O CAPITÃO-MOR DA REAL
VILA DO CRATO (CE): SUA HISTÓRIA EM
VERSO E REVERSO
Autora:
Maria Cecília Santos Carvalho
Postado
por: Heitor Feitosa Macêdo
Quantas vezes já ouvimos
a expressão: Ninguém é insubstituível?
Acredito que somos todos
insubstituíveis, visto que ninguém pode fazer o que o outro faz da mesma forma.
Somos
todos produto da nossa família, do nosso meio, das nossas vivências; trazemos,
em nosso âmago, características, reações e comportamentos únicos, os quais
constroem a nossa história; e é por essa nossa história, boa ou ruim, que poderemos
ser ou não lembrados através dos tempos.
Partindo
deste ponto de vista, entro no tema a que me propus, contando um pouco da
história militar e política do brasileiro José Pereira Filgueiras, eleito para
o posto de capitão-mor da Real Vila do Crato (CE), em 7 de maio de 1799.
No
dia 3 de maio celebra-se a proclamação da República no Crato. Com duração de
apenas oito dias, o levante republicano iniciado nesta referida data de 3 de
maio e considerado por muitos historiadores pouco planejado e repentino, tanto
no Ceará quanto em Pernambuco, sua capitania de origem, foi abortado pelas tropas
legalistas no dia 11 deste mesmo mês, por ordem do governador do Ceará, Manuel
Ignacio de Sampaio.
Presos
os cabeças do movimento e seus principais adeptos, iniciou-se a terrível Devassa,
com centenas de patriotas processados, alguns executados sumariamente, outros
assassinados, sendo que muitos foram exilados ou perderam suas vidas nas
prisões.
Para
abrandar os ânimos nas festividades de coroação de D. João VI, em 6 de
fevereiro de 1818, foi expedida uma Carta Régia que ordenou o fim da Devassa e
suspendeu ordens de prisão após essa data, perdoando os réus, com exceção dos comandantes das rebeliões,
que continuaram nas prisões e só foram libertados em 1821.
Após
este pequeno resumo da Revolução Pernambucana no Ceará, mais especificamente,
acontecida na Vila do Crato, suponhamos que o capitão-mor José Pereira
Filgueiras tivesse apoiado o movimento, mesmo sem entender com maior
profundidade o plano dos inconfidentes. Será que as forças realistas das outras
vilas sob sua jurisdição também apoiariam o movimento levantado tão
repentinamente como o que aconteceu na Vila do Crato? Estariam todas essas
vilas e seus povos prontos para suportar suas consequências?
Provavelmente,
sem um planejamento eficiente, todas essas vilas teriam sido subjugadas pelas
forças legalistas e, com certeza, o governador Sampaio não teria como perdoar
seu comandado, o capitão-mor José Pereira Filgueiras, pelo crime de alta
traição à Casa de Bragança; ele também teria sido preso e responsabilizado como
um dos cabeças da malfadada revolução eclodida no Crato.
Consideremos:
se o governo cearense tivesse criado uma comissão militar para julgar os
patriotas republicanos, certamente, os chefes do movimento teriam sido
executados ainda mesmo em Fortaleza.
Vejamos
o que fez D. Marcos de Noronha e Brito, o Conde de Arcos, governador da Bahia,
que, por decisão própria e levado por seu cruel autoritarismo, sem nem mesmo
participá-la ao Rei, nomeou comissão militar, mandando para o patíbulo, sem
prova comprovada e sem julgamento, os chefes patriotas Domingos José Martins,
José Luiz de Mendonça e Miguel Joaquim de Almeida e Castro, o intemerato Padre
Miguelinho.
Avançando
mais um pouco no tempo, podemos ainda indagar: Caso o capitão-mor José Pereira
Filgueiras tivesse sido preso, condenado e provavelmente executado junto aos
outros líderes do levante de 1817, quem estaria habilitado, na então província
do Ceará, a chefiar a expedição em socorro aos independentistas do Piauí e
Maranhão, em 1823? Quem teria oferecido sua vida e coragem para comandar os
confederados republicanos cearenses durante os terríveis combates da
Confederação do Equador, em 1824? Qual seria a versão da História do Ceará
contada até os dias de hoje, motivo de honra para seus cidadãos?
Não
se pode deixar de dar razão ao Dr. Irineu Pinheiro, um dos biógrafos mais
legítimos do capitão-mor do Crato, quando em sua tese, Um Baiano a Serviço do Ceará e do Brasil, ¹ questiona: Por que nada se fez (no Ceará), no primeiro quartel do século passado,
sem a colaboração de Pereira Filgueiras, ou melhor, sem sua ostensiva chefia?
Concluindo
estas breves considerações, pensemos bem antes de julgar e condenar o
capitão-mor José Pereira Filgueiras, que, embora monarquista, levantou
exércitos contra a opressão absolutista e ofereceu sua vida visando ao bem da
nação brasileira, terra onde nasceu e que tanto amou.
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¹ PINHEIRO, Irineu. Um Baiano a Serviço do Ceará
e do Brasil. Revista do Instituto do
Ceará (RIC), Fortaleza (CE), tomo LXV, ano 1951, pp. 5-27.
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