de engenheiro, nutre grande entusiasmo pela pesquisa histórica, em especial, pela genealógica. Por certo, ele não é o único profissional liberal que sofre deste mal irremediável! Tendo eu a mesma paixão pela pesquisa, apesar de ser um advogado com banca mui modesta, resolvi tentar ajuda-lo nesta “empreitada”.
         Logo nos primeiros contatos, o dito engenheiro-genealogista me apresentou ao pesquisador Jorge Augusto Nascimento Nogueira de Sousa, carioca com sangue nordestino. Daí em diante, resolvemos “abrir dos peito” e escarafunchar nossos arquivos na tentativa comum de encontrar os benditos Garro(s). Frei de Jaboatão, Borges da Fonseca, Pedro Calmon, Barão de Studart e tantos outros clássicos da genealogia e da pesquisa histórica passaram pelo nosso crivo.
         Vagando pelos séculos transatos, nos deslocamos para os 1500, 1600 até esbarrar nos setecentos, sempre com muita sofreguidão de ter debaixo dos nossos olhos o tão desejado objeto de estudo. Impacientes, procuramos ajuda de algumas pessoas, contudo, as portas nos bateram às ventas. Apesar dos percalços, procuramos as alternativas possíveis, seguindo pistas tênues, quase apagadas nas sombras do tempo.       
         Há quem não acredite na força que possui a união humana para fazer o bem! Também há céticos que duvidam da paixão pela pesquisa, e a todo esforço ou boa ideia costumam atribuir valores pecuniários, sempre receosos de possíveis prejuízos financeiros ou com pavor da possibilidade de não poderem mais ser os arautos do ineditismo documental.
         Diante da desconfiança e do individualismo, de moto próprio e as nossas próprias expensas, resolvemos disponibilizar, gratuitamente, nossos achados, verdadeiros tesouros que repousavam em arquivos distantes dos sertões onde foram produzidos.
         Assim, apresentaremos ao público parte da primeira etapa deste esforço de digitalização e transcrição paleográfica de documentos referentes aos sertões cearenses dos idos de 1700, posto que a ciência histórica, antropológica, geográfica, arqueológica e outras pouco avançaram sobre os mistérios deste período.  
         Por último, cabe explicar que o nome que batiza este projeto “Dezessete e Setecentos” é inspirado no título e letra de uma das músicas cantadas por Luiz Gonzaga, tendo sido o termo mais apropriado para resumir o contexto de tudo que foi dito acima.            

Carta-patente do tenente-coronel Gregório Martins Chaves

            Pouco se conhece sobre Gregório Martins Chaves. Porém, pelo sobrenome bem como por outros documentos, é possível deduzir que fosse parente próximo dos Araújo Chaves e dos Feitosa, oriundos das margens do Rio de São Francisco, Penedo/AL e Porto da Folha/SE.
         A análise da documentação sesmarial aponta que Gregório Martins Chaves foi um dos grandes latifundiários da capitania do Ceará, tendo adquirido quatro datas de sesmarias nos Rios Cariús e Bastiões, entre os sertões dos Cariris Novos e Inhamuns.
         Em agosto de 1717, obteve três datas de sesmarias, uma no Riacho dos Caldeirões (nas testadas de Lourenço Alves Feitosa); outra, no Riacho dos Cajás, que fazia barra no Rio Cariús; e a terceira numa vertente entre o Rio Cariú e o Rio Salgado, vizinho à Serra do Cariri (Chapada do Araripe). A quarta data de sesmaria foi adquirida em agosto de 1721, também no Riacho dos Caldeirões.
         O ano de 1719 parece ter sido bastante proveitoso para Manoel Martins Chaves, pois, em 30 de junho, em Icó, recebeu uma provisão do governador Salvador Alves da Silva para ser administrador dos Tapuios Quixelôs.
         Porém, na segunda metade 1724, foi morto nos conflitos da guerra civil deflagrada no Cariri, na qual lutavam muitas famílias, Montes, Mendes Lobato, Feitosa, Fonseca Ferreira, e outras (Ver Revista Itaytera, nº 48, p. 104).

Dados dos Documento

• carta-patente de oficial da Ordenança
• posto de tenente-coronel da Cavalaria da Ribeira do Quixelô e Inhamuns
• regimento do coronel Francisco Alves Feitosa
• anterior ocupante: não foi dito
• obrigação de confirmação: não foi dito
• lugar onde foi concedida: Icó (Arraial de Nossa Senhora do Ó)
• data: 29 de junho de 1719
• autoridade concedente: capitão-mor do CE Salvador Alves da Silva

Transcrição Paleográfica
  


Rezisto dapatente do ThenenteCoronel/ Gregorio Miz´ Chaves eta
Salvador Alz´ daSylva Cavaleiro profeço daordem de-/ nosso Snor̓ Jezus christo cap.m mayor daCapitanya do Ceara/ grande aCujo cargo està ogoverno della por Sua Mag.de que/ Deos g.de etta. Faço Saber aos q esta carta patente virem que/ porquanto seacha vago oposto deThen.te Coronel [da]/ cavalaria da Ribr.a do Quixelo eInhamús do Regimento [fl. 01]


de que he Coronel Fran.co Alz Feitoza econvir provello/ empessoa desatisfaçao̓ emericimentos tendo eu Respeito/ aque todos estes Requizitos concoRem napeçoa de Grego-/ rio Miz̓ Chaves pello bem q tem servido a Sua Mag.de/ que Deos g.de nesta Capitania nas ocaziois que Se lhe tem/ offereçido doServiço dod.o Snor´. acompanhando as tropas q/ tem sahido afazer guerra aogentio barbaro Levantado/ ehindo muitas vezes per cabo delles com muito grande/ Risco devida edespendio deSua fazenda nas quais/ oCaziois Seouve sempre com mto grande valor ezello/ do Real Serv.co tendo ocupado oposto deThenente com/ o qual Seouve Sempre com honRado procedimento epor/ esperar delle que daqui emdiante Seaverà da mesma/ maneira, emuyto Como deve eConfiança q faço deSua/ pessoa, epella nova ordem q tenho deSua Mag.de emcarta/ deDezassete deDezbr.o demil esete Centos equinze em/ que medà faculdade p.a poder prover todos ospostos/ das ordenanças militares desta capitania: Hey/ por bem deoeleger enomear (Como pella prezente e-/ lejo, enomeyo) noposto deThenenteCoronel daCava-/ Laria daRibr.a do Quixallo eInhamù do Regimento deq/ heCoronel Fran.co Alz̓ Feitoza comoq.l gozara de/ todas as onRas graças franquezas Liberdades previlegios/ eexençois q em Razaõ dod.o posto lhepertensserem; pello/ que ordeno ao d.o Coronel lhede aposse ejuram.to nafor-/ ma Custumada, eaos off.s eSoldados Seus Subordinados/ Conhecaõ aod.o Gregorio Miz´ chaves por tal Then.te Coro/ nel elheobedessam cumpraó egoardem suas ord[ens]/ tanto depalavra como por escrito tam pontual, ein/ teiramente como devem, eSam obrigados que para/ firmeza daql: lhemandei passar aprezente por mim aSig-/ nada eCellada com oSignete deminhas armas aq.l Se-/ rezistarà nos Livros da Secret. deste governo enos [fl. 02]


enosmais aque tocar e dada neste ARayal/ denossa Snr.a do Ò aos vinte enove dias domes de Junho/ eeu Manoel de Miranda afis anno de mil eSete/ Centos edezanove. Salvador Alz´ da Sylva estava/ oCello [fl. 03]   

(Imagens/Fonte: Biblioteca Nacional do Brasil).

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