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quinta-feira, 14 de novembro de 2019

A Igreja de Nossa Senhora das Dores, no Juazeiro do Norte/CE, não foi construída no ano de 1827!





A Igreja de Nossa Senhora das Dores, no Juazeiro do Norte/CE não foi construída no ano de 1827!
                      
                                                                  Heitor Feitosa Macêdo

         De acordo com alguns pesquisadores, a capela de Nossa Senhora das Dores, no município de Juazeiro do Norte, foi edificada no ano de 1827 por ordem de seu capelão padre Pedro Ribeiro da Silva Monteiro. Contudo, a leitura de um documento inédito, oriundo do arquivo da Câmara da Vila do Crato, põe essa afirmação em dúvida, conforme veremos a seguir.
Igreja de Nossa Senhora das Dores, Juazeiro do Norte/CE

         O Juazeiro do Norte é um município localizado ao sul do Estado do Ceará, na região conhecida por Cariri, tendo se emancipado do território do município do Crato no ano de 1911. Sua criação se deu por força da lei nº 1.028, de 22 de julho, enquanto que sua inauguração só ocorreu no dia 4 de outubro do referido ano[1]. Cabe destacar que seu primeiro prefeito foi o cratense padre Cícero Romão Batista.

1- O Fundador da Capela de Nossa Senhora das Dores

            Na primeira metade do século XIX, antes mesmo do padre Cícero nascer, o Juazeiro era apenas uma fazenda pertencente ao padre Pedro Ribeiro da Silva Monteiro, neto do célebre brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, ancestral da família Bezerra de Menezes que, atualmente, administra o referido município.
         Nesta sua fazenda Juazeiro, o padre Pedro Ribeiro construiu uma casa grande de taipa e telha, além de um engenho de cana-de-açúcar, onde, daí, administrava suas outras propriedades: Boca das Cobras, Mata, sítio Prazeres, sítio Currais de Baixo bem como duas casas de tijolo na vila do Crato, no atual quadro da Matriz[2]. 
Paisagem imaginária da povoação do Juazeiro no início do século XIX. Desenho a lápis do artista cratense Geraldo Benigno

         O padre Pedro Ribeiro presenciou turbulentos episódios políticos da vila cratense, como a Revolução de 1817; a votação da Constituinte de 1821; a Guerra de Independência de 1822; a Confederação do Equador, de 1824 e a Guerra de Pinto Madeira. Ocorre que o padre Ribeiro faleceu prematuramente, com quarenta e poucos anos, no dia 9 de setembro de 1833, deixando em testamento todos os bens para o referido avô.
         Ocorre que, em 20 de julho de 1837, o brigadeiro Leandro Bezerra, em testamento, declarou que seu desejo era ser enterrado na “Capela da Povoação do Juazeiro”, ou seja, presume-se que, nesta data, a capela de Nossa Senhora das Dores já existia. Mas quando ela teria sido edificada?    

2- O Início da Construção da Capela de N. S. das Dores   

            Sobre o início da construção da Capela de Nossa Senhora das Dores, no município de Juazeiro do Norte, parece não existir unanimidade entre os pesquisadores, pois, além de várias datas serem apontadas, este evento também é confundido com o ato de inauguração, conforme será visto. 
         O renomado historiador Raimundo Girão, em sua obra “Os Municípios Cearenses e seus Distritos”, indica, peremptoriamente, que a Capela de Nossa Senhora das Dores teria sido edificada pelo padre Pedro Ribeiro da Silva no ano de 1827:

Em 1827, pelo Padre Pedro Ribeiro da Silva Monteiro foi edificada, à sua custa, uma pequena capela no lugar denominado Tabuleiro Grande do seu sítio Taboleiro, em frente a um frondoso juazeiro, na estrada real que ligava Crato a Missão Velha, à margem direita do rio Batateira.[3]

            Já Irineu Pinheiro (1881-1954), aparentemente, o primeiro a se aprofundar mais sobre no assunto, conseguiu trazer a lume uma data precisa para o início da construção da Capela de Nossa Senhora das Dores, qual seja, o dia 15 de setembro de 1827.

Igreja de Nossa Senhora das Dores, Juazeiro do Norte/CE

         Essa data foi por ele encontrada no jornal Sul do Ceará, em edição de 16 de abril de 1905, na qual o senhor José Joaquim de Maria Lôbo sustenta que, neste dia (15 de setembro de 1827), foi lançada a pedra fundamental da dita capela:

Em registro exarado pelo Ten-Cel. José Joaquim de Maria Lôbo, rábula, professor primário e jornalista, lê-se que “em 15 de setembro de 1827, houve missa cantada na casa de Oração pelo Padre Pedro Ribeiro Monteiro, assistida pelo Padre Joaquim Lima Verde, que cantou a Epístola, acolitado pelos seminaristas Antônio Pereira de Oliveira e José Alexandre Correia Arnaud, mais tarde aquele, Vigário de Lavras da Mangabeira e este de Cabrobó, assistindo ao ato o avô do celebrante, o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, e seus filhos, coronel Gonçalo Luís Teles de Menezes, Capitão-mor Joaquim Antônio Bezerra de Menezes, Capitão José Geraldo Bezerra, capitão Manuel Leandro Bezerra de Menezes, inclusive o menor Pedro Lôbo de Menezes, também sobrinho do Brigadeiro (...).[4]

            Na mesma fonte se abebera o pesquisador Joaryvar Macedo, vindo, por conseguinte, a consignar que a construção da capela de Nossa Senhora das Dores teve início no dia 15 de setembro de 1827:

Transferindo-se, posteriormente, para o Sítio Juazeiro, que transformou em “central administrativa de outros próprios”, exatamente nesse novo habitat principiou, em 1827, a edificação da Capela de Nossa Senhora das Dores, lançando, assim, os fundamentos da atual metrópole do Cariri. [5]    
     
            A pesquisadora Amélia Xavier também se apoia nessa informação prospectada por Irineu Pinheiro. Segundo ela, o padre Pedro Ribeiro de “Carvalho” (filho de D. Luiza Bezerra de Menezes e do sargento-mor Sebastião de Carvalho Andrade), depois de ordenado e residindo na fazenda que havia pertencido ao avô, Leandro Bezerra, resolveu ir a Pernambuco requerer licença para a construção da capela em questão:

A CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS DORES: - Ordenara-se Sacerdote o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do Brigadeiro porque filho de sua primogênita, Luiza Bezerra de Menezes e de seu primeiro marido, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho Andrade, natural de Pernambuco. Para que o Padre pudesse celebrar diariamente sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou com o novel sacerdote a ereção de uma Capelinha, no ponto principal da Fazenda perto da casa já existente. Dirigiram-se ao Senhor Bispo de Olinda e obtida a licença iniciaram a construção. Demos a palavra ao Dr. Irineu Pinheiro que publicou em seu livro “Efemérides do Cariri” o seguinte (...).[6] 

            Em seguida, Amália repete as palavras de Irineu Pinheiro, conforme a citação acima transcrita, ou seja, diz que o início das obras da capela se deu no dia 15 de setembro de 1827.
         Diante da situação, fui tentar localizar o jornal Sul do Ceará, que serviu de fonte a Irineu Pinheiro, primeiro presidente do Instituto Cultural do Cariri (ICC), com sede no Crato. No dia 6 de novembro de 2019, minha administração como presidente deste instituto havia chegado ao fim, contudo, já havia digitalizado toda a coleção da revista Itaytera e firmado contrato com o senhor Reginaldo Zurlo para a digitalização também jornais do início do século XX, pertencentes ao arquivo da dita instituição.

Jornal Sul do Ceará, p. 01

         Felizmente, no caótico arquivo do ICC ainda se encontra o jornal Sul do Ceará, bastante deteriorado e sem condições de manuseio, necessitando, urgentemente, de restauro. O que mais me dói é saber que, apesar de eu ter procurado ajuda perante IPHAN e outras instituições, ninguém pôde ajudar. Deus queira que este procedimento de digitalização chegue ao fim, pois, caso contrário, boa parte das fontes históricas sobre o Cariri desaparecerão para sempre!
         O fato é que, no dia de ontem, 17 de novembro do referido ano, encontrei as frágeis páginas do hebdomadário quase que aos frangalhos. Com muito cuidado, digitalizei pessoalmente a edição do dia 16 de abril de 1905, a qual cita a data do início da fundação da Capela de Nossa Senhora das Dores.
         O exemplar que encontrei, ano V, número 9, indica  José Esmeraldo Sobrinho como chefe-redator, sendo que a sede desta redação localizava-se na Rua do Comércio, na cidade do Crato. Na página 2, encontra-se, sob o título “Secção Livre”, uma matéria denominada “A Verdade”, assinada pelo já citado José Joaquim de Maria Lobo e com data de 19 de março de 1905, escrita no Juazeiro do Norte.

Jornal Sul do Ceará, p. 02

         No parágrafo nono, depois de fazer uma longa prédica firmado em princípios bíblicos, José Joaquim se contrapõe à opinião de um “articulista” (autor de artigos de jornal) que havia indicado 1829 como sendo o ano da fundação da Capela de Nossa Senhora das Dores.

Affirma o articulista ter sido fundada a Capella de N. S. das Dores no Joazeiro em 1829. Não é exacto; foi sentada a pedra principal a 15 de Setembro de 1827, havendo Missa cantada na casa de Oração pelo Padre Pedro Ribeiro Monteiro, assistida pelo Padre Joaquim Lima Verde, que cantou a Epistola, acolythado pelos siminaristas Antonio Pereira d’Oliveira Alencar José Alexandre Correia Arnaut, mais tarde aquelle Vigario de Lavras de Mangabeira, e este de Cabrobó, assistindo o acto o avô do celebrante, o Brigadeiro Leandro Bizerra Monteiro e seus filhos, Coronel Gonçalo Luiz Telles de Meneses, Capitão mór Joaquim Antonio Bezerra, Capitão José Geraldo Bezerra, e Capitão Manoel Leandro Bezerra de Menezes; inclusive o menor Pedro Lobo de Menezes tambem sobrinho do Brigadeiro, conhecido não só pela patente de Capitão como por ter dado de uma ves dez contos de réis ao Rm.o Ibiapina para construção da Casa de Caridade de Barbalha, afóra numeroso concurso de cavalheiros e senhoras.[7]   

            O termo “sentar a pedra principal” equivale a “lançar a pedra fundamental ou a pedra angular”, que, trocando em miúdos, significa iniciar, solenemente, a construção de uma obra. Ou seja, José Joaquim revela que, em 15 de setembro de 1827, a Capela de Nossa Senhora das Dores não existia, porém, foi o dia em que se tornou pública e oficial a decisão do seu soerguimento.  É lamentável que o informante não indique a fonte que serviu para embasar tal narrativa. Teria sido uma ata? José Joaquim presenciou o ato ou apenas recebeu esta informação diretamente da narrativa oral? O fato é que a data mencionada (15 de setembro de 1827) tem prevalecido em relação as demais.
         Portanto, como se percebe, ao longo do tempo, as opiniões sobre a data de início da construção da capela bem como sobre a época em que ela teria ficado pronta não são uníssonas. Conforme exposto, Raimundo Girão assevera que a capela em comento foi construída em 1827; Irineu, seguido por Joaryvar Macedo e Amália Xavier, respalda-se no depoimento de José Joaquim de Maria Lobo, o qual indica 15 de setembro de 1827 como marco para o início da edificação; enquanto o "articulista" do jornal Sul do Ceará já havia registrado 1829 como sendo o exato ano da fundação da Capela de Nossa Senhora das Dores.
         Diante das preciosas informações oferecidas, inclusive, por autores tão consagrados na historiografia cearense, seria incoerente tentar revolver a superfície deste objeto. Contudo, os livros da então Vila do Crato, datados de 1831, ajudam a entender melhor essas teses, fornecendo novos elementos sobre a fundação da Capela de Nossa Senhora das Dores, hoje, igreja matriz de Juazeiro do Norte.

3- Os Livros da Câmara da Vila do Crato

            Na câmara da vila cratense, em seção de 22 de fevereiro de 1831. José Victoriano Maciel (Presidente), Joaquim Ferreira Lima, Roque de Mendonça Barros, José Dias Azedo e Melo e Mariano José Rabelo, remeteram ao vice-presidente da província do Ceará, José de Castro Silva, uma correspondência, na qual tratavam de eleições para o cargo de juiz de paz da vila.
         Na época, a sede das eleições eram os templos religiosos. Daí, ao citarem a povoação de Juazeiro, revelaram que a capela de Nossa Senhora das Dores estava sendo construída e que, enquanto não era finalizada, o capelão praticava seus atos na “casa de oração”:

(...) capela da Senhora das Dores, que se está erigindo distante desta vila três léguas tem capelão encarregado da cura espiritual dos povos daquele distrito, pelo reverendo pároco desta freguesia em uma casa de oração e a grande influência dos povos daquele lugar tem feito com que na capela ereta muito breve se passa celebrar com decência (...).  

            Desta maneira, fica patente que a estrutura da Capela de Nossa Senhora das Dores não se encontrava pronta no ano de 1827, e, no de 1831, ainda estava em processo de construção, sendo que o padre Pedro Ribeiro, proprietário e fundador, nesse período, utilizava uma “casa de oração”, a qual, provavelmente, localizava-se dentro de sua residência ou em lugar próximo.
         Complementarmente, conforme o Doc. 02 (anexo: Correspondência da Câmara do Crato de 17 de março de 1831), a capela de Nossa Senhora das Dores, ainda em construção, era filial da Matriz de Nossa Senhora da Penha do Crato. Logo, presume-se que, se esta capela existisse desde 1827, seria possível encontrar referências aos respectivos atos sacramentais praticados em seu interior nos livros da freguesia de Nossa Senhora da Penha, os quais estão disponibilizados no site dos Mórmons. Mas isso não aconteceu, ou melhor, não se tem notícia de nenhum documento do tipo entre os anos de 1827 a 1830.
         No mais, foi um dos parentes do padre Pedro da Silva Ribeiro, José Geraldo, quem admitiu categoricamente que, na primeira metade de 1831, a Capela de Nossa Senhora das Dores ainda estava sendo erigida (anexo: Doc. 03 ‒ Correspondência de José Geraldo Bezerra de Menezes 24 de março de 1831):  

A Câmara desta vila tomou em consideração um requerimento que a ela foi feito em nome de várias pessoas do sítio das Porteiras [contra elas e o meu e de meus manos?] o coronel Gonçalo Luís Teles de Menezes e o tenente Manuel Leandro Bezerra [mandando-se?] proceder [a] eleição de juiz de paz para a capela de Nossa Senhora das Dores que se está erigindo no sítio do Juazeiro, distante desta vila do Crato três léguas, cujo (...).

            Ora, ao falar que a dita capela ainda “se está erigindo”, José Geraldo assegura que o referido templo não estava completamente construído, e, dessa maneira, não havia sido inaugurado, pois sequer havia sido feita eleição para juiz de paz desta capela. 

4- Testemunho do médico Francisco Freire Alemão

            Entre os anos de 1859 a 1861, dezenas de cientistas brasileiros estiveram perambulando pela então província do Ceará realizando estudos mineralógicos, etnográficos, botânicos, entre outros. Essa empreitada científica, enviada pelo Imperador Dom Pedro II, foi denominada de Comissão Científica de Exploração, à qual a gaiatice cearense rebatizou de Comissão das Borboletas (pelo fato de os cientistas coletarem estes insetos para estudos) ou Comissão Defloradora (em decorrência dos namoros e paqueras entres integrantes desta Comissão e as moças do Ceará).
         Nesse grupo de cientistas, encontrava-se o médico e botânico Francisco Freire Alemão, carioca que foi ao Ceará chefiando a Seção Botânica. O fato é que ele, ao longo dessa viagem, escreveu um diário no qual narra sua passagem por diversas localidades cearenses, incluindo a povoação do Juazeiro.
          Às 7 horas da noite do dia 7 de dezembro de 1859, Alemão, saindo de Missão Velha, entrou na então povoação de Juazeiro do Norte, que, segundo ele, era formada por gente branca e pobre: “como é quase tudo aqui pelo sertão”. Também narra que o vigário, vestindo batina e usando chapéu de dois bicos, foi ao seu encontro.
         Na manhã do dia seguinte, antes de Alemão se dirigir à cidade do Crato, foi se encontrar com o dito vigário na Igreja do Juazeiro, isto é, de Nossa Senhora das Dores. Chegando ao templo, reparou que esta encontrava-se inacabada, com as paredes internas sem reboco:

Levantamo-nos de manhã, vestimo-nos para entrar no Crato, quase no meio da gente da casa e das meninas com suas sainhas (depois do Icó, a maior parte da gente do povo e mesmo algumas senhoras em sua casa andam vestidas de saia, com camisas finas, transparentes, cheias de crivos, entremeios, rendas, babados etc. etc.). Fomos nos despedir do vigário, daí fomos à igreja, que já estava aberta: é grande, mas está ainda por dentro e por fora inteiramente nua, parecendo que nem emboçadas, estão as paredes.[8]          
    
            A pergunta que não quer calar é se a estrutura dessa igreja de Nossa Senhora das Dores, em 1859, era, originalmente, a mesma da época da capela, cuja construção teve início, supostamente, na década de 1827? Ao tempo da passagem de Alemão pelo Juazeiro, a estrutura teria sido modificada por meio de alguma reforma?
         Sabe-se que, em março de 1831, a capela encontrava-se inacabada. Logo, em 1859, no curto lapso temporal de 28 anos, não é crível que tivesse havido reforma significativa no templo mencionado, pois uma edificação desta natureza exigia muito tempo e dinheiro.
         Dessa forma, infere-se que, na segunda metade do século XIX, a capela, depois igreja, de Nossa senhora das Dores já funcionava plenamente, contudo, as obras estruturais ainda não haviam chegado ao fim. Isto não resolve o problema, mas auxilia no melhor entendimento sobre sua arquitetura e engenharia desta edificação sacra.

5- Conclusão

            O assunto concernente à data do início da construção da Capela de Nossa Senhora das Dores não está pacificado, pois existem diferentes indicações, 1827 e 1829, por exemplo. Ao lado disso, há quem afirme que o início das obras coincida com o início de seu funcionamento.
         Para tentar resolver o problema, seria necessário consultar os livros eclesiásticos em Pernambuco, a fim de encontrar algo relativo à licença de construção da capela. Também é oportuno fazer consulta criteriosa nos livros da Freguesia de Nossa Senhora da Penha, de Crato, para conhecer a data, nem que seja aproximada, em que a capela de Nossa Senhora das Dores entrou em funcionamento, batizando, casando, etc.        
         A princípio, pode parecer que o assunto não tenha importância, contudo, estamos falando da primeira capela edificada no território que, hoje, forma a cidade de Juazeiro do Norte, a Meca do Cariri. Tal construção possui importância não apenas por sua primazia, mas, também, por ser protagonista da fé crescente naquela urbe, por ter sido palco do “Milagre de Juazeiro”, bem como por ter emprestado seu nome, durante a guerra civil de 1914, à principal trincheira daquele lugar, o vitorioso “Círculo da Mãe das Dores”.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALEMÃO, Francisco Freire. Diário de Viagem de Francisco Freire Alemão. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2011.
ARAÚJO, Pe. Antônio Gomes de. Padre Pedro Ribeiro da Silva, O Fundador e Primeiro Capelão de Juazeiro do Norte. Crato-CE: Separata da Revista Itaytera, 1958.
GIRÃO, Raimundo. Os Municípios Cearenses e seus Distritos. Fortaleza: SUDEC, 1983.
MACEDO, Joaryvar. Temas Históricos Regionais. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1986.
OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu Conheci: Verdadeira História de Juazeiro do Norte. Fortaleza – Ceará: Editora Henriqueta Galeno, 1974.
PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza ‒ CE: Imprensa Universitária, 1963.

DOCUMENTOS:
Arquivo do Instituto Cultural do Cariri (ICC). Jornal Sul do Ceará. Ano V. Número 9. Crato: 16 de abril de 1905.
Arquivo Público do Estado do Ceará – APEC. Fundo: Câmara Municipal. Local: Crato. Data: 1830-1832. Série: Correspondência expedida.

ANEXOS:

Doc. 01: Correspondência da Câmara do Crato de 22 de fevereiro de 1831


Ilustríssimo e Excelentíssimo Vice Presidente
            Tendo o juiz de paz desta vila viajado para Piauí sem requisitar, e nem obter licença alguma, ficando assim paralisado um tão necessário, e melindroso expediente, tratou esta Câmara de proceder eleições na conformidade da lei sem atenção ao ofício de Vossa Excelência de 18 de dezembro de ano pretérito; para suplente do juiz da paz desta mesma vila tem passado ao que obteve a maioria de votos, o que se concluiu no no dia 20 do corrente. Nas mesmas circunstâncias se acha o círculo da povoação da Barbalha por ter se passado para diferente termo o suplente do juiz da dita povoação este ter requisitado, por vezes a esta Câmara, um suplente para substituir, pois se acha em aberto, e atendendo esta Câmara a justa requisição marcou o dia 27 do corrente para se proceder [fl. 01]


            Proceder na mesma capela a eleição com as formalidades da lei. Também participamos a Vossa Excelência que a capela da Senhora das Dores, que se está erigindo distante desta vila três léguas tem capelão encarregado da cura espiritual dos povos daquele distrito, pelo reverendo pároco desta freguesia em uma casa de oração e a grande influência dos povos daquele lugar tem feito com que na capela ereta muito breve se passa celebrar com decência, e sendo presente em Câmara uma requisição de vários cidadãos daquele lugar, e ponderando o quanto convinha ao bem público oração de um juiz de paz na sobredita capela, e convencendo-se esta Câmara da bem justa requisição deliberar que na conformidade das leis sobre este objeto, e Decreto [fl. 02]
            Decreto de 11 de setembro de 1830 se proceda à eleição na segunda dominga dom próximo futuro mês de março, sobre o que Vossa Excelência determinará o que for servido.
            Deus guarde a Vissa Excelência
            Vila do Crato em seção de 22 de fevereiro de 1831.
Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor José de Castro Silva Vice Presidente desta província.
            José Victoriano Maciel. Presidente
            Joaquim Ferreira Lima
            Roque de Mendonça Barros
            José Dias Azedo e Melo
            Mariano José Rabelo  [fl. 02v]    


Doc. 02: Correspondência da Câmara do Crato de 17 de março de 1831


Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Vice Presidente
            Em cumprimento: do ofício de Vossa Excelência de 18 de dezembro de 1830 informamos a Vossa Excelência que existem neste termo três capelas, Santo Antonio da Barbalha. Santana do Brejo Grande, e a capela da Nossa Senhora das Dores do Juazeiro; aquela filial da matriz de São José de Missão Velha, estas filiais desta matriz da Senhora da Penha da vila do Crato: todas tem capelão que administram os sacramentos com autoridade dos párocos: todas tem juiz de paz, a exceção da Capela da Senhora das Dores que no dia 13 do corrente é que foi eleito juiz de paz por ser curada, como já participamos a Vossa Excelência em sessão de 22 de fevereiro do ano corrente.
            Deus guarde.
a Vossa Excelência Vila do Crato em [fl. 01]


sessão de 17 de março de 1831.
IIlustríssimo e Excelentíssio Senhor José de Castro Silva Vice-presidente desta província.
José Victoriano Maciel. Presidente
José Dias Azedo e Melo
Roque de Mendonça Barros
Francisco Pereira Lobo de Menezes
Joaquim Ferreira Lima [fl. 02]


Doc. 03: Correspondência de José Geraldo Bezerra de Menezes 24 de março de 1831



A Câmara desta vila tomou em consideração um requerimento que a ela foi feito em nome de várias pessoas do sítio das Porteiras [contra elas e o meu e de meus manos?] o coronel Gonçalo Luís Teles de Menezes e o tenente Manuel Leandro Bezerra [mandando-se?] proceder [a] eleição de juiz de paz para a capela de Nossa Senhora das Dores que se está erigindo no sítio do Juazeiro, distante desta vila do Crato três léguas, cujo requerimento não foi por nós assinado e nem dele sabemos p.m contudo além desta capela não ser curada para ali se trazer juiz de paz como se vê da certidão junta, conforme dispõe a lei, ainda sim se procedeu a dita eleição no dia 13 de março como se vê da ata e [saí eu eleito?] juiz de paz e meu mano tenente Manuel Leandro Bezerra suplente, como da mesma ata se mostra a vai inclusa, e sendo nós ambos oficiados pela dita Câmara para tomarmos posse foi a mim conferida, e ao meu mano negada e logo fazendo eu requisitar a posse do meu suplente me foi dado um despacho que também remeto a Vossa Excelência já meus [fl. 01]


[incompleto] quiseram dar dita posse nem a ele [e nomeou outrem qualquer?] imediato e porque eu me vejo encarregado nas [palavra ilegível] dos dízimos [incompleto] jornais para meu Rei, e não posso deixar subir às juntas dos gados vacum e cavalar prontamente a Fazenda Pública [incompleto] logo foi por mim protestado embora para que me não fosse criminosa a falta nada digo foi capaz os convencer o que participo a Vossa Excelência para dar as ditas providências
Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor José de Castro Silva Presidente da Província do Ceará
[incompleto] 24 de março de 1831
Deus Guarde Vossa Excelência Sabd.o:
José Geraldo Bezerra de Menezes  [fl. 02]



Doc. 04: Ata de eleição para juiz de paz e suplentes da Capela de N. S. das Dores





(Esses docs foram encontrados por mim no Arquivo Público do Estado do Ceará – APEC. Fundo: Câmara Municipal. Local: Crato. Data: 1830-1832. Série: Correspondência expedida).



[1] GIRÃO, Raimundo. Os Municípios Cearenses e seus Distritos. Fortaleza: SUDEC, 1983, p. 124.
[2] ARAÚJO, Pe. Antônio Gomes de. Padre Pedro Ribeiro da Silva, O Fundador e Primeiro Capelão de Juazeiro do Norte. Crato-CE: Separata da Revista Itaytera, 1958, p. 10.
[3] GIRÃO, Raimundo. Op. cit., p. 124 e 125.
[4] PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza ‒ CE: Imprensa Universitária, 1963, p. 430 e 431.
[5] MACEDO, Joaryvar. Temas Históricos Regionais. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1986, p. 106.
[6] OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu Conheci: Verdadeira História de Juazeiro do Norte. Fortaleza – Ceará: Editora Henriqueta Galeno, 1974, p. 34.
[7] Arquivo do Instituto Cultural do Cariri (ICC). Jornal Sul do Ceará. Ano V. Número 9. Crato: 16 de abril de 1905, p. 02.
[8] ALEMÃO, Francisco Freire. Diário de Viagem de Francisco Freire Alemão. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2011, p. 159.

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