Páginas

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A Fortuna do Visconde do Icó


             A Fortuna do Visconde do Icó
                                                           
                                                  Autor: Eneas Braga Fernandes Vieira
                                                 Postado por: Heitor Feitosa Macêdo
            
Francisco Fernandes Vieira (Visconde do Icó).
          Desde criança que ouvi falar do Visconde do Icó, no tempo e no espaço, sem dúvida, o filho mais ilustre de Saboeiro. E como não entendia , naturalmente, de heráldica e de patentes, jamais, àquele tempo, pude atinar para o significado daquele título e muito menos para o valor de quem o detinha.
         Os ramos genealógicos de Saboeiro pertencem à mesma árvore familiar, Costa, Bastos, Fernandes Vieira, Lima, Campos, Moreira e Tavares, conhecida pela alcunha de Carcará. Assim os apelidos Braga, Cândido Santos, Silva e outros se originaram do casal Manoel da Rocha Franco e Maria Sanches de Carvalho.
         Ainda nos bancos de colégio, a figura do Visconde do Icó não me havia despertado nenhuma curiosidade. Foi somente na Universidade que ele me chamou a atenção. Já andava pesquisando a história de minha terra natal: Saboeiro.
         O Visconde do Icó se chamou Francisco Fernandes Vieira e era filho do português de São Martinho de Galegos, Portugal, João Batista Vieira, e de Antônia de Oliveira, cearense do Icó, filha de Antônia Franco de Carvalho, um dos sete irmãos de que falam as crônicas saboeirenses, natural de Itamaracá, e do Português Joaquim de Oliveira Bastos. Casou-se o Visconde com Ana Angélica, filha de Manoel da Costa Braga e Maria Rodrigues de Lima.
         No começo de sua vida, o Visconde era pobre. A fortuna lhe chegou pelas mãos da ajuda. Com alguns dobrões que o cunhado Manoel Braga da Costa lhe arranjou, ele arrematava os dízimos arrecadados. O tesouro público não se interessava muito pelos produtos da lavoura e da pecuária e sim pelo dinheiro em espécie já que o Ceará não lhe dava ouro e prata.
         Assim, em breve bem aquinhoado, estabelecido com fazendas de gado. E, a par de sua riqueza, foi galgando os cargos públicos, os postos militares e administrativos.
         Francisco Fernandes Vieira recebeu as Patentes de Capitão da 3ª Companhia das Ordenanças de São João do Príncipe (Tauá), de Sargento-Mor, de Major de Cavalaria Ligeira nº 32 de 2ª Linha do Exército, de Comandante Superior  das Guardas Nacionais de Icó, Crato e Inhamuns, de Coronel Comandante das Guardas Nacionais de Icó, São João do Príncipe e São Mateus (Jucás), de Major de 2ª Linha, os títulos de Subdelegado e 1º Suplente de Delegado de Saboeiro, de Barão e de Visconde (sem grandeza) do Icó.
         Não se sabe porque estes títulos nobiliárquicos foram ligados ao Icó. Poderiam ter sido a São Mateus, São João do Príncipe ou mesmo a Saboeiro, lugar onde ele sempre viveu.
         Foi ainda agraciado com a comenda da Ordem do Cruzeiro na categoria de Oficial. Foi menbro do Governo Temporário do Icó. Consegui se eleger Deputado, pelo Ceará, em várias legislaturas. Compareceu à Assembleia Provincial uma só vez e esta para dizer que não podia participar dos trabalhos legislativos.
         Viveu setenta e oito anos. Morreu de uma inflamação no estômago. Conseguiu uma fortuna simplesmente grande. Deixou testamento, no qual expressou a sua última vontade e disposições elegendo três filhos como testamenteiros. O testamento foi lavrado em sua fazenda Santo Antônio perante o Tabelião Interino Albuquerque Cavalcante em 16 de abril de 1858.
         Os autos de inventário e partilha dos bens do Visconde do Icó foram extraviados do cartório de Saboeiro. No entanto, existe o processado dos bens com que faleceu a sua esposa, Ana Angélica Fernandes Vieira. Eles eram casados pelo regime comunal. Por esta fonte se pode saber exatamente a fortuna dos Visconde, pois a esposa fora uma moça pobre e analfabeta, e o que o casal adquiriu foi, naturalmente, por intermédio do cônjuge varão.
         Foi esta a riqueza do Visconde do Icó.
1) Bens móveis:
Dinheiro.........................................................................................93:426$631
Ação: 50 ações do Banco de Pernambuco.....................................5:000$000
Estes bens eram chamados, àquele tempo de móveis.

2) Semoventes:
Touros - 380 - avaliados em ..........................................................12:200$000
Bois - 2.736 - avaliados em............................................................98:000$000
Novilhotes - 1.077 - avaliados em...................................................21:500$000
Garrotes - 1.155 - avaliados em......................................................16:310$000
Garrotões - 400 - avaliados em.......................................................12:200$000
Poltros - 210 - avaliados em...........................................................10:500$000
Burros - 65 - avaliados em..............................................................6:900$000
Cavalos (reprodutores) - 50 - avaliados em ....................................3:000$000
Jumentos - 17 - avaliados em..........................................................2:040$000
Vacas - 5.750 - avaliadas em..........................................................143:750$000
Novilhotas - 954 - avalaidas em......................................................15:424$000
Garrotas - 835 - avaliadas em.........................................................24:000$000
Poltras - 370 - avaliadas em............................................................12:500$000
Éguas - 900 - avaliadas em..............................................................45:000$000
Burras - 07 - avaliadas em...............................................................420$000
TOTAL - 14.906 animais - avaliados em.....................................421:564$000

3) Escravos:
Homens - 21 - avaliados em..........................................................14:850$000
Meninos - 09 - avaliados em..........................................................3:100$000
Mulheres - 09 - avaliadas em.........................................................6:500$000
Meninas - 04 - avaliadas em..........................................................1:100$000
TOTAL - 43 escravos avaliados em..........................................25:550$000

4) Propriedades Rurais:
Em Marvão Piauí:
Os Sítios Espírito Santo e Estrada Velha.
- avaliados em................................................................................2:800$000
Em Crateús:
Os Sítios Barra, Joazeiro, Vaca Preta, Estreito, Lontras, Santo Antônio, Rosário, Riacho do Mato, Serrote, São Luiz, Currais Velhos, Feijão, Marinheiro, Maravilha e Pelor.
- avaliados em................................................................................35:000$000
Em Independência:
Os Sítios Ipueiras, Santa Quitéria, Ponta da Serra, São Gonçalo e Logradouro.
- avaliados em................................................................................3:600$000
Em Tamboril:
Os Sítios Oiticica, Lagoa Arapuás e Pajeú
- avaliados em................................................................................14:500$000
Em Ipu, Nova Russas e Mombaça, respectivamente os Sítios:
Mulungu, Morro e Capitão-Mor
- avaliados em................................................................................5:150$000
Em Tauá:
Os Sítios São Gonçalo, São José, Campo Grande, Feijão, Santa Tereza, Santo Antônio, Conceição, Cacimbas, Cajueiro, Bom Jesus, Belém de Dentro, Tecelão, Carrapateira, Joá, Boqueirão, Ribeiro, S. Gonçalo, Condadu, Cajueiro (2º), Poço Redondo e Poço.
- avaliados em................................................................................23:460$000
Em Saboeiro:
SANTO ANTÔNIO (onde ele sempre viveu), Prazeres, São José, Xique-Xique, Caiçara, Santa Maria, Queimada, São Julião, (Serra de), Cana Brava, lagoinha, Entre-Serras, MOCAMBO (hoje cidade de Antonina do Norte), Logradouro, Carvalho, Rancharia, São José (2º), Barra da Serra, Várzea da Serra, Pilar, Genipapeiro, Besouro, Serra do Góis, Conceição, Batalhas, Angicos, São José, Muicutu, Barra, Cobote, Olho d'Água do Frade, Seridozinho, Lagoa (3 partes), Viração, São Pedro, Lucas, Ligeiro. Caiçara, Tapera e Patomante.
- avaliados em................................................................................83:950$000
TOTAL: 95 propriedades
- avaliadas em..............................................................................168:460$000

5) Residências:
Sete (7) casas residenciais, em Saboeiro, localizadas na Rua Grande,hoje Visconde do Icó.
- avaliadas em................................................................................5:275$000

6) Dívidas Ativas:
Vários credores, totalizando um débito de.......................................74:774$385

7) Dívidas Passivas......................................................................6:745$936
         
       A maior quantidade de animais era representada pelas vacas e pelos bois, os famosos bois dos Inhamuns que ele mandava vender nas feiras de Goiana. O menor número era de burras, apenas sete. A propriedade mais valorizada era a denominada Muicutu avaliada em doze contos de réis e a de menor importância era uma das partes do Sítio Lagoa: cinquenta mil réis. Ambas ficavam em Saboeiro.
         O total de sua fortuna foi avaliado em 787:304$080 ou sejam: setecentos e oitenta e sete contos, trezentos e quatro mil e oitenta réis.
         Quanto valia hoje???


(in BOLETIM DO INSTITUTO CULTURAL DO VALE CARIRIENSE, JUAZEIRO DO NORTE, ANO-1976, Nº 3)
                    




           

12 comentários:

  1. Parabéns! Sou tataraneto deste bosta e ele nunca deixou-me nada que prestasse. Só as dívidas.

    ResponderExcluir
  2. É lamentável. Ainda vi um par de estribos caçamba em metal amarelo na casa de um dos descendentes dele. Uma relíquia que basta como herança a qualquer um. Pena que tiveram um destino um destino imerecido! Um abraço cordial, Brunex92!

    ResponderExcluir
  3. Amigo, não sei se a minha pergunta chegou na primeira tentativa mas então faço novamente.
    Li em um livro que Gonçalo Batista Vieira e Miguel Fernandes Vieira (filho do Visconde de Icó) eram primos, mas não consegui encontrar relação alguma entre os dois através da família do Visconde. Qual a relação, além de sogro-genro, entre Visconde de Icó e Barão de Aquiraz e por quem?
    Desde já agradeço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Francisco Fernandes Vieira (Visconde do Ico) era irmao do pai do Barão de Aquiraz - Gonçalo Baptista Vieira. Também chamava-se de Gonçalo Baptista Vieira (Capitão -Mor). Eu descendo de uma irmã de ambos: Maria Santana de Carvalho Vieira que era casada com Manoel Gonçalves da Silva.

      Excluir
    2. Boa noite Rocildo, obrigado pela info, só consegui ler hoje. Esta info eu já possuía, consegui com um livro no Google pois em alguns lugares o nome do pai do Barão se confundia com o filho. Gostaria de receber, se possível, a sua árvore, pois trabalho no site geni.com para poder completar a minha, principalmente dos antescendentes do meu trisavô Alexandre Bomfim. Envie-me um mail para conversarmos vandehugo @ gmail com.

      Excluir
  4. Vandehugo, acredito que sua primeira pergunta não tenha chegado até mim. Eu queria poder ajudar, mas não conheço nada sobre a genealogia dos Carcarás que vá além deste artigo do Eneas Braga Fernandes Vieira. Mas posso te indicar pessoas capazes de responder: Major Lobo, George Ney e Padre Roserlândio. Os dois últimos são meus amigos na página do facebook. Meu email é heitorfeitosa82@hotmail.com. Um forte abraço!

    ResponderExcluir
  5. Boa noite Heitor, em uma busca, agora mesmo, encontrei uma referência de que o pai do barão de Aquiraz e o Visconde de Icó eram irmãos, pode ser lido aqui:

    https://play.google.com/books/reader?id=jfJgAAAAcAAJ&printsec=frontcover&output=reader&hl=pt_BR&pg=GBS.PA157

    ResponderExcluir
  6. Boa Tarde!
    Teria algum texto sobre a família Caracas, e sobre sua relação com a família Carcará.
    Grata.

    ResponderExcluir
  7. Sou parente também. Pela minha árvore (não sei se está correta), a mãe do meu avô (Anna de Lagos Bastos Vieira) é filha de 2 netos dele (Gonçalo de Lagos Fernandes e Anna Angélica Baptista).

    ResponderExcluir
  8. “Quanto valia hoje???”


    Olá Heitor tudo bem. Não vou deixar o Enéas Braga sem resposta.

    Em meados do Século XIX um trabalhador rural recebia diária de $240 (duzentos e quarenta réis).

    Retiremos 04 (quatro) domingos no mês e teríamos assim uma média bastante aproximada do valor de 01 (um) salário mínimo, sendo: $240 x 26 = 6$240 (Seis mil duzentos e quarenta réis).

    O Salário mínimo atual R$1.100,00 (Um mil e cem reais) = 6$240 (Seis mil duzentos e quarenta réis).

    Sendo a fortuna desse meu ascendente carcará 787:304$080 (Setecentos e oitenta e sete contos, trezentos e quatro mil e oitenta réis) equivaleriam a 126.172 salários mínimos vigentes (R$1.100,00 2021).

    O hectare de criar (terra nua) no sertão central naqueles idos custava $137 (Cento e trinta e sete réis).

    Média dos valores dos aluguéis mensais casas na nas Vilas e Povoações = 2$000 (Dois mil réis) mensais. Gastos com vestuário vinte mil réis anuais. (Dados de 1856).

    Portanto, irrisória a fortuna do Visconde do Icó se comparada aos dos políticos da dinastia da Caiçara que vem garroteando o Ceará por mais de um quarto de século.

    ResponderExcluir
  9. Miguel Fernandes Vieira e Silva , meu avô,foi tabelião em Maranguape e diziam ser filho de um filho do Visconde.Será verdade?

    ResponderExcluir