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quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Carta-patente do Sargento-mor Manoel Cabral de Vasconcelos


Projeto Dezessete e Setecentos: Documentos Raros sobre os Sertões do Ceará – Século XVIII
             
                                                                     Heitor Feitosa Macêdo
        
         No mês de outubro de 2019, fui contatado por um pesquisador chamado Michel (Mibson Michel Santiago Ramos) o qual procurava informações sobre a família Garro(s) da Câmara. Na verdade, andava ele no encalço de indivíduos que viveram no início do século XVIII no interior do Nordeste e que tiveram passagem pela capitania do Ceará.
         Michel, apesar de engenheiro, nutre grande entusiasmo pela pesquisa histórica, em especial, pela genealógica. Por certo, ele não é o único profissional liberal que sofre deste mal irremediável! Tendo eu a mesma paixão pela pesquisa, apesar de ser um advogado com banca mui modesta, resolvi tentar ajuda-lo nesta “empreitada”.
         Logo nos primeiros contatos, o dito engenheiro-genealogista me apresentou ao pesquisador Jorge Augusto Nascimento Nogueira de Sousa, carioca com sangue nordestino. Daí em diante, resolvemos “abrir dos peito” e escarafunchar nossos arquivos na tentativa comum de encontrar os benditos Garro(s). Frei de Jaboatão, Borges da Fonseca, Pedro Calmon, Barão de Studart e tantos outros clássicos da genealogia e da pesquisa histórica passaram pelo nosso crivo.
         Vagando pelos séculos transatos, nos deslocamos para os 1500, 1600 até esbarrar nos setecentos, sempre com muita sofreguidão de ter debaixo dos nossos olhos o tão desejado objeto de estudo. Impacientes, procuramos ajuda de algumas pessoas, contudo, as portas nos bateram às ventas. Apesar dos percalços, procuramos as alternativas possíveis, seguindo pistas tênues, quase apagadas nas sombras do tempo.       
         Há quem não acredite na força que possui a união humana para fazer o bem! Também há céticos que duvidam da paixão pela pesquisa, e a todo esforço ou boa ideia costumam atribuir valores pecuniários, sempre receosos de possíveis prejuízos financeiros ou com pavor da possibilidade de não poderem mais ser os arautos do ineditismo documental.
         Diante da desconfiança e do individualismo, de moto próprio e as nossas próprias expensas, resolvemos disponibilizar, gratuitamente, nossos achados, verdadeiros tesouros que repousavam em arquivos distantes dos sertões onde foram produzidos.
         Assim, apresentaremos ao público parte da primeira etapa deste esforço de digitalização e transcrição paleográfica de documentos referentes aos sertões cearenses dos idos de 1700, posto que a ciência histórica, antropológica, geográfica, arqueológica e outras pouco avançaram sobre os mistérios deste período. 
         Por último, cabe explicar que o nome que batiza este projeto “Dezessete e Setecentos” é inspirado no título e letra de uma das músicas cantadas por Luiz Gonzaga, tendo sido o termo mais apropriado para resumir o contexto de tudo que foi dito acima.           

Carta-patente do Sargento-mor Manoel Cabral de Vasconcelos

            Manoel Cabral de Vasconcelos é mais um personagem da história cearense escondido nas sombras do tempo. As informações compiladas sobre ele são mínimas.
         Segundo o Barão de Studart, Manoel Cabral de Vasconcelos era casado com uma filha de um dos homens mais poderosos da capitania do Ceará Grande, o coronel João da Fonseca Ferreira, o qual, além de grande latifundiário e fundador do Icó Velho ou Icó de Baixo, nas décadas de 1710 e 1720, ocupou o maior posto militar da Ribeira do Icó, isto é, um imenso território que ia do Arraial do Icó até os Cariris Novos.
         Manoel Cabral também obteve muitas terras no Ceará, entre os anos de 1716 e 1722, somando quatro datas de sesmarias, todas elas localizadas ao longo do Rio Salgado, entre o Icó e os Cariris Novos.

Peticionário
Localização
Dimensão
Data
Vol. e nº
Manuel Cabral de Vasconcelos
Rio Salgado: Riacho do Inferno, no serrote do Boqueirão (Lavras da Mangabeira?)
       5x1,5
     (léguas)
30/09/1716
10º - nº 39
Idem
Cimo e sopé da Chapada do Araripe, ficando no centro dessas terras a Lagoa Ossos, em Missão Velha
        3x1
      (léguas)
28/05/1722
11º - nº 28
Idem
Serra do Icó, olho d’Água das Cana Brabas; dote dado pelo sogro
      1x1
      2x1
   (léguas)
21/08/1722
11º - nº 51
        
         É justamente na sesmaria obtida no dia 21/08/1722 que há a informação sobre o grau de parentesco entre ele e o coronel João da Fonseca Ferreira, bem como se observa que, ao tempo, Manoel Cabral já havia sido promovido militarmente ao posto de capitão-mor das entradas:

Manoel Françes Capitão Mor da Capitania do .Ciara grande a cujo cargo está o governo della por Sua Magestade que Deos guarde ett.a Fasso Saber aos que esta minha carta de datta, de Retificação, e Sismaria virem que a mim me Reprezentou a dizer em sua petição por escrito o Capitão Mór das entradas Manoel Cabral de vasconcellos, que elle suplicante tem por doaçam de seu Sogro o coronel João da Foncequa frr.a por dotte de sua mulher, filha do dito; hum citio de terras que tem duas dattas que lhe conçedeo o Capitão Mayor gabriel da Silva do Lago, há, de húa Legoa em o Rio Jaguaribe ficando em meyo o Jaguaribe mirim, outra com duas Legoas pello dito Riacho Jaguaribe mirim asima, anbas com húa Legoa de largura meya pera cada banda, e como nas Ilhargas da dita data lhe fica junto da serra do Icô, hum olho de agua que lhe chamão das canas brabas (...).

            Conforme indica a carta-patente, objeto principal deste artigo, Manoel Cabral, no ano de 1719, deixou de ser tenente-coronel para ocupar o posto de sargento-mor da Ribeira dos Cariris Novos, no regimento comandado por seu sogro.
         Mas a importância maior deste documento não é apenas identificar a relação de poder durante a construção branca destes sertões, mas, também, revelar um dado inédito para a história do Sul do Ceará, pois, conforme se depreende, no referido espaço, no ano de 1719, os índios ainda ofereciam resistência armada. Ou seja, a “Guerra dos Bárbaros” continuava, corroborando minha tese de que o Cariri foi, ao redor da Chapada do Araripe, um dos últimos redutos de intensa resistência indígena à invasão branca, fato preponderante na sua formação territorial.
         Sobre este derradeiro aspecto, também se observa o uso da expressão “Cariris Novos”, antigo nome do Cariri cearense, que surgiu para diferenciá-lo do Cariri paraibano, ao sopé da Serra da Borborema. Analisando a documentação anterior a 1719, encontramos apenas os termos “Sertão dos Cariris” ou “Ribeira dos Cariris”. Logo, presume-se que esta seja a data aproximada em que o topônimo “Cariris Novos” passa a ser uma terminologia oficial.

Dados dos Documento

• carta-patente de oficial da Ordenança
• posto de sargento-mor da Ribeira dos Cariris Novos
• posto ocupado anteriormente: Tenente dos Cavalos de “uma Companhia”
• regimento: não foi dito
• anterior ocupante: não foi dito
• obrigação de confirmação: não foi dito
• lugar onde foi concedida: Fortaleza
• data: 05 de outubro de 1719
• autoridade concedente: capitão-mor do CE Salvador Alves da Silva

Transcrição Paleográfica


Registo dapatente doSarg.to mor da Ribeira/ dos Caryrys novos
Salvador Alz̓. da Sylva Cavaleiro profeço daordem denoso Snor/ JEzus christo capitaò mayor daCap.nia do Seará grande acujo cargo está/ ogoverno della por Sua Mag.e que Deos g.de etta. Faço Saber aos que/ esta carta patente virem q por quanto convem ao Serv.co de Sua Mag.de/ q Deos g.e pl bem de Seu Real Servico haver hum Sargento mor/ na Ribeyra dos Caryrys novos, p.a acudir as invazoins do inimigo que/ ahinda actualmente està presseguindo aquela Ribeira e este/ convir proversse em pecoa de satysfazao emiricimentos: tendo eu Respeito aq todos estes requizitos comcorrem napecoa do thenente/ Manuel Cabral de Vasconcelos, tanto por ser hum dos [fl. 01]


Dos homenis nobres eafazendado daquella Ribeyra, como pello bem q/ tem Servido aSua Mag.de nas guerras queSetem feito aoGentio barba/ ro Levantado, hindo muitas vezes por cabo das tropas afazerlhes guerra/ com Risco devida edispendio deSua fazenda, eter ocupado oposto [de] the-/ nente dos Cavallos de huá Companhia deq Seouve Sempre com [onrrado]/ procedimento, vallor, ezello do Rial Serviço [epor] esperar delle q daqui/ emdiante Seaverá da mesma maneyra emuyto como deve eConfiança/ q faço desua peçoa, epella nova ordem deSua Mag.de em esta de de-/ zassetedeDezembro demil eSeteSentos equinze aq.l medá fa-/ culdade p.a prover todos ozpostos das ordenanças militares desta/ Capitanya: Hey por bem deoleger, enomear (como pella prez.te/ elejo, enomeyo) noposto de Sargento mor daRebeira dos Caryrys/ novos p.a que como tal oseja uze exerssa, egoze detodas as honras,/ franquezas liberdades privilegios eexençois´ q em Razaó do posto/ lhetocarem, epor esta lhe ey dado aposse ejuramento pello [que]/ ordeno atodos os off.s eSoldados dad.a Ribeira dos Icos [palavra ilegível]/ Seus Subordinados conheçaõ aod.o Manoel Cabral de/ Vasconcelos pello tal Sargento mor, lheobedessam cum-/ pram, egoardem Suas ordeniz, tanto depalavra como por es-/ cripto tm pontual, einteiramente como devem, esam/ obrigados, q p.a firmeza detudo lhemandey passar aprezente/ por mim aSignada eSellada com oSignette deminhas ar/ mas aqual SeRegistarà nos Livros da Secretaria deste Go/ verno, enos mais aq tocar. Dada nesta fortaleza denosa Sr.a/ daASumpçaò aos Sinco dias domes de outubro: eeu Ma-/ noel de Miranda afis anno demil eSeteSentos edezanove/ Salvador Alz´ daSylva estava o Sello [fl. 02].    

(Imagens/Fonte: Biblioteca Nacional do Brasil).

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Carta-patente do Capitão Cosme Ferreira da Silva



Projeto Dezessete e Setecentos: Documentos Raros sobre os Sertões do Ceará – Século XVIII
             
                                                                              Heitor Feitosa Macêdo
        
         No mês de outubro de 2019, fui contatado por um pesquisador chamado Michel (Mibson Michel Santiago Ramos) o qual procurava informações sobre a família Garro(s) da Câmara. Na verdade, andava ele no encalço de indivíduos que viveram no início do século XVIII no interior do Nordeste e que tiveram passagem pela capitania do Ceará.
         Michel, apesar de engenheiro, nutre grande entusiasmo pela pesquisa histórica, em especial, pela genealógica. Por certo, ele não é o único profissional liberal que sofre deste mal irremediável! Tendo eu a mesma paixão pela pesquisa, apesar de ser um advogado com banca mui modesta, resolvi tentar ajuda-lo nesta “empreitada”.
         Logo nos primeiros contatos, o dito engenheiro-genealogista me apresentou ao pesquisador Jorge Augusto Nascimento Nogueira de Sousa, carioca com sangue nordestino. Daí em diante, resolvemos abrir dos peito e escarafunchar nossos arquivos na tentativa comum de encontrar os benditos Garro(s). Frei de Jaboatão, Borges da Fonseca, Pedro Calmon, Barão de Studart e tantos outros clássicos da genealogia e da pesquisa histórica passaram pelo nosso crivo.
         Vagando pelos séculos transatos, nos deslocamos para os 1500, 1600 até esbarrar nos setecentos, sempre com muita sofreguidão de ter debaixo dos nossos olhos o tão desejado objeto de estudo. Impacientes, procuramos ajuda de algumas pessoas, contudo, as portas nos bateram nas ventas. Apesar dos percalços, procuramos as alternativas possíveis, seguindo pistas tênues, quase apagadas nas sombras do tempo.       
         Há quem não acredite na força que possui a união humana para fazer o bem! Também há céticos que duvidam da paixão pela pesquisa, e a todo esforço ou boa ideia costumam atribuir valores pecuniários, sempre receosos de possíveis prejuízos financeiros ou com pavor da possibilidade de não poderem mais ser os arautos do ineditismo documental.
         Diante da desconfiança e do individualismo, de moto próprio e as nossas próprias expensas, resolvemos disponibilizar, gratuitamente, nossos achados, verdadeiros tesouros que repousavam em arquivos distantes dos sertões onde foram produzidos.
         Assim, apresentaremos ao público parte da primeira etapa deste esforço de digitalização e transcrição paleográfica de documentos referentes aos sertões cearenses dos idos de 1700, posto que a ciência histórica, antropológica, geográfica, arqueológica e outras pouco avançaram sobre os mistérios deste período. 
         Por último, cabe explicar que o nome que batiza este projeto “Dezessete e Setecentos” é inspirado no título e letra de uma das músicas cantadas por Luiz Gonzaga, tendo sido o termo mais apropriado para resumir o contexto de tudo que foi dito acima.           

Carta-patente do Capitão Cosme Ferreira da Silva
        
         Cosme Ferreira da Silva foi um dos grandes latifundiários da capitania do Ceará Grande, onde obteve quatro datas de sesmarias entre os sertões dos Inhamuns e Cariris Novos.  

Peticionário
Localização
Dimensão
Data
Vol e nº
Cosme Ferreira da Silva
Inhamuns
3x1
06/09/1717
5º - nº 359
idem
Riacho Quintirire
3x1
28/09/1707
5º - nº 246
idem
Rio Cariús e Bastiões
3x1
02/02/1717
10º - nº 49
idem
Rio Cariús e Bastiões
3x1
31/10/1730
12º - nº 13

         Segundo o monsenhor Francisco de Assis Couto, a atual cidade de Jucás/CE surgiu da fazenda São Mateus, a qual pertencia a Cosme Ferreira da Silva, justamente na sesmaria que havia peticionado no ano de 1707[1].
         Antonio Gomes de Freitas afirma que Cosme era irmão do sargento-mor Francisco Ferreira Pedrosa[2] (Ver: <http://estoriasehistoria-heitor.blogspot.com/2019/12/projetodezessete-e-setecentos_50.html>), o qual, por sua vez, era filho de Cosme Ferreira da Silva e Albuquerque, descendente de Antonio Cavalcante de Albuquerque[3].
         De acordo com o Monsenhor Couto, a esposa de Cosme Ferreira da Silva era Isabel Ferreira da Silva. Contudo, Antonio Gomes de Freitas considera que ela se chamava Isabel Maria de Melo e que, depois de viúva, teria casado com o coronel Francisco Alves Feitosa[4].        

Dados do Documento

• carta-patente de oficial da Ordenança
• posto de Capitão da Companhia dos Reformados do Quixelô e Inhamuns
• posto ocupado anteriormente: não foi dito
• regimento: não foi dito
• anterior ocupante: não foi dito
• obrigação de confirmação pelo governador de PE: prazo de 6 meses
• lugar onde foi concedida: Icó (Arraial de Nossa Senhora do Ó)
• data: 1º de julho de 1719  
• autoridade concedente: capitão-mor do CE Salvador Alves da Silva

Transcrição Paleográfica

          
Rezisto dapatente doCap.m dos Reformados/ Cosme Frr.a daSylva.
Salvador Salvador Alz. Da Sylva Cavaleiro profeço daordem denosso/ Snor̓. JEsus christo cap.m Mayor daCapitania doCearà g.de aCujo/ cargo està o governo della por Sua Mag.de q Deos g.de etta Faço sa/ ber aos q esta Carta patente virem que por quanto Seacha va-/ go oposto deCap.m daComp.a dos Reformados do Quixalo, e Inhamu/ e Comvir provello empecoa deSatisfacao emiricimentos tendo/ eu Respeito aq todos estes Requezitos ConcoRem napeçoa de-/ Cosme Frr.a da Sylva [este?] por ser hum dos hómenis nobres/ desta Capitania como pello bem q tem Servido aSua Mag.e q/ Deos g.e nesta mesma Capitania nas ocaziois q se lhe tem ofe-/ recido aServ.co dod.o Snor̓ acompanhando as tropas q tem sa [fl. 01]


Sahido afazer guerra ao Gentio Barbaro Levantado, e-/ hindo alguas vezes por cabo nas mesmas tropas com Risco devi-/ da, edespendio deSua fazenda, nas quais oCaziois [se?] ouve sempre/ com muyto grande vallor, ezello doRial Serv.co [mutilado] esperar delle/ q daqui emdiante Sehaverà [mutilado e permeado de tinta] como deve/ eConfiança q faço de Sua pecoa, epella nova ordem q tenho de Sua/ Mag.e em carta de dezassete deDezbr.o de mil e SeteCentos equinze/ naq.l medà faculdade p.a poder provir todos ospostos das ordenan-/ cas militares desta Capitania, Hey por bem deoeleger enomear (Co-/ mo pella prezente elejo enomeyo) noposto deCap.m daComp.a dos Refor/ mados da Ribr.a doQuixelo, e Inhamús, com oq gozarà de todas as on-/ Ras, graças, franquezas, Liberdades, privilegios preheminencias/ eexençois q em Razaò dod.o posto lhe pertensserem, doq.l poderà den-/ tro de seis mezes Requerer aConfirmaçaó, p.lo gov.or de Pern.co e por esta/ [Hey] dado aposse ejuram.to pello q ordeno aos off.s Soldados Seus/ Subordinados conheçaó ao d.o Cosme Frr.a da Sylva pello tal/ Cap.m eo onRem estimem, elheobedeçaó, cumpraó e goardem Sua/ ordenis tanto depalavra, Como por escrito, tam pontual e/ inteiram.te como devem, eSam obrigados ep.a firmeza de tudo/ lhemandey paçar aprez.te por mim aSignada eCellada com o-/ Signete de minhas armas aq.l Se rezistara nos Livros da Secret.a/ deste Governo, enos mais que tocar. Dada neste aRayal denossa/ Sr.a do Ho̓ no pr.o do mês de Julho, eeu Manoel de Miranda afis/ anno de mil esete Centos edezanove. Salvador Alz´ da Sylva/ estava oCello. [fl. 02]  

(Imagens/Fonte: Biblioteca Nacional do Brasil).




[1] COUTO, Mons. Francisco de Assis. Origens de São Mateus: sua formação sócio-eclesiástica. Crato: Empresa Gráfica LTDA, 1965, p. 17.
[2] FREITAS, Antônio Gomes de. Inhamuns: Terra e Homens. Fortaleza/CE: Editora Henriqueta Galeno, 1972, p. 91 e 162.
[3] Anotações de Antonio Gomes de Freitas. Disponível em: < https://institutoculturaldocariri.com.br/wp-content/uploads/2018/09/Colecao-Antonio-gomes-de-Freitas_Novo-Documento-2018-08-22-2_1-merged.pdf>. Acesso em 21 de dez. 2019, às 11h26min.
[4] FREITAS, Antônio Gomes de. Notas e Transcrições: Vários Artigos. Revista do Instituto do Ceará: Fortaleza: 1966, p. 279.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Carta-patente do tenente-coronel Gregório Martins Chaves





Projeto Dezessete e Setecentos: Documentos Raros sobre os Sertões do Ceará – Século XVIII
             
                                                                              Heitor Feitosa Macêdo
        
         No mês de outubro de 2019, fui contatado por um pesquisador chamado Michel (Mibson Michel Santiago Ramos) o qual procurava informações sobre a família Garro(s) da Câmara. Na verdade, andava ele no encalço de indivíduos que viveram no início do século XVIII no interior do Nordeste e que tiveram passagem pela capitania do Ceará.
         Michel, apesar de engenheiro, nutre grande entusiasmo pela pesquisa histórica, em especial, pela genealógica. Por certo, ele não é o único profissional liberal que sofre deste mal irremediável! Tendo eu a mesma paixão pela pesquisa, apesar de ser um advogado com banca mui modesta, resolvi tentar ajuda-lo nesta “empreitada”.
         Logo nos primeiros contatos, o dito engenheiro-genealogista me apresentou ao pesquisador Jorge Augusto Nascimento Nogueira de Sousa, carioca com sangue nordestino. Daí em diante, resolvemos “abrir dos peito” e escarafunchar nossos arquivos na tentativa comum de encontrar os benditos Garro(s). Frei de Jaboatão, Borges da Fonseca, Pedro Calmon, Barão de Studart e tantos outros clássicos da genealogia e da pesquisa histórica passaram pelo nosso crivo.
         Vagando pelos séculos transatos, nos deslocamos para os 1500, 1600 até esbarrar nos setecentos, sempre com muita sofreguidão de ter debaixo dos nossos olhos o tão desejado objeto de estudo. Impacientes, procuramos ajuda de algumas pessoas, contudo, as portas nos bateram às ventas. Apesar dos percalços, procuramos as alternativas possíveis, seguindo pistas tênues, quase apagadas nas sombras do tempo.       
         Há quem não acredite na força que possui a união humana para fazer o bem! Também há céticos que duvidam da paixão pela pesquisa, e a todo esforço ou boa ideia costumam atribuir valores pecuniários, sempre receosos de possíveis prejuízos financeiros ou com pavor da possibilidade de não poderem mais ser os arautos do ineditismo documental.
         Diante da desconfiança e do individualismo, de moto próprio e as nossas próprias expensas, resolvemos disponibilizar, gratuitamente, nossos achados, verdadeiros tesouros que repousavam em arquivos distantes dos sertões onde foram produzidos.
         Assim, apresentaremos ao público parte da primeira etapa deste esforço de digitalização e transcrição paleográfica de documentos referentes aos sertões cearenses dos idos de 1700, posto que a ciência histórica, antropológica, geográfica, arqueológica e outras pouco avançaram sobre os mistérios deste período.  
         Por último, cabe explicar que o nome que batiza este projeto “Dezessete e Setecentos” é inspirado no título e letra de uma das músicas cantadas por Luiz Gonzaga, tendo sido o termo mais apropriado para resumir o contexto de tudo que foi dito acima.            

Carta-patente do tenente-coronel Gregório Martins Chaves

            Pouco se conhece sobre Gregório Martins Chaves. Porém, pelo sobrenome bem como por outros documentos, é possível deduzir que fosse parente próximo dos Araújo Chaves e dos Feitosa, oriundos das margens do Rio de São Francisco, Penedo/AL e Porto da Folha/SE.
         A análise da documentação sesmarial aponta que Gregório Martins Chaves foi um dos grandes latifundiários da capitania do Ceará, tendo adquirido quatro datas de sesmarias nos Rios Cariús e Bastiões, entre os sertões dos Cariris Novos e Inhamuns.
         Em agosto de 1717, obteve três datas de sesmarias, uma no Riacho dos Caldeirões (nas testadas de Lourenço Alves Feitosa); outra, no Riacho dos Cajás, que fazia barra no Rio Cariús; e a terceira numa vertente entre o Rio Cariú e o Rio Salgado, vizinho à Serra do Cariri (Chapada do Araripe). A quarta data de sesmaria foi adquirida em agosto de 1721, também no Riacho dos Caldeirões.
         O ano de 1719 parece ter sido bastante proveitoso para Manoel Martins Chaves, pois, em 30 de junho, em Icó, recebeu uma provisão do governador Salvador Alves da Silva para ser administrador dos Tapuios Quixelôs.
         Porém, na segunda metade 1724, foi morto nos conflitos da guerra civil deflagrada no Cariri, na qual lutavam muitas famílias, Montes, Mendes Lobato, Feitosa, Fonseca Ferreira, e outras (Ver Revista Itaytera, nº 48, p. 104).

Dados dos Documento

• carta-patente de oficial da Ordenança
• posto de tenente-coronel da Cavalaria da Ribeira do Quixelô e Inhamuns
• regimento do coronel Francisco Alves Feitosa
• anterior ocupante: não foi dito
• obrigação de confirmação: não foi dito
• lugar onde foi concedida: Icó (Arraial de Nossa Senhora do Ó)
• data: 29 de junho de 1719
• autoridade concedente: capitão-mor do CE Salvador Alves da Silva

Transcrição Paleográfica
  


Rezisto dapatente do ThenenteCoronel/ Gregorio Miz´ Chaves eta
Salvador Alz´ daSylva Cavaleiro profeço daordem de-/ nosso Snor̓ Jezus christo cap.m mayor daCapitanya do Ceara/ grande aCujo cargo està ogoverno della por Sua Mag.de que/ Deos g.de etta. Faço Saber aos q esta carta patente virem que/ porquanto seacha vago oposto deThen.te Coronel [da]/ cavalaria da Ribr.a do Quixelo eInhamús do Regimento [fl. 01]


de que he Coronel Fran.co Alz Feitoza econvir provello/ empessoa desatisfaçao̓ emericimentos tendo eu Respeito/ aque todos estes Requizitos concoRem napeçoa de Grego-/ rio Miz̓ Chaves pello bem q tem servido a Sua Mag.de/ que Deos g.de nesta Capitania nas ocaziois que Se lhe tem/ offereçido doServiço dod.o Snor´. acompanhando as tropas q/ tem sahido afazer guerra aogentio barbaro Levantado/ ehindo muitas vezes per cabo delles com muito grande/ Risco devida edespendio deSua fazenda nas quais/ oCaziois Seouve sempre com mto grande valor ezello/ do Real Serv.co tendo ocupado oposto deThenente com/ o qual Seouve Sempre com honRado procedimento epor/ esperar delle que daqui emdiante Seaverà da mesma/ maneira, emuyto Como deve eConfiança q faço deSua/ pessoa, epella nova ordem q tenho deSua Mag.de emcarta/ deDezassete deDezbr.o demil esete Centos equinze em/ que medà faculdade p.a poder prover todos ospostos/ das ordenanças militares desta capitania: Hey/ por bem deoeleger enomear (Como pella prezente e-/ lejo, enomeyo) noposto deThenenteCoronel daCava-/ Laria daRibr.a do Quixallo eInhamù do Regimento deq/ heCoronel Fran.co Alz̓ Feitoza comoq.l gozara de/ todas as onRas graças franquezas Liberdades previlegios/ eexençois q em Razaõ dod.o posto lhepertensserem; pello/ que ordeno ao d.o Coronel lhede aposse ejuram.to nafor-/ ma Custumada, eaos off.s eSoldados Seus Subordinados/ Conhecaõ aod.o Gregorio Miz´ chaves por tal Then.te Coro/ nel elheobedessam cumpraó egoardem suas ord[ens]/ tanto depalavra como por escrito tam pontual, ein/ teiramente como devem, eSam obrigados que para/ firmeza daql: lhemandei passar aprezente por mim aSig-/ nada eCellada com oSignete deminhas armas aq.l Se-/ rezistarà nos Livros da Secret. deste governo enos [fl. 02]


enosmais aque tocar e dada neste ARayal/ denossa Snr.a do Ò aos vinte enove dias domes de Junho/ eeu Manoel de Miranda afis anno de mil eSete/ Centos edezanove. Salvador Alz´ da Sylva estava/ oCello [fl. 03]   

(Imagens/Fonte: Biblioteca Nacional do Brasil).