PARTE I: O Papel de Francisco
Pereira Maia Guimarães na Revolução Pernambucana de 1817
Heitor
Feitosa Macêdo
A Revolução Pernambucana de 1817 teve
seu início no dia 6 de março de 1817, no Recife/PE, e, daí, foi alastrada para
outras capitanias do Brasil, como PB, RN, AL e CE, sendo que esta última contou com a participação de um indivíduo chamado Francisco Pereira
Maia Guimarães, sobre o qual os historiadores, até o presente momento,
esqueceram-se de dedicar-lhe uma pesquisa mais detalhada.
Os livros citam breves passagens acerca
da participação de Francisco Pereira Maia Guimarães nos fatos de 1817, mas não
aprofundam nem sistematizam as informações. Por esta razão, é comum haver
equívoco sobre o assunto, como, por exemplo, quando confunde-se Francisco
Pereira Maia Guimarães com seu filho, José Francisco Pereira Maia (o “Coronel
Mainha”), ou quando afirma-se que aquele teria nascido em Portugal e não na
Colônia brasileira.
São informações, aparentemente,
insignificantes, mas que, uma vez reveladas, podem justificar as ações desse
indivíduo no contexto de 1817.
1. A Origem do Revolucionário
Francisco Pereira Maia Guimarães
1.2. Nacionalidade e Naturalidade: Documento
Inédito
Saber a nacionalidade e
naturalidade de Francisco Pereira Maia Guimarães, será muito útil na análise de
sua participação na Revolução Pernambucana de 1817. Todavia, antes disso,
apresentaremos as contradições dos autores referentes ao tema.
Uma das testemunhas oculares da
Revolução de 1817, o padre Joaquim Dias Martins, publicou a obra Os Mártires Pernambucanos, em 1853, cujos
manuscritos datam de 1823,[1] ou
seja, foram elaborados ao longo de 6 (seis) anos após a Revolução de 1817. Importa
dizer que nas afirmações do padre Martins consta que Francisco Pereira Maia
Guimarães era natural da Capitania do Ceará:
Guimarães
único (Francisco Pereira Maia) cearense de 1817; era morador na villa do Crato,
no Ceará, onde exercia com applauso publico a profissão de advogado quando
chegou áquella villa o illustrissimo emissario ‒ Alencar 2º ‒ a quem se unio
fogosamente na causa da Liberdade: seo enthusiamo fez-se tão notável que,
apenas se lavrou na camara o auto da Liberdade, que elle mesmo dictou, foi
unanimemente aclamado commandante militar da villa, onde tudo começou a marchar
na melhor ordem no sentido da Liberdade: mas a perfidia do brutal Capitão Mor
José Pereira Filgueiras fez que tudo abortasse, ficando Guimarães preso, e
sendo remettido em grilhões ao furioso Governador Sampaio, o qual, depois de
tê-lo vilmente insultado, o remetteo á Alçada de Pernambuco: esta o mandou
sepultar nos carceres da Bahia, onde esperou a redempção geral das côrtes de
Lisboa, em 1821.[2]
Ocorre que esta indicação, quanto ao lugar de nascimento de Francisco, não era a mais exata! Os “cronistas”
da segunda metade do século XIX, como Pedro Thebérge e João Brígido, ou melhor,
os primeiros “historiadores” do Cariri cearense, citam em suas narrativas
Francisco Pereira Maia Guimarães, porém, indicam Portugal como sendo o berço
deste revolucionário de 1817.[3] Isto não foi sem razão, pois, provavelmente, João Brígido, na época em que residia
no Crato/CE, deve ter consultado os antigos livros paroquiais, nos quais
encontram-se os registros (assentamentos de batismo) dos cinco filhos de
Francisco Pereira Maia Guimarães: José Francisco Pereira Maia (Coronel Mainha),
Antônia, Manoel, Francisco e Joaquina.
É justamente no registro de batismo do
seu filho primogênito que se atribui a Francisco Pereira Maia Guimarães a
nacionalidade portuguesa, como sendo natural de Guimarães:
Joze
filho legítimo de Francisco Pereira Maia Guimarães e de D. Maria Izabel da
Penha, neto paterno de José Pereira Maia Guimarães natural de Guimarães e de D.
Antonia Joana Cedrin natural de Maçarelos e da parte materna de Manoel Ferreira
Lima ja defunto natural de Sam Mateus e Dona Izabel Maria da Franca, natural
desta freguezia nasceo a 8 de Maio de 1803 e foi batizado a vinte sinco de Maio
de mil oitocentos e quatro com os santos oleos foi batizado por mim e foram
padrinhos Domingos Pedroso Batista por procuraçaỏ do Padre Joze Duarte
Cedrim e Dona Tereza de Jezus Batista do
que para contar mandei fazer este asento em que me asigno, O Coadjutor Pedro
Ribeiro da Silva.[4]
Ora, quem ousaria
duvidar de um documento oficial?
Foi por esta razão que vários
pesquisadores afirmaram abertamente que Francisco seria português. Entre
estes grandes estudiosos, estão Padre Antônio Gomes,[5]
Irineu Pinheiro,[6]
Lourival Maia,[7]
Monsenhor Montenegro,[8]
etc.
Em publicações recentes, os pesquisadores
contemporâneos, alicerçados nesta fonte documental e na vasta bibliografia,
continuam sustentando que Francisco Pereira maia Guimarães é filho de Portugal.
Em um trabalho de nossa autoria, “Sertões
do Nordeste: Inamuns e Cariris Novos (Volume I)”, consignamos que Francisco era
português, arriscando a tese de que seu retorno a Portugal teria sido motivado
pelo acirramento da lusofobia no Brasil em meados da 1822, época da
Independência.[9]
Em outro trabalho, lançado mais
recentemente, o qual arrola 1976 nomes de portugueses que migraram para o Ceará,
de autoria de Francisco Augusto de Araújo Lima, contempla-se a mesma coisa, ou
seja, diz-se que Francisco Pereira Maia Guimarães vagiu nas plagas lusitanas de além-mar:
Francisco
Pereira maia Guimarães nasceu na Freguesia de N. Senhora da Boa Viagem de
Massarelos, Porto, filho de José Pereira Maia, de Guimarães, Braga, e de
Antônia Joana Cedrim, da Freguesia de Massarelos, Porto. Naturalidade não
documentada, pode ser natural da Freguesia de São Vicente de Mascotelos,
Guimarães. No termo de batismo de seu filho José, consta Maçarelos por Massarelos, Porto.[10]
Contudo, este derradeiro autor teve a felicidade de indicar dados desconhecidos sobre um documento inédito que trata do assunto e que está disponível num site português, no digitarq, da Torre do Tombo.
Inicialmente, tivemos dificuldade em encontrar o arquivo digital!
Daí, de posse dessa informação dada
pelo genealogista Francisco Augusto, entramos em contato com a professora
mineira Maria Cecília Santos Carvalho, que nos indicou o endereço eletrônico
onde o arquivo estava disponível.
Ao realizar a leitura paleográfica do
manuscrito, em meados do mês de fevereiro de 2017, constatamos (eu e a professora Cecília) que Francisco
Pereira Maia Guimarães não havia nascido em Portugal e que, também, não havia
nascido no Ceará. Na verdade, este indivíduo era pernambucano, por ter vagido
em Recife, no ano de 1782, conforme o seu assentamento de batismo:
Diz
Francisco natural da Villa do R.e
e morador em Maçarelos Bispado do Porto f.o Leg.o de
Joze Pereira da Maya Guim.es e de sua m.er D. Antonia
Joanna Cedrim q´ faz a bem de sua justiça q´ o Rd.o Vigario do R.e
lhe paçe p.r Cert.tam o thior do Seo Batismo p.to
Pa
o M.to Rd.o Snr. D.or Vigario Geral Seja Serv.o
md.r paçar a d.a Cer.tam em forma q´ faço fé
E
R M.ce
Antonio
Jacome Bezerra, Parocho Encómendado na Parochia [e] Igreja de Saó Fr Pedro Glz´ da Villa do Recife. Certifico que
revendo os Livros dos assentos dos baptizados da p.te do R.e
no L.o doze afls trezentas, e trinta e huma v.o achei o
d.o assento na forma, e theor seguinte. = Aos doze
dias do mes de Junho do anno mil Sette centos oitenta e dous nesta Matris
do Corpo Santo de minha Licença
baptizou, e pos os S.tos Oleos o Padre Ignacio Francisco dos Santos
em Francisco branco nascido aos dezanove
dias do mes de Mayo do d.o anno filho Legitimo de Joze Pereira
da Maya, natural da freguezia da Ribr.a conselho de Monte Longo,
Arcebispado de Braga, e de sua mulher Antonnia Joana Sedrim natural de
Maçarelos, Bispado do Porto, neto pella parte paterna de Joze Pereira natural
de Pombeyro, e de sua mulher Mariana da Maya natural da dita freguezia da Ribr.a,
e pella materna de Antonio Francisco de- [fl
29]
Sedrim
natural de Sedrim, e de sua mulher Thereza Jozefa Palheiros, natural de
Maçarelos. Foi padrinho Francisco Lopes Porto, cazado, moradores todos nesta
freguezia, de que tudo mandei fazer este assento, que por verd.e
assigney. E naó se tinha mais no d.o assento, ao qual me reporto,
passa o referido na verd.e, conffirmo em fé do Parocho, e esta
mandei fazer, na qual me assigney. Recife
quatro de Mayo de mil sette centos oitenta e sete.
Antonio
Jacome Bezerra
Vigario
encomendado do R.e [fl. 20].[11]
Assentamento de batismo de Francisco Pereira Maia Guimarães |
Idem |
Portanto,
Francisco Pereira Maia Guimarães havia nascido na Colônia do Brasil, na
Capitania de Pernambuco, mais especificamente, na Vila do Recife, no dia
19/05/1782. Esse fato muda parte da micro-história caririense e, assim, ajuda a contextualizar sua
ligação com a Revolução Pernambucana de 1817, posto que, por ser brasileiro,
certamente compartilhava dos mesmos sentimentos dos demais pernambucanos, que
estavam sendo oprimidos pela Metrópole portuguesa, alijados dos altos cargos
públicos e explorados pela excessiva tributação.
Cabe
aqui esclarecer que a professora Cecília Carvalho tem a primazia nessa
descoberta, pois foi a primeira a publicar tal alvíssara na internet, no dia 2
de março de 2017, conforme consta na sua página do facebook.[12]
CONTINUA!
[1] BERNARDES, Denis Antônio de
Mendonça, O Patriotismo Constitucional: Pernambuco (1820-1822), São Paulo ‒
Recife, FAPESP, 2006, p. 155.
[2] MARTINS, Padre Joaquim Dias, Os
Martires Pernambucanos: victimas da liberdade nas duas revoluções ensaiadas em
1710 e 1817, Pernambuco, Typ. de F. C. de Lemos e Silva, 1853, p. 216.
[3] Ao tratar do episódio da
Revolução Pernambucana no Cariri cearense, disse João Brígido: “Após tantas
provas de monarquismo, muitos dos expedicionários foram presos à sua volta do
Rio do Peixe, entre eles o português Francisco Pereira Maia Guimarães...”
(BRÍGIDO, João, Ceará: Homens e Fatos, Fortaleza - CE, Edições Demócrito Rocha,
2001, p. 135).
[4] Livro dos Assentamentos de
Batismo da Freguesia de Nossa Senhora da Penha, Crato, 1813-15, p. 29.
[5] ARAÚJO, Padre Antônio Gomes de, Povoamento
do Cariri, Crato – Ceará, Faculdade de Filosofia do Crato, 1973, p. 118.
[6] PINHEIRO, Irineu, Um Baiano A
Serviço do Ceará e do Brasil, In Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, Ano
LXV, 1951, p. 16.
[9] MACÊDO, Heitor Feitosa, Sertões
do Nordeste, Volume I, Crato – Ceará, A Província, 2015, p. 228.
[10] LIMA, Francisco Augusto de
Araújo, Siará Grande: uma província portuguesa no Nordeste Oriental do Brasil,
Volume II, Fortaleza – Ceará, Expressão Gráfica, 2016, p. 823.
[11] Arquivo Nacional da Torre do
Tombo/Portugal, disponível em: <http://digitarq.arquivos.pt/>.
Acesso em 01/02/2017.
[12] Outros pesquisadores se arrogam
como primeiros descobridores desta informação (Ver: http://www.familiascearenses.com.br/.
Acesso em 07/05/2017, às 19hs50min), porém, a publicação da professora Maria
Cecília Carvalho é anterior às demais.
Parabens pelo trabalho de pesquisa, sou descendente de Francisco Pereira Maia Guimarães. Perfeito conhecer mais do passado.
ResponderExcluirSensacional Cmte Heitor! 👏👏
ResponderExcluirEx digito gigas!
Sem palavras para considerar e elogiar suas descobertas adrede análise das implicações e reverberações FPMG x Revolução 17 x Ceará.
Verdadeiro massacre contra quem pretendeu discorrer sobre a genealogia do FPMG.
Tá fortíssimo seu blog!
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ResponderExcluirCertifica��o Ce Brasil
. Caro amigo,Heitor, PARABÉNS!!
ResponderExcluir. respeitosamente, diante do seu competente esforço y pesquisa minunciosa, gostaria de saber do senhor se JOAQUINA PEREIRA MAIA,filha de *Francisco Pereira Maia Guimarães, foi casada e com quem?
.
. Pergunto-lhe isso porque minha vó do Crato dizia-me que era filha de uma JOAQUINA DO MONTE MAIA E DE OTONIEL PEDROSO BEM BEM, logo minha vó ODA Pedroso Maia era neta do Velho bem bem y bisneta de Domingos Pedroso Batista. ATÉ AÍ TUDO ÀS CLARAS, MAS.O PROBLEMA É QUANTO A SUA MÃE, MINHA BISAVÓ JOAQUINA.
. porém em toda genealogia da INTERNET eu não consigo saber quem é essa Joaquina que ela dizia que era sua mãe.
. ACASO AMBAS AS JOAQUINAS SÃO AS MESMAS? A CASADA COM OTONIEL BEMBEM Y A FILHA DE FRANCISCO PEREIRA MAIA GUIMARAES?
POR FAVOR, SE ESTA INFORMAÇÃO ESTIVER AO SEU ALCANCE FALE-ME NO MEU EMAIL. cesarbr51@gmail.com
.
.Muito grato, César.
Coronel Mainha.
ResponderExcluirFoi um grande vulto da história Cratense, deixou vasta prole.
Conheço centenas dos seus descendentes a partir de Ana Leopoldina.
Ana era filha de Tudinha Pereira Maia.
Ocorre que Tudinha Pereira Maia, consta como Filha do Coronel Maia com Antônia Ferreira Castão.
Trata-se da mesma pessoa?